Vinho é um tema que sempre desperta polêmicas e, entre elas, uma recorrente é a do seu teor alcoólico: afinal, o vinho deve ou não ter alto teor alcoólico? Caso deva, isso é teoricamente ilimitado (ou melhor, até onde isso é razoável)? A esse respeito reproduzo a seguir trechos de um artigo interessante sobre publicado no dia 13/5 no site "Slate". Apesar de calcado no caso dos vinhos californianos, suas informações são a meu ver úteis para a abordagem desse assunto.
Vinho não seria vinho se não contivesse álcool -- a excitação e as sensações que este provoca fazem parte do prazer de beber um vinho. Mas os teores de álcool vêm aumentando, para contrariedade de alguns enófilos, que acham os vinhos mais alcoólicos muito dominantes e cansativos de se beber. Gosto é coisa pessoal, e alguns vinhos suportam melhor o álcool do que outros.
O álcool, além de nos deixar alegres, proporciona corpo, textura e uma percepção de doçura aos vinhos, e à medida que o teor alcoólico aumenta essas qualidades se ampliam. Uvas como a zinfandel e a grenache produzem vinhos que, por natureza, são razoavelmente altos em termos de teor alcoólico. Mas os níveis de álcool vêm subindo em vários lugares, e enófilos disseram à revista inglesa Decanter que esse aumento de "potência" está ameaçando a personalidade dos vinhos de Bordeaux -- preocupação semelhante tem sido manifestada em outros locais.
Quando o debate é sobre álcool no vinho, a Califórnia está no centro da discussão -- qualquer loja de vinhos californianos está repleta de exemplares com 14% ou mesmo 15% de álcool, e pode acontecer que os rótulos não estejam dizendo toda a verdade. Os cabernets e merlots do vale do Napa não eram tão embriagadores no passado. Um estudo recente conduzido por um professor da Universidade da Califórnia mostrou que o nível de açúcar nas uvas da Califórnia aumentou 9% desde 1980 -- quanto mais açúcar nas uvas, mais álcool nos vinhos.
O que terá causado esse aumento? As mudanças climáticas são citadas com frequência, e com certeza são um fator influente em outras regiões. Mas, no caso da Califórnia, o estudo citado acima sugere que os níveis mais altos de açúcar resultaram principalmente de práticas de cultivo. Além disso, os autores do estudo levantaram outra possibilidade: os produtores estariam colhendo uvas mais maduras para gerar vinhos com mais apelo para os críticos, especialmente para Robert Parker. Eles notaram que os maiores aumentos de açúcar ocorreram nas chamadas uvas "premium" -- cabernet, merlot e chardonnay -- e em áreas "premium" como Napa e Sonoma.
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