O jornal americano The Washington Post publicou ontem um longo artigo com o mesmo título desta postagem -- acho que, pelo menos no título, houve um certo exagero do jornal ao estender a influência ou projeção de Chávez à América Latina e não limitá-la à América do Sul.
Como ponto de partida para exemplificar essa perda de espaço regional de Chávez, o jornal cita a claudicante construção da refinaria de petróleo em Ipojuca (PE, município onde está localizado o famoso recanto turístico de Porto de Galinhas), prevista para ser uma obra conjunta da Petrobras com a empresa petrolífera venezuelana PDVSA e um dos projetos de Chávez para projetar ele mesmo e seu país como líderes regionais -- o dinheiro venezuelano mal aparece, numa obra orçada em 15 bilhões de dólares e já com atraso de dois anos. A influência e a importância de Chávez minguam, na proporção em que a economia venezuelana afunda e não há mais petrodólares para financiar os projetos regionais mirabolantes de Chávez. Entre os projetos fracassados ou postos de molho pela Venezuela estão um gasoduto até à Argentina, um banco sul-americano de desenvolvimento, habitações, rodovias e um banco continental de investimentos.
Refreada por uma declinante produção de petróleo e dificultada por estatizações de fazendas e empresas, a economia venezuelana encolheu 3,3% em 2009 e 1,6% no ano passado. A galinha dos ovos de ouro do país, a indústria de petróleo, está produzindo 30% menos do que há uma década, segundo analistas do setor.
Uma pesquisa de opinião feita nas Américas em 2010 colocou Chávez em segundo lugar, com votação inferior a 35% na Argentina e na Bolívia, países que têm estreitas relações com a Venezuela. "Evidentemente, o que está acontecendo com Chávez é que ele não é um líder regional", diz Marta Lagos, diretora de Latinobarometro, um grupo chileno sem fins lucrativos de análises políticas que faz pesquisas nas Américas e que, em um relatório de fevereiro passado, mostrou que a Venezuela recebeu nota 4,3 numa escala que atribui nota 10 para o país mais democrático.
Documentos diplomáticos vazados pelo WikiLeaks mostram alguns líderes sul-americanos manifestando a diplomatas americanos sua aversão ao estilo invasivo de Chávez pelo continente afora. Alan García, presidente do Peru, disse ao jornal chileno El Mercurio no início deste ano que Chávez se meteu nos assuntos de outros países mas que agora tem menos influência. "Não respeito ninguém que queira pregar além de suas fronteiras", disse o peruano.
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