Assim como a Cora Rónai, do Globo, os franceses também acreditam que Dominique Strauss-Khan, o DSK, o ex-poderoso chefe do FMI (ele se demitiu hoje, sob pressão) é vítima de um complô, como mostra um artigo de hoje no Le Monde. Acho essa tese muito fantasiosa e escapista p'ro meu gosto, mas vamos a ela.
Desde a prisão de DSK, uma maioria de franceses acreditou na tese de que houve/há um complô contra o diretor do FMI. Cerca de 57% das pessoas entrevistadas numa pesquisa do CSA -- sigla francesa do Conselho Superior do Audiovisual, um organismo independente para garantir a liberdade de comunicação audiovisual -- para a TV BFM, para a rádio RCM e para o programa 20 Minutes assim opinaram. Feita no dia 16 deste mês, essa pesquisa envolveu uma amostragem de 1.007 pessoas. Esse grupo pró-complô chega a mais de 70% entre os socialistas, área de atuação e proeminência políticas de DSK.
Para Denis Muzet, sociólogo de mídias, esse resultado surpreendente se explica por um fenômeno de psicologia social conhecido sob o nome de dissonância cognitiva. "Os franceses têm estado siderados, no sentido forte da palavra, em assimilar essa notícia", diz ele. "Para reduzir a distância entre a empatia que haviam acumulado pelo diretor do FMI, apresentado como futuro candidato socialista à Presidência, e esse acontecimento que bloqueia subitamente sua candidatura, eles recorreram à negação. Se ele não é culpado, a única explicação possível é a do complô. A cifra de 57% expressa a amplitude da confusão de opinião", acrescenta ele.
Stéphane Rozès, presidente da empresa de consultoria Cap, faz uma análise próxima a essa. Para ele "a opinião oscila entre duas explicações, a doença ou o complô. Ora, é mais fácil acreditar que alguém se aproveita da situação do que admitir que esse homem, considerado física e mentalmente saudável, possa estar doente. As imagens de Dominique Strauss-Khan saindo da delegacia ladeado por policiais ampliam essa tese -- elas remetem ao universo do cinema americano e de suas séries repletas dessa teoria de complô".
Essa explicação se alimentaria também de um antiamericanismo sempre presente na opinião francesa, diz Pascal Perrineau, diretor do Centro de Pesquisas Políticas de Ciências Po (Cevipof) -- "os Estados Unidos são sempre vistos e entendidos como um país onde reina uma certa brutalidade no uso da polícia e da justiça", diz ele. "Essa imagem caricatural, reforçada com um chauvinismo bem francês, veio reforçar a tese do complô".
Entretanto, Pascal Froissart, docente-pesquisador e autor de "O Rumor" (La Rumeur, Ed. Belin), aconselha que se veja essa pesquisa com precauções: "A pergunta foi feita no contexto de uma pesquisa de opinião voltada para a eleição presidencial, um barômetro político, e não para um quadro jurídico onde se propusesse uma série de cenários possíveis (do tipo: DSK está doente? Ele foi vítima de uma manipulação?). Isto muda tudo".
O longo artigo do Le Monde aborda ainda outras considerações dignas de serem lidas, principalmente para se tentar entender a cabeça dos franceses.
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