Para nós brasileiros, que temos o problema da habitação como uma das pragas crônicas que nos afligem, juntamente com educação, saúde e saneamento básico, penso ser oportuno e importante ler o texto abaixo, que traduzi do artigo publicado no prestigioso jornal inglês The Independent no dia 8 deste mês -- é um artigo do editor político do jornal, Andrew Grice. Os jornais ingleses são para nós confusos, porque ora falam em Grã-Bretanha (Great Britain) ou simplesmente Bretanha (Britain) -- que abrange Inglaterra, Escócia e País de Gales -- ora mencionam indistintamente Reino Unido (United Kingdom), que é a Grã-Bretanha acrescida da Irlanda do Norte. Esse artigo do The Independent é típico -- o título se refere a "Reino Unido", mas logo na primeira linha a referência é à Grã-Bretanha. Quase sempre, no fundo, trata-se de fato da Inglaterra.
As condições habitacionais na Grã-Bretanha estão entre as piores da Europa Ocidental, e custam à nação cerca de 7 bilhões de libras por ano (mais de 11 bilhões de dólares/ano) por pressionar adicionalmente o NHS - National Health Service (Serviço Nacional de Saúde) e outros serviços públicos, de acordo com um importante estudo a ser publicado hoje (08/9).
Uma equipe de especialistas em habitação -- chamada de Aliança Pró-Habitação (Pro-Housing Alliance, em inglês - que abreviei para APH) alerta que a falta de habitações acessíveis e decentes, os cortes nos orçamentos das agências ou órgãos habitacionais locais, e as reformas de benefícios do Governo de Coalizão estão criando uma situação de "penúria, miséria e má saúde" para algumas das pessoas mais vulneráveis do país. Ela alerta também que a falta de teto (habitação) está crescendo, e prevê o retorno de senhorios inescrupulosos. Quase 4.000 pessoas estão dormindo em más condições nas ruas de Londres, um aumento de 8% em relação ao ano passado. Cerca de metade delas é do Reino Unido, e os demais vêm de uma grande variedade de países, especialmente da Polônia. O relatório diz que há pouca esperança de que seja atingido o objetivo do prefeito de Londres, Boris Johnson, de acabar com essa situação no ano que vem.
A APH insiste em que a Coalizão abandone seus planos de cortar benefícios para a habitação, alertando que isso causará condições de penúria severas decorrentes de problemas de saúde físicos e mentais, associados com (problemas de) dívidas, pobreza, relocações forçadas, e riscos de saúde aumentados devidos a superpopulação.
O programa detalhado atual recomenda que a crise habitacional seja atacada com a provisão de 500.000 casas e apartamentos ecológicos e acessíveis por ano, pelos próximos 7 anos, incluindo a reutilização de casas hoje vazias. Essa proposta deverá esquentar o debate sobre os controvertidos planos do governo de otimizar suas leis de planejamento. Grupos ambientais receiam que isso resulte em milhares de casas sendo construídas no Cinturão Verde. No dia 7 de setembro, a National Trust (uma organização de proteção de lugares especiais no Reino Unido) se reuniu com Greg Clark, o ministro de Planejamento, instando-o a repensar suas ideias.
O primeiro-ministro David Cameron disse no dia 7/9 a membros do Parlamento que "o índice de construção de casas é muito baixo neste país, e é chocante a estatística de que o comprador típico de sua primeira casa está na casa dos 30 e poucos anos. Necessitamos portanto mudar -- temos que construir mais casas".
O relatório do dia 8 diz que a crise é mais aguda em Londres, onde os custos habitacionais são 50% maiores e os custos de atendimento/cuidados infantis são muito maiores que no resto do país. Espera-se, para os próximos 25 anos, um aumento de 30.000 a 34.000 famílias por ano na capital, grande parte delas formada por uma só pessoa.
O número de famílias na lista de espera em Londres dobrou para 362.000 entre 1997 e 2010 -- e responde agora por mais de 20% da lista de espera de todo o país. Ainda assim, mais de 6.000 casas construídas pela administração pública estão vazias em Londres, cerca de um terço delas porque necessitam de reparos, com mais de 2.300 ficando por mais de um ano sem inquilinos.
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