terça-feira, 3 de maio de 2011

Algumas considerações sobre a morte de Bin Laden (II)

A notícia, divulgada pelo governo americano, de que a pista para encontrar o esconderijo de Bin Laden no Paquistão foi obtida em interrogatório(s) de presos em Guantánamo desde 2007, que denunciaram a existência de um mensageiro de Bin Laden (leia mais), me parece nitidamente uma mentira plantada para "justificar" para as opiniões públicas americana e do resto do mundo a manutenção dessa prisão. Quando querem se defender, os americanos geralmente procedem como se o resto do mundo fosse composto de idiotas.
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Numa atitude completamente inusitada, o Conselho de Segurança "aplaude" (sic) a morte de Bin Laden, afirmando ser uma boa notícia o fato dele não poder mais cometer atos de terrorismo (leia mais). Como me comentou um dileto amigo, familiarizado com os meandros da política internacional, não é comum ver-se o Conselho reagir dessa maneira a uma atitude unilateral de um de seus membros. Por outro lado, para evidenciar que a ONU está mais para um saco de gatos, a alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, pediu nesta terça-feira que os Estados Unidos divulguem mais detalhes da morte de Osama bin Laden à entidade e disse que todas as operações de antiterrorismo devem respeitar o direito internacional (leia mais). Durma-se com um barulho desses!...
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Muito interessante e digna de ser lida é a análise feita pela prestigiosa revista The New Yorker em sua edição de ontem, sob o título Killing Osama: Was it legal? ("Foi legal matar Osama?", em tradução livre) -- tive acesso a esse texto graças ao mesmo amigo citado acima, a quem agradeço. -- A revista começa por abordar a complexidade que surgiria caso Bin Laden tivesse sido capturado e não morto: ele deveria ser julgado pela justiça militar ou pela civil?; - onde deveria ser mantido e julgado, dentro dos EUA ou em Guantánamo?; - ele teria acesso garantido às evidências apresentadas contra ele?; - quem o defenderia?; - o que ocorreria se ele fizesse sua própria defesa e tentasse usar o julgamento como uma plataforma de propaganda? -- Tudo isso tornou-se irrelevante com a morte de Osama Bin Laden.

O texto da revista lembra que, depois das revelações sobre os planos secretos de assassinatos elaborados pela CIA feitas nos anos 1970,  o então presidente Gerald Ford emitiu a Ordem Executiva 11905 (depois convertida em 12333), que determinava:
Nenhum empregado do Governo dos Estados Unidos se engajará, ou conspirará para engajar-se, em assassinato político.
O termo "assassinato" não foi definido então, nem nas ordens subsequentes de mesmo teor assinadas pelos presidentes Carter e Reagan.

E aí, pergunto eu, o que foi feito dessa determinação? Depois do 11 de setembro, o presidente Bush admitiu que de certa maneira essa proibição de assassinato não se aplicaria a Osama Bin Laden e a outros agentes do terrorismo. Leia mais.
Osama Bin Laden, em foto sem data (The New Yorker).
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Outros detalhes interessantes nas informações oficiais do governo americano foram: - a) a não divulgação de qualquer foto do cadáver de Bin Laden, ao contrário do que exaustivamente foi feito com o cadáver de Saddam Hussein -- acho perfeitamente plausível a justificativa dada de que qualquer foto seria chocante e poderia gerar reações imprevisíveis dos defensores e admiradores de Bin Laden; - b) a notícia de que, para evitar que se criasse um local de peregrinação, o corpo de Bin Laden teria sido jogado ao mar depois de cumprido o ritual islâmico aplicável ao caso -- não creio que o corpo de Bin Laden tenha tido esse destino e acho que está sendo mantido com os americanos, mas considero estratégica e politicamente corretos os cuidados "adotados" quanto ao "túmulo" do corpo do terrorista e as cautelas ritualísticas "tomadas" com ele. Mas, clérigos da Arábia Saudita, aliada leal dos EUA e país onde Osama bin Laden nasceu, rejeitaram as afirmações feitas por autoridades norte-americanas garantindo que respeitaram os rituais islâmicos ao sepultar o corpo do líder da Al Qaeda no Mar da Arábia. Leia mais.
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Por outro lado, a mesma Europa que apoia e executa, através de alguns de seus países, o bombardeio da Líbia e, por meio deste, mata um filho e  três netos de Kadhafi, assume a atitude extremamente hipócrita de "questionar" a validade da operação para matar Bin Laden (leia mais)! Tenham a santa paciência!!


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