O presidente americano jogou pesado ontem contra países que têm violado os direitos humanos, ao reprimir violentamente manifestações pacíficas de suas populações por reformas democráticas -- citou mais especificamente o Irã, a Síria e a Líbia, ameaçando uns e outros explícita ou implicitamente de deposição pela força, com o apoio dos EUA. Na realidade, Obama citou, além desses três países, o Bahrein e o Iêmen -- se olharmos o mapa do Oriente Médio, veremos que Obama não mencionou, por razões diversas, umas óbvias outras não, a Arábia Saudita, o Qatar, a Jordânia, o Kuait, Omã e o Iraque.
Não há a menor dúvida de que esses países, cujos dirigentes tiveram até anteontem o apoio americano por ação ou omissão, estão cometendo abusos intoleráveis e por isso merecem a condenação e o repúdio mundiais, assim como uma ação internacional para pressionar, não necessariamente pela força, a mudança de seus regimes. Mas há aspectos que me incomodam, e muito, nessa retomada do "xerifismo" americano: por exemplo, a não inclusão da Arábia Saudita entre os grandes violadores dos direitos humanos no Oriente Médio, e a falsa moral de Obama de se posar de defensor desses direitos, sendo os americanos mais do que reincidentes em desrespeitá-los.
Embora inaceitável, a não inclusão da Arábia Saudita é fácil de entender sob a ótica americana: o país fornece 12% do petróleo consumido pelos EUA, é aliado estratégico dos americanos há 66 anos, e quer comprar deles 60 bilhões de dólares em armamentos (o que lhe proporcionaria, entre outras coisas, 84 caças F-15). É claro que com esse pano de fundo Obama jamais enquadraria ou enquadrará o país dominado com mão de ferro pelo rei Abdullah.
Não acho nem um pouco palatável a pose de bom-moço de Obama em termos de direitos humanos, não considero que ele e seu país têm cacife para ditar moral nessa área. Sem necessidade de entrar pelo passado, na guerra do Vietnã e outros conflitos em que se envolveram, os americanos têm mais recentemente outros péssimos exemplos de comportamento em matéria de direitos humanos -- basta citar, por exemplo, o que têm feito com os prisioneiros de Guantánamo e com o soldado Bradley Manning, acusado de fornecer documentos secretos ao WikiLeaks.
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