(Continuação da postagem anterior).
Robert Parker tem tido enorme influência sobre as características dos vinhos, e suas notas para os californianos têm de longa data mostrado uma queda para os vinhos ultramaduros (leia-se, com alto teor alcoólico). Em 1999 e 2000 ele criticou severamente Tim Mondavi, filho de Roberto Mondavi, por produzir vinhos muito leves e "reprimidos". Ele acusou Mondavi de "ir contra o que a mãe natureza deu à Califórnia", e disse que a força dos vinhos californianos "está na potência, na exuberância e numa uva gloriosamente madura". Em 2007 Parker lançou um ataque semelhante contra o vinicultor Steve Edmunds. "O que Steve está fazendo parece ser uma tentativa deliberada de fazer vinhos de perfil francês", disse ele -- "se você quer fazer um vinho francês, vá para a França".
A obsessão de Parker pelo que ele chama de "bombas de prazer frutadas" se estende à pinot noir. Na Borgonha, onde essa uva "assina" seus grandes vinhos, o clima fresco do norte faz do amadurecimento da uva um desafio, resultando em vinhos modestos em teor alcoólico mas com ênfase na elegância sobre a potência. Mas, com a bênção ou o empurrão de Parker, os pinot noir californianos evoluiram em outra direção e são frequentemente muito maduros e exuberantes, com teor alcoólico igual ou mesmo superior a 15%. Fazendo eco ao que Parker propõe, os defensores desse tipo de vinho dizem que ele é uma expressão natural do terroir repleto de sol da Califórnia, e qualquer comparação com a Borgonha é comparar maçãs com laranjas. -- No entanto, a decisão de Parker de transferir a cobertura da Califórnia para Antonio Galloni, da sua equipe, pode acelerar o movimento a favor de maior finesse nos vinhos de lá.
O autor do artigo da "Slate" acha uma má ideia o estabelecimento arbitrário de pontos de corte quanto ao teor alcoólico de vinhos, e cita como exemplo o ocorrido em um evento chamado O Mundo da Pinot Noir, realizado em março, em que houve um painel sobre álcool e equilíbrio. Entre os participantes estavam o vinicultor Adam Lee, da Siduri Wines, que produz pinots na Califórnia e no Oregon, e Rajat Parr, um sommelier de São Francisco, que adotou a política de não servir pinots acima de 14% de álcool em um de seus restaurantes. Sem que os outros participantes do painel soubessem, Lee trocou os rótulos de dois vinhos que serviu -- um tinha 13,6% de álcool e o outro 15,2%. Parr, um experiente degustador, gostou tanto de um desses vinhos que disse a Lee que queria comprar algumas garrafas dele -- e ele gostou exatamente do que tinha 15,2% de álcool ...
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