quinta-feira, 26 de maio de 2011

Conhecendo melhor a Foxconn, que promete "fabricar" iPads no Brasil

Um dos resultados mais alardeados pelo governo da recente viagem da presidente Dilma à China foi a promessa da empresa Foxconn de "fabricar" (o termo correto é "montar") iPads no Brasil a partir de novembro deste ano. É interessante observar que Dilma visitou a República Popular da China e a Foxconn é uma empresa da República da China, mais comumente conhecida como Formosa ou Taiwan, mas tem suas principais fábricas na China continental. Como frisei, o que a Foxconn fará na realidade no país será a montagem de iPads, o que eventualmente poderá nos trazer divisas de exportação para a América do Sul ou América Latina mas nos dará zero de tecnologia.

A Foxconn, que fabrica produtos para a Apple e outras empresas ocidentais, é considerada uma empresa de pouco se abrir para terceiros -- em 2010, ela atraiu uma publicidade indesejada por causa do suicídio de 13 de empregados de sua fábrica em Shenzen, na China. É conhecida por impor rígidas regras de disciplina aos seus empregados, e isto é considerado como uma das possíveis causas daqueles suicídios -- na época se falou de terríveis condições de trabalho em Shenzen.

A revista Spiegel Online visitou a fábrica da Foxconn em Chengdu, para verificar se as condições de trabalho haviam melhorado. "Somos proibidos de conversar enquanto trabalhamos", diz uma jovem de 19 anos que trabalha no controle de qualidade de caixas de iPad. Perguntada se se aborrecia com essas regras rígidas ela respondeu "Trabalho é trabalho, o resto é o resto", sacudindo os ombros. Ela disse temer os chefes de turma, "eles não nos respeitam" diz ela, acrescentando que colegas seus foram punidos por pequenos erros e obrigado a ficar de pé entre as linhas de produçao para serem vistos por todos, como se estivessem num pelourinho. "Ordem e obediência são regras dominantes aqui", diz ela.


Duas horas extras são obrigatórias cada dia, o que perfaz quase 20 horas extras por semana (trabalha-se de segunda a sábado) e quase 80 horas extras por mês. Essa carga horária é padrão na fábrica da Foxconn em Chengdu, embora a legislação trabalhista chinesa permita apenas 36 horas extras por mês. "A carga de horas extras da Foxconn frequentemente excede o limite legal em mais de 100%", diz Chan Sze Wan, de uma associação de operários, sem fins lucrativos, baseada em Hong Kong. Uma pesquisa realizada com 1.726 operários da empresa (que tem 937.000 empregados) assegura que a Foxconn se "esquece" de pagar essas horas extras, obriga seus empregados a trabalhar mais de oito horas diárias, e fornece atestados médicos falsos àqueles obrigados a trabalhar com substâncias perigosas. Essa pesquisa afirma também que mais de 16% dos empregados havia sofrido violência física por parte de agentes da empresa.



O complexo de fábricas da Foxconn em Shenzen é uma verdadeira cidade, com vários km² de área e cerca de 400 mil trabalhadores (!). No passado, eram proibidas as visitas a esse complexo, mas depois dos suicídios de 2010 as visitas agora são permitidas, numa tentativa para melhorar a imagem da empresa. As fachadas dos prédios mais altos são cobertas por telas, para impedir que operários pulem para se suicidar -- além disso, a empresa abriu um "centro de atendimento" em que há pessoas o tempo todo para auxiliar os empregados em seus problemas pessoais e de trabalho. Leia mais. Ver também aqui. No dia 06 deste mês o jornal inglês Daily Mail informou que a Foxconn está exigindo de seus novos empregados na China que assinem um termo em que se comprometem a não responsabilizar a companhia caso cometam suicídio -- leia aqui.

No Brasil, a Foxconn decidiu produzir iPads e iPhones em suas instalações em Jundiaí (SP), onde faz montagem de placa circuito impresso-componente smd e montagem/teste de produtos eletrônicos -- a ênfase em "montagem" no texto é minha, para realçar que esses chineses não nos estão transferindo tecnologia. A fábrica taiwanesa afirmou que poderá antecipar de novembro para julho a produção dos iPads e iPhones no país desde que haja contrapartidas do governo -- leia aqui.  -- O governo acaba de desonerar a fabricação de iPads no Brasil, vejam postagem anterior a respeito.

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