sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"Nossa religião também foi sequestrada", diz líder islâmico sobre o 11/9

Uma década depois dos ataques que mataram quase 3 mil pessoas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, os muçulmanos que vivem no país ainda enfrentam o desafio de apagar a imagem negativa sobre sua religião.

"A nossa religião também foi sequestrada naquele dia", disse à BBC Brasil o paquistanês Naseem Mahdi, vice-presidente da organização islâmica Ahmadyya Muslim Community nos Estados Unidos.

Os atentados foram realizados por extremistas islâmicos ligados à rede Al-Qaeda, que sequestraram os dois aviões que atingiram as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, além de um terceiro avião que se chocou contra o Pentágono, em Washington, e a aeronave que caiu em Shanksville, na Pensilvânia. "A maioria dos americanos foi apresentada ao Islã dez anos atrás, no dia 11 de setembro. E foi o pior tipo de apresentação, feita pelo pior tipo de gente e nas piores condições", afirma Mahdi.

Segundo Mahdi, a comunidade passou a sofrer com a desconfiança de vizinhos, colegas e da sociedade em geral, além de, em alguns casos, ser alvo inclusive de episódios de violência. “Os ataques mudaram a vida dos muçulmanos que vivem nos Estados Unidos, e isso pode ser sentido diariamente. Muitos americanos pensam que todos os muçulmanos são um bando de terroristas”, diz Mahdi. "Quando você fala com as pessoas, tem a sensação de que elas não confiam em você. E elas carregam sempre a desconfiança de que você pode ser um terrorista, ou ter conexões com terroristas", acrescenta ele.

Pesquisas recentes indicam que a sensação de desconfiança e desconforto por parte dos americanos que Mahdi diz sentir é visível em todo o país. Segundo levantamento divulgado nesta semana pelo Public Religion Research Institute, em conjunto com o Brookings Institution, em Washington, 47% dos americanos acreditam que os valores muçulmanos são incompatíveis com o modo de vida americano. A pesquisa revela que 48% dos americanos se sentem desconfortáveis diante de mulheres muçulmanas usando a burca, 46% não ficariam confortáveis com a construção de uma mesquita perto de suas casas. Outros 41% não se sentem confortáveis com a ideia de professores muçulmanos lecionando no Ensino Fundamental, e 30% acreditam que os muçulmanos que vivem nos Estados Unidos querem estabelecer a sharia (código de leis do islamismo).

Outro fator a prejudicar a imagem da religião e causar confusão, segundo Mahdi, são os casos de muçulmanos nos Estados Unidos que acabam sendo cooptados pelo terrorismo. Ele cita o episódio envolvendo o americano de origem paquistanesa Faizal Shahzad, preso após planejar explodir um carro-bomba na região de Times Square, em Nova York, no ano passado. "Ele é paquistanês, vem de uma boa família, aparentemente levava uma vida pacata. E de repente se transformou em um terrorista e queria destruir Times Square. Isso confunde as pessoas", afirma.

Para marcar os dez anos dos atentados, a organização liderada por Mahdi realiza uma campanha de doação de sangue durante todo o mês de setembro.

[Acho que os muçulmanos, não só os que vivem nos EUA como fora dele, terão que fazer um esforço gigantesco para apagar a péssima e assustadora impressão causada pelos incontáveis e sangrentos atentados feitos "em nome de Alá" -- com ou sem aspas].

Naseem Mahdi diz que ataques de 11/9 mudaram a vida dos muçulmanos que vivem nos EUA (Foto: Ahmadyya Times).

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