sábado, 31 de março de 2012

Corte na Foxconn gera preocupação entre seus operários

A Foxconn, que há quase um ano promete "fabricar" iPads no Brasil, mas o negócio anda meio enrolado, tem um péssimo histórico como empregadora, com condições de trabalho desumanas que têm sido a origem de inúmeros suicídios entre seus empregados na China. Como ela é uma das maiores -- senão a maior --, fabricantes mundiais de produtos da Apple (principalmente de iPads), parece que esta finalmente percebeu que as condenáveis práticas trabalhistas da Foxconn acabam afetando sua imagem e resolveu fazer algo a respeito. É o que nos conta a reportagem abaixo, publicada ontem (30/3) na Folha de S. Paulo.

Quando a operária chinesa Wu Jun foi informada de que seu empregador, a gigante da produção terceirizada de eletrônicos Foxconn, havia feito concessões históricas aos trabalhadores, sua reação não foi de triunfo, mas de preocupação. Wu, 23 anos, é uma entre as dezenas de milhares de migrantes de regiões rurais pobres da China que operam as linhas de produção da fábrica da Foxconn em Longhua, no sul do país, que monta produtos por encomenda para a Apple e para outras multinacionais.

As concessões da Foxconn, entre as quais a redução nas horas extras trabalhadas por seu 1,2 milhão de funcionários na China, sem redução de renda, foram apoiadas pela Apple, que vem enfrentando críticas e recebendo atenção da mídia por falhas na segurança do trabalho e pelo uso de operários relativamente mal pagos para produzir celulares, computadores e outros aparelhos de alto preço. 

Mas, nos portões da fábrica da Foxconn, muitos operários não pareciam convencidos de que o corte nas horas trabalhadas não resultará em queda de salário. Para alguns operários chineses, que obtêm a maior parte de sua renda com longos períodos de horas extras, a ideia de trabalhar menos e ganhar o mesmo não parece natural. "Estamos preocupados com a possibilidade de receber menos. É evidente que, se eu trabalhar menos horas extras, isso significa menos dinheiro", disse Wu, 23, originária da província de Hunan, no sul da China.

A Foxconn anunciou que reduzirá sua jornada semanal de trabalho para 49 horas, incluindo horas extras.  "Estamos aqui para trabalhar, e não brincar, e por isso nosso salário é muito importante", disse Chen Yanei, 25, operária da Foxconn também oriunda de Hunan, que disse trabalhar na fábrica há quatro anos. "Fomos informados de que só poderemos fazer um máximo de 36 horas extras ao mês, e posso dizer que muita gente não gostou. Para nós, 60 horas extras ao mês seria razoável, e 36 muito pouco", acrescentou. Chen disse que, no momento, seu salário é de pouco mais de 4.000 yuan ao mês (R$ 1.156).

A Foxconn é um dos maiores empregadores dos 153 milhões de trabalhadores rurais chineses que trabalham longe de suas regiões de origem. Comparadas às instalações de empresas locais, dizem os operários, suas vastas fábricas são mais limpas e seguras e oferecem mais recreação. 

Tim Cook (de amarelo), CEO da Apple em sucessão a Steve Jobs, visita linha de produção de iPhones em nova fábrica da Foxconn na China - (Foto: France-presse).

China avança no pré-sal

A propósito da postagem "Tsunami amarelo? Crise abre caminho para investimento chinês recorde na Europa", um diletíssimo amigo enviou-me o artigo abaixo, publicado no dia 29 deste mês no site Portos e Navios, que mostra que esse tsunami já está chegando às nossas paragens. Mais um exemplo da exímia técnica chinesa no uso do "soft power" para expandir-se pelo planeta.

O fechamento ontem da aquisição de 30% dos ativos da portuguesa Galp Energia no Brasil pela China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec), eleva para US$ 15,37 bilhões os investimentos de estatais chinesas na exploração e produção de petróleo e gás no Brasil. Também consolida a entrada da China no pré-sal da bacia de Santos, sem que nenhuma das estatais desse país tenha participado diretamente de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A Sinopec pagou US$ 4,8 bilhões por todos os blocos em fase de exploração e produção da Galp reunidos na Petrogal Brasil, incluindo a fatia de 10% que a portuguesa detinha em Lula (antigo Tupi) e Cernambi (antigo Iracema), algumas das descobertas mais emblemáticas do pré-sal da bacia de Santos. A controlada da Galp tem participação acionária em 20 blocos no Brasil, a maioria em sociedade com a Petrobras. No pré-sal a agora luso-chinesa também tem 14% de Bem-Te-Vi (no bloco BM-S-8), 20% de Caramba (BM-S-21) e 20% de Júpiter (BM-S-24), todos no pré-sal de Santos. Na operação, a Sinopec também emprestou US$ 360 milhões para pagamento de dívidas da Petrogal Brasil com a Galp.

Essa foi a segunda maior aquisição da Sinopec no país. Em 2010, a companhia comprou, por US$ 7,1 bilhões, uma fatia de 40% em uma empresa que também reunia os ativos de exploração e produção da espanhola Repsol no país. Criaram assim a RepsolSinopec Brasil, empresa de US$ 18 bilhões. Ao adquirir a fatia dos espanhóis, os chineses tiveram acesso a Carioca e Guará, outros gigantes do pré-sal.

No mesmo ano, outra chinesa com apetite pelo país, a Sinochem, se tornou sócia da norueguesa Statoil no campo de Peregrino, na bacia de Campos, pagando US$ 3,07 bilhões.

No comunicado divulgado ontem [28 de março], a Galp Energia informou que o conselho de administração da nova empresa terá sete membros, sendo cinco deles indicados pelos portugueses, refletindo sua posição de controle. "Este aumento de capital dota a empresa do fôlego financeiro necessário para suportar as atividades de exploração e desenvolvimento no Brasil dando-lhe, em simultâneo, flexibilidade adicional para desenvolver outros projetos de upstream [exploração e produção], tanto dentro do seu atual portfólio como em oportunidades futuras que venham a surgir, no Brasil ou noutras geografias", informou a nota da Galp.

A investida da China no Brasil tem características diferenciadas dos investimentos comuns no setor. As petroleiras tradicionais entram com tecnologia, investimentos e, quando possível, querem se tornar operadoras das áreas, o que permite decidir sobre projetos de engenharia, por exemplo, e administrar as compras de equipamentos. Já as chinesas, tradicionalmente, colocam recursos em dinheiro para garantir investimentos. No caso do Brasil, já tinha ficado claro que os aportes bilionários programados pela Petrobras no pré-sal tinham se tornado um desafio, para dizer o mínimo, para suas sócias. Mas no caso chinês, o mais importante para as estatais é garantir o suprimento de energia para seu país, um consumidor voraz de recursos energéticos.

Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner | Do Rio

Os dois cientistas chefes do fracassado teste dos neutrinos pedem demissão

A famosa experiência Opera, dos neutrinos que pareciam ser mais rápidos que a luz, caminha para converter-se em uma piada infeliz na história da física. Os dados dos neutrinos supervelozes que, se fossem corretos, teriam deixado de pernas p'ro ar a teoria da relatividade de Einstein, ficaram seriamente questionados há algumas semanas ao se identificarem duas falhas técnicas no detector (uma conexão instável e um relógio). Agora, isso custou o cargo ao chefe do Opera, o físico italiano Antonio Eredidato, e ao coordenador científico da experiência, Dario Autiero.

Da experiência participam uns 150 cientistas de vários países, e uma parte deles havia pedido a demissão de Eredidato (da Universidade de Berna). Ainda que a moção de censura não tenha prosperado, ficou patente a cisão na equipe e Eredidato optou por deixar o cargo, segundo informou ontem o jornal italiano Corriere della Sera, citando o Instituto Nacional de Física Nuclear, da Itália.

A votação se realizou nesta semana entre os chefes de grupo da cooperação, e 16 deles votaram contra Eredidato enquanto 13 votaram a favor, e outros se abstiveram, segundo informa a revista Science. Ainda que, segundo as regras do Opera, fossem necessários dois terços dos votos para afastar o chefe e isso não tivesse ocorrido, ficou óbvio que Eredidato não contava com o apoio da maioria e ele então renunciou ao cargo de porta-voz do Opera, cargo que ocupava. Em seguida, seguiu o mesmo caminho Autiero (Universidade de Lyon), que foi o encarregado de apresentar os surpreendentes resultados dos neutrinos supervelozes, em setembro passado, em uma palestra apresentada no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN, em francês) em Genebra, de onde partem os neutrinos registrados no detetor Opera, situado abaixo dos montes Apeninos, na Itália.

A cisão nessa cooperação científica, porém, não é nova: parte dos membros do Opera não quis assinar o artigo científico com os resultados dos neutrinos supostamente mais rápidos que a luz, e têm sido constantes os debates internos sobre se foi ou não precipitada a apresentação dos dados há seis meses.

A telenovela dos neutrinos não se encerra com essas demissões: a experiência será repetida no Opera em maio próximo, para resolver a questão. Mas, os acontecimentos das últimas semanas vêm dando razão à imensa maioria dos físicos de partículas que, desde o primeiro momento, suspeitaram que aqueles dados eram incorretos. Após o anúncio dos dois problemas técnicos no Opera, outras duas experiências (Icarus e LVD) efetuadas no mesmo laboratório de Gran Sasso analisaram seus dados e concluíram que os neutrinos não superam a velocidade da luz.

Antonio Eredidato,coordenador do projeto Opera - (Foto: Martial Trezzini/AP).

sexta-feira, 30 de março de 2012

Comprovado o efeito nocivo de inseticidas no declínio do número de abelhas

Em janeiro e em setembro do ano passado fiz duas postagens sobre o alarmante índice de mortalidade de abelhas em diferentes partes do mundo, e as pesquisas que se vêm fazendo para descobrir a razão disso. O jornal francês Le Monde publicou ontem  um artigo (que traduzo abaixo) sobre pesquisas internacionais recentíssimas, que identificam na nocividade de pesticidas uma das causas desse fenômeno.

Quanto mais se avança em pesquisas, mais difícil se torna contestar o efeito nocivo dos inseticidas sobre o meio ambiente. Por seu papel explorador em território cada vez mais minado, as abelhas já foram objeto de numerosos trabalhos a esse respeito.  Desta vez, foram analisadas em dois estudos publicados ontem (dia 29) na revista Science, ambos inéditos pela tecnologia envolvida e por terem ambos optado por condições realistas, verificadas na prática, em vez de experiências de laboratório. 

Ambos os estudos ressaltam o impacto da família de inseticidas mais disseminada no mundo: os neonicotinoides, que agem sobre o sistema nervoso central dos insetos.

A equipe francesa, coordenada por Mickaël Henry, do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA, em francês) e Axel Decourtye, ecologista da rede dos institutos de atividades agrícolas e vegetais (ACTA, em francês), colocou com cola dental uma minúscula plaqueta de radioidentificação sobre o tórax de 653 abelhas melíferas. Os pesquisadores queriam verificar se, de acordo com hipótese levantada por alguns apicultores, os produtos contendo tiametoxano podem fazê-las perder o senso de orientação. O Cruiser, fabricado pelo grupo suiço Syngenta e destinado ao milho e à colza, as tornaria incapazes de voltar à sua colmeia?

Um zangão selvagem que perde o apetite

Depois de haver observado individualmente as saídas e retornos de suas "protegidas", graças a um leitor eletrônico, os pesquisadores constataram que 10% a 31% das abelhas intoxicadas, mesmo em dose fraca, não encontravam seu caminho. Isso explica, em parte, a síndrome de desmoronamento das colônias -- isso porque, longe de sua colmeia, elas morrem três vezes mais que a taxa normal. 

Esses resultados são contestados pela Syngenta. Mas, o ministério da Agricultura anunciou, ontem à tarde, que considerava a hipótese, até o final de maio, de proibir o Cruiser, em atendimento a um aviso da Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anses, em francês) relativo ao estudo publicado na Science, "antes do início da nova campanha de semeadura em julho".

A segunda pesquisa, realizada na Escócia, se interessou pelo zangão selvagem Bumbus terrestris, cuja espécie passa também por declínio. Apesar de desempenhar um papel fundamental na polinização de morangos, framboesas, mirtilos (ou uvas-do-monte) e tomates, entre outras frutas, ele até o presente foi alvo de pouco interesse pelos pesquisadores. Penelope Whitehorn e David Goulson, biólogos da universidade de Stirling, submeteram colônias de zangões em desenvolvimento à ação do inseticida imidacloprid, um outro neonicotinoide presente, entre outros, no inseticida Gaucho.

As doses [de inseticida] utilizadas eram comparáveis às que respingam nos zangões. Ao cabo de seis semanas, os pesquisadores observaram que os ninhos contaminados pelo pesticida tinham de 8% a 12% menos peso que as colônias de referência, o que os levou à conclusão que os insetos estavam menos nutridos. Sobretudo, os ninhos tinham produzido 85% menos rainhas. O que pode significar 85% de ninhos a menos no ano seguinte, lembram os autores do estudo.

Abelha equipada com uma "pulga" de radioidentificação - (Foto: Science/AAAS).

Cássio Loredano, um gênio brasileiro da caricatura

Cássio Loredano, pseudônimo adotado por Loredano Cássio Silva Filho, nasceu no  Rio de Janeiro em 1948. Nas palavras de Millôr Fernandes, “filho de um oficial de cavalaria, Loredano desde cedo se sentiu obrigado a desmontar o ser humano”, Loredano é um caricaturista brasileiro simplesmente genial, com passagens pelos jornais alemães Frankfurter Allgemeine Zeitung e Die Zeit, pelos italianos La Repubblica e Il Globo, pelos franceses Libération e Magazine Littéraire, e pelo espanhol El País. Ontem, publiquei uma postagem com uma das caricaturas que fez de Millôr Fernandes.

Seu traço é incrível, e já se vêem alguns outros poucos caricaturistas nossos com estilo algo parecido. Com "deformações" gráficas impressionantes, Loredano consegue manter a identidade fisionômica inequívoca de seus caricaturados. Tenho dele um livro, da Editora Globo, "Loredano - Mancha, traço, página: a forma do cotidiano" (1994) que é fantástico e que recomendo fortemente. Reproduzo abaixo alguns exemplos da genialidade de Cássio Loredano (clique nas imagens para ampliá-las).

Cássio Loredano - (Foto: Google).

Vinícius de Moraes, por Cássio Loredano

Nelson Rodrigues, por Cássio Loredano

Mário de Andrade, por Cássio Loredano

Clarice Lispector, por Cássio Loredano

Simone de Beauvoir, por Cásio Loredano

Noel Rosa, por Cássio Loredano


José Saramago, por Cássio Loredano

Jorge Luís Borges, por Cássio Loredano

Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini, por Cássio Loredano

Franz Kafka,por Cássio Loredano

Nélida Piñon, por Cássio Loredano

João do Rio, por Cássio Loredano

Gabriel García Marques, por Cássio Loredano

William Shakespeare, por Cássio Loredano

Friedrich Nietzsche, por CássioLoredano

Marina Colassanti, por Cássio Loredano




quinta-feira, 29 de março de 2012

Líder do PMDB reage ao governo em plenário

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), reagiu nesta quarta-feira (28) às críticas feitas durante o ápice da crise enfrentada pela presidenta Dilma Rousseff dentro da base do seu governo no Congresso. Em discurso, ele defendeu a liberação de emendas por parte do governo e a indicação de apadrinhados políticos para cargos nos diversos escalões  do governo federal. Foi a mais forte e pública reação até agora do PMDB às ações de Dilma nos últimos dias, desde o afastamento do senador Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo no Senado.  [Mais um que defende o jogo sujo do fisiologismo como rotina no preenchimento de cargos do governo.]

O discurso do peemedebista fez menção várias vezes à expressão usada por Dilma na sua entrevista à edição desta semana da revista Veja. Ela disse não gostar “desse negócio de toma-lá-dá-cá”. “Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo”, afirmou Dilma.  [Vamos torcer para que ela consiga isso, mas não vai ser nada fácil.]

Embora nem na pergunta nem na resposta tenha havido uma referência direta a Henrique Alves ou mesmo ao PMDB, o líder do partido na Câmara respondeu a Dilma da tribuna: “Essa carapuça eu não assumo, eu não aceito. Não é toma lá dá cá, é respeito de cá e de lá”, disparou o peemedebista. Para ele, a cobrança na liberação de emendas é um direito dos deputados. Integrantes da base reclamam que aproximadamente R$ 1 bilhão está bloqueado  pelo Ministério do Planejamento. São emendas referentes a dezembro do ano passado. “Emenda é direito nosso. O Orçamento era para ser impositivo há muito tempo”, disse.

No discurso, Henrique Eduardo Alves citou projetos aprovados na Câmara com apoio do PMDB, como a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), a política para o salário mínimo e a discussão do projeto que criou um novo sistema. Foi uma forma encontrada pelo peemedebista para dizer que faz parte do governo Dilma. Por isso, tem legitimidade para pedir e cobrar a liberação de emendas e nomeação para cargos.

"Sócios da gestão"

“A questão dos cargos eu não aguento mais responder, como se fosse um absurdo. Nós queremos ser sócios da gestão. Isso é legítimo entre os deputados que ganharam a eleição”, afirmou. O peemedebista, aplaudido algumas vezes pelos colegas em plenário, disse que, se depender dele, vai buscar a reeleição de Dilma pelo “que este governo está fazendo”. “Não foi o toma-lá-dá-cá que me colocou aqui. São 11 mandatos. Eu não preciso dessa autodefesa porque meu estado me conhece”, discursou.

Henrique Alves rechaçou a afirmação de que existe toma-lá-dá-cá na relação entre o governo e o  Congresso - (Foto: Fabio Pozzebom/Câmara).

Família Lobão é campeã de faltas no Congresso

A mulher e o filho do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foram os parlamentares que mais estiveram ausentes das sessões de 2011. Mesmo tendo comparecido a apenas 20 dos 121 dias de votação, a deputada Nice recebeu R$ 470 mil. 


[Segundo a mídia, a presidente Dilma estaria se articulando para eleger Lobão, o patriarca, presidente do Senado, para evitar que Renan Calheiros ocupe o cargo. Isso já teria provocado reações um tanto iradas de Renan e sua patota. Se a coisa caminhar para um confronto, não é qualquer ventilador que será capaz de dispersar o que daí resultar.]

Quem pensa que o senador licenciado Edison Lobão (PMDB-MA) anda distante do Congresso, ainda não viu a mulher nem o filho dele. Ninguém faltou mais às sessões destinadas a votação na Câmara e no Senado em 2011 do que a deputada Nice Lobão (PSD-MA) e o senador Lobão Filho (PMDB-MA), suplente que ocupa a vaga do pai. É o que revela levantamento exclusivo feito pelo Congresso em Foco sobre a assiduidade dos parlamentares na Câmara e no Senado.


A deputada, de 75 anos, compareceu a apenas 19 dos 107 dias com sessões deliberativas da Câmara e apresentou justificativa para 87 de suas 88 ausências ano passado. O roteiro continua o mesmo em 2012: até o dia 20 de março, ela havia aparecido uma única vez na Casa. Desde que assumiu seu quarto mandato, Nice não apresentou nem relatou qualquer proposta, tampouco se pronunciou em plenário. Registrou presença em somente duas das 84 reuniões da Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular.

Um único voto

Reeleita em 2010, ela deu um único voto até agora: foi na terceira semana de trabalho, em 15 de fevereiro de 2011, a favor do requerimento de urgência para a votação do novo salário mínimo, de R$ 622. Nesse período de absoluta discrição, Nice recebeu R$ 470 mil apenas em subsídios. Além do salário, a deputada teve à disposição para gastar no exercício do mandato quase R$ 100 mil por mês, entre cotas parlamentares, verba de gabinete e auxílio-moradia. 

Mesmo padecendo de dores crônicas na coluna e nos joelhos, motivo de suas 82 licenças médicas em 2011, ela resiste a se afastar do mandato e ceder a vaga a um suplente. Desde 2006, Nice se submeteu a três cirurgias na coluna, segundo o gabinete dela. A suplência na Câmara é definida nas urnas – ao contrário do Senado, onde muitas vezes os substitutos são escolhidos dentro de casa, como Lobão Filho.  “Ela sofre pressão de outros parlamentares e até de pessoas da família, que já a aconselharam a se licenciar. Mas ela tem apego ao trabalho e a esperança de voltar”, explica a assessoria.

Tal mãe, tal filho 


Sempre a postos para substituir o pai no Senado, Lobão Filho atribuiu a problemas de saúde, como a mãe, a maioria de suas ausências nas sessões deliberativas. O senador, de 47 anos, não esteve presente em 59 das 126 sessões a que deveria ter comparecido no ano passado. Foram oito faltas ainda não justificadas, 26 licenças médicas e 25 por interesse particular, único tipo que não implica ônus para os cofres públicos.

Depois de sofrer um grave acidente automobilístico em maio do ano passado, o peemedebista passou cerca de três semanas internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI). “Foi um ano complicado, quase morri. Não me recuperei 100% até agora”, alega Lobão Filho, que diz precisar de mais 30 dias para ficar plenamente recuperado.

O senador também alega que boa parte de suas ausências foi usada para recuperação, embora não tivesse atestado médico. Diferentemente da mãe,Lobão Filho não passou 2011 em branco: vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, também integrou as comissões de Serviços de Infraestrutura, e de Ciência e Tecnologia, além do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Ele apresentou três propostas de emenda à Constituição, cinco projetos de lei e um projeto de lei complementar. Fez um discurso em plenário.

Uma família que prospera unida

Os bens da família Lobão

 
Desde que tomou posse, Nice Lobão participou apenas uma vez deuma votação na Câmara - (Foto: Agência Câmara).

Pelo segundo ano consecutivo, Lobão Filho foi o senador mais ausente - (Foto: Valdemir Barreto/Senado).

Golfinhos se organizam em "gangues", dizem cientistas

Os golfinhos do gênero Tursiops, que inclui as espécies Tursiops truncatus e Tursiops aduncus, se organizam em "gangues", protegendo suas fêmeas de bandos rivais e ocasionalmente "mudando de lado", aponta um estudo realizado por cientistas na Austrália.

Conhecidas em inglês como "bottlenose dolphins", essas espécies tiveram seus movimentos analisados por especialistas baseados na Shark Bay, no oeste da Austrália, durante cinco anos. Os resultados indicam que eles se movem em uma área que compreende centenas de quilômetros quadrados, e geralmente encontram diversos grupos organizados.

Richard Connor, um pesquisador dos Estados Unidos que integrou a equipe, começou a estudar os golfinhos da Shark Bay ainda no início dos anos 1980. Uma das principais características observadas na pesquisa do americano indica que os golfinhos vivem em uma "sociedade aberta", em grupos com "um mosaico de comportamentos semelhantes", ao invés de simplesmente se organizarem em grupos de machos que guardam um território específico. O fato de os golfinhos migrarem em "gangues", e frequentemente encontrarem rivais, mostra o elevado grau de inteligência destas espécies, já que, ao se depararem com outros grupos, precisam decidir como se portar.

Três tipos de aliança

Na região de Shark Bay, a solução encontrada pelos golfinhos foi a divisão em três diferentes tipos de alianças que os mantêm unidos.

A primeira se manifesta em duplas ou trios que trabalham juntos para capturar e manter fêmeas férteis. "Essas parcerias podem durar mais de um mês", diz Richard Connor.

No segundo tipo, os animais formam "equipes" de quatro a 14 machos que organizam ataques contra outros bandos para roubar suas fêmeas, ou para se defender de ataques rivais.

Já no terceiro tipo de aliança, os golfinhos mantêm "relações amigáveis" entre os grupos dominantes, unindo forças para formar "exércitos de golfinhos" e trabalhando juntos para resguardar suas fêmeas diante de potenciais ataques de grandes grupos rivais.

Evolução

Connor afirmou à BBC que um animal precisa ser "incrivelmente inteligente" para formar este tipo de sociedade em que grupos encontram outros grupos e devem decidir se os considerarão rivais ou aliados. "A principal ideia para a evolução de cérebros realmente grandes é que o processo é guiado por relações sociais complexas", diz o pesquisador.

Além da decisão inicial de atacar ou se unir, os golfinhos de Shark Bay podem decidir até "mudar de lado", movendo-se de um grupo para outro ou retornando ao de origem. De acordo com os cientistas que estudam estas espécies, somente os golfinhos de Shark Bay e os seres humanos conseguem produzir sociedades com estes níveis múltiplos de alianças entre machos.

Nichola Quick, da Unidade de Pesquisa de Mamíferos Marinhos da Universidade de St. Andrews, diz que compreender como os animais gerenciam suas redes de interação social é algo crucial para "realmente entender seu comportamento".  "Se, por exemplo, estivermos interessados nos impactos da atividade [humana] nos animais", afirmou, "só podemos realmente dizer se houve um impacto se soubermos o que os animais fazem 'normalmente' ".

 Golfinhos conseguem formar até três diferentes tipos de alianças, revela estudo feito no oeste da Austrália - (Foto: BBC Brasil).

Formação de grupos com diferentes níveis de interação social requer "inteligência incrível", diz estudo - (Foto: BBC Brasil).

Isso não se faz: perder o Millôr logo depois do Chico Anysio?!

É muito duro para um país perder, em menos de uma semana, dois gênios como Millôr Fernandes e Chico Anysio! Faço minhas as palavras de Arnaldo Jabor hoje, no Globo: "Morrem dois grandes humoristas e ficam muitos palhaços vivos. Isso é triste".

Não creio existir melhor homenagem a quem quer que seja, do que reproduzir pedaços escritos de sua genialidade. Além de jornalista, escritor, ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo, tradutor de Shakespeare, Molière e Brecht, inventor do frescobol e vice-campeão mundial de pesca ao atum na Nova Escócia em 1953, Millôr era um frasista simplesmente inigualável. Entre frases e desenhos dele, junto a uma caricatura que dele fez o também genial Loredano, presto abaixo minha humilde homenagem a um brasileiro como pouquíssimos.
  • Definindo-se: "medalha de ouro no concurso para ele mesmo".
  • De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
  • Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.
  • Todo homem nasce original e morre plágio.
  • Quando o homem sabe que certa mulher já cedeu a alguém, ele não resiste em verificar se a história se repete. 
  • Goze. Quem sabe essa é a última dose? 
  • O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.

     
  • Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto. 
  • O Brasil está dividido entre os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter.
  • Toda lei é boa desde que seja usada legalmente.
  • Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira para matar.
  • A verdade é que, nesse mundo cheio de feministas agressivas e gays reivindicantes, eu sou um mero homem.
  • Trabalho não mata. Mas vagabundagem nem cansa. 
  • O desespero eu aguento. O que me apavora é essa esperança.
  • Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.  
  • O aumento da canalhice é o resultado da má distribuição de renda. 
  • Nunca tantos deveram tanto a tão porcos.
  • A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo.

     
  • Mordomia é ter tudo que o dinheiro -- do contribuinte -- pode comprar. 
  • Você pode desconfiar de uma admiração, mas não de um ódio. O ódio é sempre sincero. 
  • Chama-se de herói o cara que não teve tempo de fugir.  
  • O preço da fidelidade é a eterna vigilância. 
  • As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.
     
  • A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
  • Beber é mal. Mas é muito bom. 
  • Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem.
  • O capitalismo não perde por esperar. Em geral ganha 6% ao mês. 
  • Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar. 
  • Metade da vida é estragada pelos pais. A outra metade, pelos filhos. 
  • Quem confunde liberdade de pensamento com liberdade é porque nunca pensou em nada.
  • Infelicidade: Nascer com talento melódico numa época em que o pessoal só se interessa por percussão. 
  • A gente tem que experimentar de tudo. Desde que seja de graça e não doa muito.  
  • Repito, mais uma vez: supremo eu só conheço o de frango.
  • Sobre projeto do deputado Aldo Rebelo de restringir termos estrangeiros na língua portuguesa: "uma idioletice" -- o que lhe valeu um processo do deputado.
  • Em agosto, nas noites de frio, a pobreza entra pelos buracos da roupa.
  • Sobre o Pasquim: Se esta revista for mesmo independente, não dura três meses. Se durar três meses não é independente. Longa vida a esta revista.
  • Idade da razão é quando a gente faz as maiores besteiras sem ficar preocupado.
     
  • [Monogamia:] A capacidade de ser infiel à mesma pessoa durante a vida inteira.
  • O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é.

    Millôr Fernandes, falecido aos 88 anos em sua casa no Rio - (Foto: Ricardo Moraes/Folhapress).

Caricatura de Millôr, feita por Cassio Loredano.

Desenho de Millôr Fernandes.

Desenho de Millôr Fernandes.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Tsunami amarelo? Crise abre caminho para investimento chinês recorde na Europa

[Vem aí um tsunami amarelo?... A China está dando um show no uso de "soft power" para lançar seus tentáculos mundo afora. Qual será o resultado disso, em escala mundial, no médio e longo prazos?]

Os investimentos chineses na Europa foram multiplicados por sete desde o início da crise financeira mundial, em 2008, e vêm se acelerando nos últimos meses, após o agravamento da crise na zona do euro, segundo dados de organizações internacionais.

Os chineses vêm acelerando seus investimentos no Velho Mundo nos últimos anos em setores variados. Já adquiriram ou compraram participação, por exemplo, em vinhedos na França, companhia de energia em Portugal, fábrica de máquinas na Alemanha e montadoras de veículos na Suécia e Grã-Bretanha. O perfil variado, incluindo indústrias de alta tecnologia, contrasta com a forte concentração de investimentos chineses no Brasil, bem como na América Latina, em setores como mineração, petróleo e gás.

De acordo com a Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), o volume de recursos chineses investidos na Europa, em fusões ou aquisições de empresas, além da compra de participações acionárias, foi de US$ 876 milhões em 2008. Em 2010, últimos dados disponíveis na Unctad, o montante foi de US$ 6,76 bilhões.

Apesar de expressivos, os números da Unctad são apenas um dos indicadores da tendência de avanço dos investimentos chineses na Europa. "Esses números estão subestimados, porque se referem somente à China continental, e não incluem Hong Kong", disse à BBC Brasil Guoyong Liang, do escritório de assuntos econômicos da Unctad. Hong Kong é uma importante plataforma para investimentos chineses no exterior, mas o governo chinês não divulga o destino, por país, dos investimentos provenientes da região administrativa especial da China.

A entidade americana Heritage Foundation tenta superar esse obstáculo na obtenção dos dados acompanhando os investimentos no momento em que são anunciados e confirmados. Segundo a entidade, em 2011, os investimentos em 13 países europeus teriam atingido cerca de US$ 15 bilhões.

Aceleração

Inúmeros anúncios de aquisições de empresas (ou também de participação no capital de companhias europeias) por investidores chineses têm sido feitos nos últimos meses. Um dos negócios mais comentados, em razão do montante, ocorreu no final de dezembro: a China Três Gargantas comprou, por US$ 2,7 bilhões, a fatia de 21,35% que o governo português detinha na Energia de Portugal (EDP), afastando da disputa o grupo alemão e.ON e as brasileiras Eletrobras e Cemig. A recente compra em Portugal é exemplo de uma tendência observada pela Heritage Foundation de aceleração de investimentos em países fortemente afetados pela crise na zona do euro.

A China, segundo a Heritage Foundation, não havia investido nada na Espanha entre 2005 e 2008, por exemplo. De 2009 até 2011, o fluxo de capitais chineses para o país atingiu US$ 1,5 bilhão.  A situação em Portugal é mais emblemática. Ainda de acordo com a Heritage Foundation, a China não teria investido nada no país entre 2005 e 2010.  Apenas em 2011, quando Portugal entrou no olho do furacão da crise das dívidas soberanas, o fluxo de investimentos chineses para o país atingiu US$ 3,5 bilhões.

"Após o início da crise, em 2008, houve um grande aumento dos investimentos chineses na Europa. Mais recentemente, a crise na zona do euro passou a representar uma oportunidade para comprar ativos mais baratos", afirma Liang, da Unctad. Ele diz que a maior parte dos negócios na Europa começou a ocorrer desde meados do ano passado.

Na Alemanha, um dos países que mais receberam investimentos chineses em 2009 e 2010, o interesse é pela indústria mecânica, que produz maquinário de alta tecnologia com reputação mundial, diz o economista da Unctad. Segundo ele, os investimentos chineses também são significativos na Grã-Bretanha porque o país reúne sedes de várias empresas importantes do setor de energia e também bancário.

As empresas chinesas também têm investido em infra-estrutura na Europa, com concessões para operar nos portos dos Pireus, em Atenas, e de Nápoles, na Itália.

Montadoras europeias, como a britânica Rover (que estava em concordata em 2005) ou ainda a sueca Volvo, em 2010, também foram compradas por grupos chineses, que tentaram ainda adquirir no ano passado a sueca Saab. Mas a operação foi vetada pela General Motors, proprietária da marca sueca de automóveis, que acabou pedindo concordata em dezembro.

Na França, além de setores como o da energia, as companhias chinesas têm investido em segmentos ligados à imagem da França no exterior: marcas de moda de luxo e vinhos. A grife Cerruti foi adquirida por chineses em 2010 e, em fevereiro passado, foi a vez do fundo Fung Brands, de Hong Kong, comprar 80% do capital da marca de prêt-à-porter de luxo Sonia Rykiel.  Investidores chineses também estão multiplicando as aquisições de vinhedos em Bordeaux com o objetivo de exportar para a China, que se tornou o primeiro importador mundial de vinhos dessa região francesa.


 

Bovespa vai recorrer de decisão judicial relativa a escândalo durante governo FHC

[Um amigo sugeriu-me, meio que em tom de "desafio", que publicasse a notícia abaixo sobre processo na justiça contra a Bovespa, relativo a escândalo financeiro ocorrido durante o governo FHC. Esse amigo e eu temos posições políticas simétricas: ele não suporta FHC e tem Lula (o Nosso Pinóquio Acrobata - NPA) em altíssima consideração; eu, detesto Lula e admiro muito FHC.


Feita essa introdução, acho oportuno e interessante ressaltar alguns fatos relevantes como pano de fundo para a comparação FHC x NPA que, na verdade, é o desejo do meu amigo e tenho o máximo prazer em satisfazê-lo:
  • FHC governou com 19 ministérios e o NPA com 33 (contando, em ambos os casos, com as Secretarias com status de ministérios) -- como ambos governaram o mesmíssimo país, o fato do NPA precisar de 73,68% a mais de ministros para fazê-lo é um dado assaz peculiar. 
  • Considerando que cada ministério é um foco potencial de corrupção, e considerando o ministério todo de FHC como referência (1 p.u.), o governo do NPA teve, só no item "ministérios",  um fator de "potencial de corrupção" de 1,7368 em relação ao de FHC -- desse potencial, o NPA conseguiu concretizar 1,1340 (6 ministros corruptos em 33). Mesmo que esses ministros tenham sido defenestrados só no governo Dilma, toda a respeitável roubalheira deles e/ou de seus cupinchas ocorreu integralmente no governo do NPA, a quem, portanto, cabem os "louros" da façanha. Não há registro de nenhum ministro de FHC demitido por corrupção.
  • No mar de sandices e desmandos do NPA escapou apenas (para nossa salvação) a política econômico-financeira, que ele adotou integralmente de FHC sem  mexer uma vírgula sequer.
  • No governo FHC foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal (que entrou em vigor em 2000, dois anos antes do fim do mandato de FHC) um marco na história da administração pública do país, admirada até no exterior.
  • FHC criou o Bolsa Escola e outros programas sociais para a população de baixa renda, que o NPA aglutinou em um só e chamou-o de Bolsa Família.
Passarei agora a reproduzir a notícia sobre o processo judicial contra a Bovespa, originário de escândalo financeiro durante o governo de FHC, publicada hoje. O link introduzido no texto, para ajudar na recuperação dos fatos, e o comentário entre colchetes e em itálico são de minha responsabilidade.]

A BM&FBovespa, que foi condenada a pagar R$ 8,4 bilhões por estar incluída em um caso envolvendo a desvalorização do real em 1999, vai recorrer da decisão do juiz por ter "certeza absoluta" de não ter praticado qualquer ato que justifique sua inclusão como ré no caso.  “Devemos recorrer já nas próximas semanas,” afirma Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa.  [Esse caso é mais um exemplo de que a cegueira não é a única deficiência física da nossa Justiça, ela sofre também de seríssimos problemas de locomoção, não consegue andar depressa.]

O argumento da BM&FBovespa é que a empresa não tem envolvimento com o caso específico que gerou a ação judicial, que acusa de improbidade administrativa diversos réus, entre eles Francisco Lopes, presidente do Banco Central em 1999. Naquele ano, quando foi abandonada a paridade da moeda brasileira com o dólar - e o real perdeu valor imediatamente -, o Banco Central vendeu dólares a um valor inferior ao do mercado para o banco Marka, que tinha assumido pesados compromissos na moeda norte-americana e teria quebrado caso o BC não tivesse agido em seu favor.

As ações que resultaram na inclusão da BM&FBovespa como ré têm a finalidade de apurar a prática de possíveis atos de improbidade administrativa nas operações realizadas pelo Banco Central naquela ocasião, e de obter o ressarcimento de supostos danos aos recursos financeiros do poder público.  Por considerar que não tem envolvimento com a situação, a BM&FBovespa irá recorrer da decisão que resulta em uma condenação de R$ 8,423 bilhões, incluindo multas. Em comunicado, a Bolsa já havia esclarecido que, "com base na opinião de seus advogados, continua a acreditar na total improcedência dessas ações".


Brasil lançará satélite para levar banda larga a todo o país

O Brasil prepara o lançamento de um satélite geoestacionário de comunicação para proporcionar banda larga a todos os municípios do país, anunciou nesta quarta-feira (28) em Nova Délhi o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp. Raupp integra a delegação da presidente Dilma Rousseff na reunião de cúpula desta quarta-feira dos Brics na capital indiana. O satélite de comunicação dará opção a todos os municípios brasileiros a acessar a banda larga para os serviços de internet e telefonia móvel 3G.

O país busca na Índia uma cooperação técnica para o satélite, cuja construção e lançamento, sob responsabilidade da Telebras e da Embraer, tem um custo avaliado de 750 milhões de reais (412 milhões de dólares). Apenas o lançamento custará 80 milhões de dólares. "Vamos fazer um concurso internacional que abre a possibilidade a uma cooperação tecnológica importante", disse o ministro.

Brasil, Índia e África do Sul - três integrantes do grupo dos emergentes Brics, ao lado de China e Rússia - também discutirão nos próximos dias o lançamento de outro satélite para a observação do clima no Atlântico Sul, o que permitirá fazer as medições necessárias para "entender as anomalias com o campo magnético terrestre que deixam passar as radiações ultravioletas".  Com a China, país com o qual mantém uma intensa cooperação desde os anos 80 - com o lançamento conjunto de três satélites -, o Brasil prevê o lançamento de um satélite este ano e outro em 2014, informou o ministro, que considera "estratégica" a cooperação Sul-Sul.

Durante a visita bilateral à Índia na sexta-feira, Raupp assinará com as autoridades indianas um acordo para o programa "Ciências Sem Fronteiras", que permitirá o treinamento no exterior de estudantes e especialistas brasileiros nas áreas das ciências naturais e engenharia. O programa já enviou 100.000 brasileiros ao exterior, em particular aos Estados Unidos (20.000), Alemanha (10.000) e França (8.000). No caso da Índia, o Brasil espera estimular o intercâmbio nas áreas de tecnologia, saúde, em particular o combate a Aids, malária e turberculose, assim como a farmacêutica, a nanotecnologia e as ciências de forma geral.

[Veja postagem sobre lançamento de foguete brasileiro para fins científicos.]



terça-feira, 27 de março de 2012

Finalmente, senador Demóstenes será investigado

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, confirmou à Folha que vai pedir a abertura de inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) por possíveis ligações criminosas com o empresário do ramo de jogos, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Demóstenes foi citado nas investigações que resultaram na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desmantelou um esquema de exploração de jogos caça-níqueis. [Começa a cair mais uma vestal do Congresso. Demóstenes sempre posou de moralista no Senado e tinha até aspirações de candidatar-se à presidência da República. Agora, o rei está nu. O senador é íntimo de um contraventor e seu informante, passando-lhe informações sigilosas das reuniões que mantinha no Legislativo e no Judiciário. Enfim, mais um marginal travestido de parlamentar.]

Na tarde desta terça-feira, Gurgel recebeu deputados e o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Segundo os parlamentares, o procurador afirmou que pedirá a abertura nas "próximas horas". [Esse Sr. Gurgel reteve, inexplicavelmente, por dois anos e meio (desde 2009) um pedido de processo exatamente contra Demóstenes. Tudo faz crer que se tratou de mais uma demonstração de baixo nível do espírito corporativo entre togados, já que Demóstenes é promotor público em Goiás desde 1983. E nada vai acontecer ao Sr. Gurgel, nem um processozinho por prevaricação?! É surpreendente a facilidade com que juízes togados procrastinam decisões impunemente, por tempos absurdos, e nada lhes acontece. Ainda há pouco, o STF julgou um processo que, por 50 anos (!!), esteve passando de mão em mão entre vários de seus ministros -- só o último relator, Cezar Peluso, atual presidente do Supremo, reteve consigo o processo por quase 9 anos (recebeu-o em 26 de junho de 2003)!

Demóstenes admite que recebeu de Cachoeira um telefone especial para conversas entre os dois. A investigação policial gravou cerca de 300 diálogos entre o senador e o empresário de jogos por pelo menos oito meses.  O democrata também ganhou de Cachoeira um fogão e uma geladeira, presentes que segundo Demóstenes foram oferecidos por um "amigo" quando se casou no ano passado.

Comissão de Ética

Além da investigação do Ministério Público Federal, o PSOL também anunciou hoje que vai pedir a abertura de um processo no Conselho de Ética do Senado contra Demóstenes por quebra de decoro parlamentar. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a decisão do procurador-geral da República de pedir a abertura de inquérito contra o democrata, é "inevitável" a investigação pelo conselho. O processo pode resultar na cassação do senador do DEM.

Afastamento

Demóstenes pediu nesta terça-feira para deixar a liderança do DEM no Senado. Em meio às denúncias de ligação com o empresário, ele enviou carta para o presidente do partido, senador José Agripino (DEM-RN), formalizando o pedido para se afastar da liderança.  "A fim de que eu possa acompanhar a evolução dos fatos noticiados nos últimos dias, comunico a Vossa Excelência o meu afastamento da liderança do Democratas no Senado Federal", afirmou em carta de três linhas endereçada a Agripino.

O presidente do DEM afirmou que a bancada do partido no Senado vai se reunir para escolher o novo líder na Casa. "Quem vai assumir é quem a bancada decidir", disse Agripino. 

Abatido, Demóstenes passou a manhã em seu gabinete no Senado, mas não circulou pelos corredores da Casa. O democrata procurou líderes partidários para pedir apoio político. Disse que espera o julgamento criminal pela Procuradoria Geral da República, mas espera ser poupado de um processo no Conselho de Ética do Senado -- que poderia lhe acarretar a perda de mandato.

Demóstenes está esmolando o apoio de todos os líderes do Senado, e parece ter conseguido o que queria de Renan Calheiros [que dupla, hem?].

Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) em sua fase moralista - (Foto: Wikipedia).

Senador Demóstenes Torres, ao sentir o céu cair-lhe sobre a cabeça - (Foto: Ailton de Freitas/Arquivo O Globo).

Fim da farra sem-vergonha? Comissão do Senado aprova fim de 14° e 15° salários para parlamentares

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou projeto que extingue o 14º e o 15º salários pagos aos parlamentares. Apesar do protesto de alguns senadores, todos votaram a favor do projeto da senadora licenciada e ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Pela proposta, senadores e deputados só vão receber a chamada ajuda de custo no início e no final da legislatura, e não a cada ano, como ocorre hoje. [É um sacrifício sobre-humano comentar este tipo de notícia sem dizer um palavrão! Que safadeza, que pilantragem, que molecagem, que gozação é essa desses dois salários extras para esses sacripantas?!! E pensar que esses néscios recebem ainda auxílio moradia, plano de saúde, auxílio passagem, e sei lá que outras mordomias!!!]

Atualmente, cada parlamentar recebe dois salários, de R$ 26,7 mil cada, nos meses de fevereiro e dezembro. O projeto seguirá para votação pelo plenário do Senado e, se aprovado, vai para a Câmara dos Deputados. [Agora vamos, certamente, ver um festival do espírito corporativo safado que impera nas duas Casas do Congresso, principalmente se a votação for secreta, como reza a cartilha da pusilanimidade que impera entre deputados e senadores, incapazes da hombridade de votar abertamente em assuntos que os afetam direta ou indiretamente. Vai ser um milagre extraordinário se isso passar nos dois plenários!...]

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), relator da matéria, disse que os extras, que ele chamou de "ajuda de custo", não se justificam mais. [É muita cara de pau chamar isso de "ajuda de custo"!]. Segundo ele, a verba começou a ser paga para custear as despesas com a mudança dos parlamentares e seus familiares para o Rio de Janeiro, antiga sede do poder Legislativo, e para Brasília, com a transferência da sede. Lindbergh disse que, embora não concorde com setores que queiram "demonizar" os políticos, o benefício não deve ser mantido [se não deve ser mantido é porque é indevido e injustificável, e recebimento do que é indevido e injustificável é no mínimo imoral e antiético -- onde está então a tal "demonização"?!]. "Não dá para explicar a um trabalhador nos estados que recebemos recebendo 14º e 15º salários", afirmou.  O senador Sérgio Souza (PMDB-PR) disse que atualmente o pagamento dessa verba não se justifica mais. "Hoje Brasília está perto de qualquer capital do Brasil".

Coube ao senador Cyro Miranda (PSDB-GO) a maior reclamação pública à proposta. Apesar de votar favoravelmente, Miranda disse ter "pena" de quem sobrevive apenas com o salário de parlamentar. Não é o caso dele, disse. "Eu tenho pena daquele que é obrigado a viver com R$ 19 mil líquidos com esta estrutura que temos aqui", criticou o senador, que é empresário com patrimônio declarado à Justiça Eleitoral, em 2006, de R$ 3 milhões. [E pensar que um cidadão como esse, com essa mentalidade miúda e rasteira, com essa visão mercantilista e de profundidade micrométrica de ética, é membro da chamada "Casa Alta" do nosso Congresso!...]

O senador Benedito de Lira (PP-AL), outro que votou favoravelmente, chegou a ironizar a proposta. Durante as discussões, ele sugeriu que, para ocupar o cargo de senador, o candidato tenha "honorabilidade".

Para dar mais "equilíbrio" [??] à discussão, a senadora Ana Amélia (PP-RS) sugeriu que fosse aprovado um projeto para proibir ministros de Estado, especialmente aqueles oriundos do Legislativo, de acumularem salário com jetons recebidos por participação em conselhos de estatais. [Nada nessa história é justificável e aceitável. Ministro de Estado tem, única e exclusivamente, que cuidar de sua pasta -- isso de ministro participar de conselho de estatal é jogada eivada de segundas e terceiras intenções, em benefício próprio, do seu partido e do governo sob qualquer hipótese, e esse cidadão ainda ganha um extra p'ra fazer esse papel.]

O senador Ivo Cassol (PP-RO), que pediu vista do projeto na semana passada, faltou à reunião por estar em agenda política no seu estado. De todo modo, Cassol pediu em documento enviado a Lindbergh Farias que a verba não seja considerada salário e sim de natureza indenizatória. A modificação excluiria a regalia da incidência de imposto de renda. O relator acatou a sugestão. [Esta é de cabo de esquadra! Quer dizer que senador tem competência e poder p'ra fazer de uma mutreta outra mamata, assim, na cara de pau? E como é que fica a Receita Federal nessa história?! Verba "indenizatória" de quê, cara pálida?!!]

[O que é profundamente desanimador é que, mesmo com essa enxurrada de detritos éticos, com essa molecagem desenfreada, com essa absoluta falta de caráter, com esse comportamento que transformou, transforma e, pelo visto, continuará transformando a Câmara e o Senado numa espécie de lixão onde se deposita o que não presta na política, o grande eleitorado continua elegendo esse tipo de gentinha!!]

Custo Brasil: impostos e ganância

O artigo abaixo, que me foi encaminhado pelo dileto amigo Levy, é de autoria do eng° Humberto Viana Guimarães (engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e saneamento) e foi publicado ontem no JB (Jornal do Brasil) virtual. Ele aborda unicamente o chamado "custo Brasil" nos bens de consumo -- embora em alguns casos, principalmente no caso de carros, por exemplo, o custo ao consumidor reflita também o custo dos bens de produção desses produtos --   e chama a atenção para um detalhe que compõe esse custo e que afeta diretamente nosso bolso e nosso orçamento, que é a recorrente ganância e o oportunismo pilantra de nossos comerciantes. A reprodução do artigo não significa necessariamente que endosso tudo o que ele diz, e como o faz, mas acho sua abordagem interessante. Os comentários entre colchetes e em itálico são de minha responsabilidade.

Toda vez que se comenta sobre o chamado “custo Brasil”, sempre se dá ênfase à carga tributária praticada no nosso país que, diga-se de passagem, é uma das maiores do mundo e, com toda a razão, à cambaleante infraestrutura em todos os setores. No entanto, após uma análise mais apurada nos preços de determinados produtos vendidos no comércio, nos damos conta de que, além dos impostos diretos e indiretos, há uma alta carga de ganância nos preços. [É indispensável lembrar também o "custo Brasil" que atinge pesadamente os bens de produção ou bens de capital no país e que envolve, entre outros, a mão de obra e a energia elétrica, sem falar na infraestrutura e na educação fortemente deficientes -- grande parte destes custos incide, obviamente, também sobre os bens de consumo.]

Para se chegar a esta conclusão, basta comparar os preços de alguns produtos – do mesmo fabricante e modelo – vendidos no exterior e no Brasil. Desde já, aviso aos gananciosos apressadinhos, que queiram explicar o inexplicável, que os números que mostro neste texto são resultado de observações e anotações pessoais e de minha família durante viagens internacionais.

Nota: as marcas e produtos citados neste texto são marcas registradas de seus proprietários (trademark, ™) a quem pertencem todos os direitos ®. Para que não fique nenhuma dúvida a respeito da distorção nos preços praticados no exterior e no Brasil apresentados neste texto, informo que todos os produtos citados foram pesquisados durante o mês de fevereiro deste ano, nos Estados Unidos, em Shopping Centers ou em centros comerciais de primeira linha.

Vejamos alguns exemplos de preços. Para facilitar o raciocínio, optei em considerar a paridade de 1 US$  = R$ 2,00. Um par de tênis – modelo de ponta, aquele que vem com gel na palmilha e calcanhar – da marca Asics custa no máximo US$ 150,00 (cento e cinquenta dólares). Esse mesmo tênis no Brasil custa R$ 920,00 (novecentos e vinte reais), equivalente a US$ 460,00, ou seja, com o preço que se paga por um par no Brasil, compram-se três nos Estados Unidos. Convenhamos que toda essa diferença de preço não é só transporte, seguro e impostos; aí está embutida uma alta carga de ganância do lucro fácil. [Pode ser e, certamente, muitas vezes é, mas toda generalização é perigosa. O autor pesquisou preços em shoppings e centros comerciais americanos, e espero que tenha feito o mesmo com os preços brasileiros. Longe de sequer pensar em defender nossos comerciantes -- vade retro Satanás! --, é essencial não esquecer que preços de produtos vendidos nesse mesmo tipo de estabelecimento no Brasil embutem custos pesadíssimos, como luvas, aluguel, energia elétrica, custos do "condomínio", etc. Quem bota os pés num shopping aqui tem que estar consciente de que pagará um "plus" frequentemente respeitável.]

O excelente cosmético para cabelos da marca Moroccanoil, fabricado em Israel, e mundialmente conhecido por sua qualidade (diga-se de passagem, todos os produtos israelenses), é outro exemplo de distorção nos preços. O kit básico para cabelo feminino (ou masculino, desde que seja comprido) composto de xampu, óleo e máscara sai por US$ 99,00 (noventa e nove dólares). Segundo fui informado por minha esposa e minha filha, o preço no Brasil é no mínimo duas vez e meia mais. Segundo elas, uma simples aplicação desses produtos em um salão de beleza não sai por menos de R$ 180,00. Haja lucro! [Ver comentário acima.]

No que toca à informática e telefonia, a distorção de preços continua. O notebook mais caro que vi foi um MacBook Air 13” (na própria loja da Apple), de última geração com HD com memória flash por US$ 1.299,00, equivalente a R$ 2.600,00. Na rede de lojas Best Buy, uma das maiores na área de informática nos Estados Unidos, não vi nenhum outro notebook com preço acima de US$ 900,00 (novecentos dólares). Obviamente que não dá para fazer comparações com os preços praticados no Brasil.

No tocante aos iPhones, do mesmo fabricante Apple, modelo 4S, lançado nos Estados Unidos no segundo semestre do ano passado, anotei os seguintes preços: 16 GB, US$ 649,00; 32 GB, US$ 749,00; e 64 GB, US$ 849,00. No Brasil, a depender do plano por que o consumidor optar, o preço do modelo de 64 GB pode custar até R$ 3.400,00 ou US$ 1.700,00, o dobro do praticado nos Estados Unidos.

No tocante ao combustível, observei que o preço máximo do galão (3,785 litros) de gasolina estava em US$ 3,55, o equivalente a R$ 1,87 o litro, enquanto no Brasil era próximo dos R$ 3,00.  [Independentemente do tipo de gasolina americana apontado, a coisa poderia ser pior e tende a sê-lo, talvez mais cedo do que se pensa, porque a gasolina hoje no Brasil tem preço político (= demagógico = burro) e artificialmente controlado para baixo, e a nova presidente da Petrobras já sinalizou que isso pode mudar (é só Dª Dilma deixar ...).]

Pergunto: como pode ser que, sendo os Estados Unidos o maior importador de petróleo e derivados do mundo – 65,0% do que consome são importados (fonte: U.S. Energy Information Administration, EIA, www.eia.gov) – tenha um combustível barato e sem subsídios? A resposta é simples: a escorchante carga tributária que incide sobre os combustíveis e demais produtos no Brasil. [Ver comentário acima.] - Enquanto a distribuição e revenda que empregam milhões de pessoas nas distribuidoras e nos postos de abastecimento arcam com os riscos do negócio e ficam somente com no máximo 11,0% do custo final dos combustíveis, o ICMS sozinho leva mais de 25,0%. Alguém já viu ou ouviu algum governador de estado reclamar da carga tributária da conta de luz e dos combustíveis?

A verdade é uma só, e não adianta sofismar com explicações fajutas. Enquanto o Brasil tiver essa absurda carga tributária e a mentalidade do lucro imediato, continuará sendo um grande exportador de commodities baratas e importador de manufaturados caros.




Fundo de Abu Dhabi compra parte da EBX

A Mubadala Development Company, fundo soberano do governo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, anunciou nesta segunda-feira que adquiriu uma participação acionária preferencial (sem direito a votos) de 5,63% na holding EBX, controlada pelo empresário brasileiro Eike Batista. O valor do negócio é de
US$ 2 bilhões. 

É a primeira vez que a Mubadala investe em uma empresa brasileira. Em nota, o fundo, que é responsável pelo investimento e desenvolvimento estratégico do emirado, afirmou que a parceria lhe permitirá obter uma participação indireta tanto nas empresas de capital aberto (OGX, OSX, MMX, LLX e MPX) como também nas de capital fechado (AUX, REX e IMX) do grupo EBX.  Segundo a EBX, os recursos provenientes do acordo serão usados para reforçar a estrutura de capital da holding brasileira, além de alavancar o desenvolvimento de novos negócios.

O acordo foi firmado semanas após o empresário brasileiro avançar uma posição no ranking de bilionários publicado anualmente pela revista americana Forbes. Depois de ocupar o oitavo lugar em 2010 e 2011, Batista é agora o sétimo da lista, com um patrimônio avaliado em US$ 30 bilhões (R$ 52,6 bilhões).


Mais um microfone ligado deixa Obama de calça-curta

Na vida real, e principalmente na política, há pelo menos dois inimigos mortais: uma esposa ou companheira insatisfeita, e um microfone ligado mas despercebido. Obama certamente vai querer ser mais cauteloso quando estiver perto de microfones. Pela segunda vez em seis meses, um microfone ligado captou uma conversa privada entre o presidente americano e um líder mundial, desta vez o líder foi o presidente russo, Dmitri Medvdev [da outra vez, o interlocutor de Obama foi o presidente francês Nicolas Sarkozy].

Em Seul, nesta segunda-feira, Obama assegurou ao presidente russo, que está deixando o cargo, que se poderá chegar a um acordo sobre um controverso sistema de defesa por mísseis  após a eleição deste ano. "Isso pode ser resolvido, mas é importante que ele me dê algum espaço", referindo-se ao recém-eleito presidente russo, Vladimir Putin. "Essa é minha última eleição. Depois de eleito, terei mais flexibilidade".

O programa CBS News e a CNN têm um áudio dessa conversa, que se seguiu a um encontro de 90 min entre Obama e Medvdev sobre um sistema de defesa por mísseis que os EUA planejam instalar na Europa. A rússia se opõe vigorosamente a tal projeto, mas os EUA argumentam que ele é necessário como proteção contra um Irã nuclear.

O candidato potencial do Partido Republicano à presidência americana, Mitt Romney aproveitou imediatamente esse registro indiscreto em um comício em San Diego horas depois, classificando de "alarmantes" e "perturbadoras" as afirmações do presidente. O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, juntou-se à rixa pelo Twitter:  "Ficamos na expectativa de saber o que ele quis dizer com 'mais flexibilidade' na defesa com mísseis".

O incidente fez lembrar um outro, também embaraçoso, ocorrido em novembro passado, quando um microfone captou uma troca de comentários depreciativos entre Obama e o presidente francês, Nicolas Sarkozy  sobre o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu: "Você está de saco cheio com ele, mas tenho que lidar com ele mais frequentemente do que você", ouviu-se Obama dizer a Sarkozy numa reunião econômica do G-20.

Obama pede ajuda política ao presidente russo Dmitri Medvdev em Seul, sem saber que o microfone estava ligado - (Foto: Ria Novosti/EFE).

segunda-feira, 26 de março de 2012

Segurança da urna eletrônica brasileira volta a ser manchete (II)

Considerando a importância do assunto e a repercussão que vem tendo no blogue (pelo número de acessos já realizados), acho oportuno acrescentar novos esclarecimentos relativos ao conceito de "código aberto".


Complementando minha postagem anterior:
  • o Linux é um sistema operacional, por acaso todo implementado com código aberto, mas isto não significa que os programas que rodem sobre o mesmo tenham que ser também opensource. Existem sofwtares caríssimos, proprietários, que são feitos em regime de código fechado, e possuem versão para o Linux (p.ex. Maya, JIRA etc.).
  • empresas que vivem de vender seus produtos muitas vezes apoiam projetos opensource (às vezes até mesmo desenvolvem seus próprios). Até a Microsoft faz isso. O Google é outra empresa que possui grande envolvimento com a comunidade opensource.
  • do jeito que expus, parece que o código do programa que controla as urnas é opensource, mas não dá pra afirmar isso categoricamente. Se o TSE implementou tudo "do zero" (como é o caso p.ex. do programa do IRPF), só precisa ser opensource se eles quiserem (o que, obviamente, não é o caso). Inclusive, o TSE pode até ter criado uma versão customizada do Linux para rodar especificamente no seu hardware (neste caso, obrigatoriamente também opensource), mas isto está de acordo com o que foi dito -- como só eles usam, não são obrigados a repassar nada pra ninguém.
  • existem várias outras licenças opensource além da GPL e LGPL, cada uma com suas características.
O conceito de código aberto cria situações que às vezes parecem paradoxais. P.ex. a RedHat, líder no mercado de Enterprise Linux, vive de vender suporte para as diferentes versões do RedHat Linux; mas, como seu código é aberto (GPL), quem não quiser o nível de suporte por ela oferecido, pode obter exatamente o mesmo produto (gerado a partir do mesmo código-fonte, mas sem nenhuma referência -- nome ou logo -- ao RedHat Linux) do projeto CentOS. Neste caso, o suporte vem da comunidade de usuários.

Será que o governo Dilma agora deslancha?...

Analisado friamente, o primeiro ano do governo Dilma foi fraquíssimo de realizações, pleno de "intenções" e com muito tempo e energia gastos com atividades de assepsia no ministério, para defenestrar ministros corruptos herdados do governo do criador, mentor e tutor da presidente, Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata (NPA), e por ele acobertados e estimulados (pelo menos por omissão).

Dilma esteve durante todo o mandato lulista coladinha no presidente, primeiro como ministra de Minas e Energia, depois como chefe da Casa Civil (só neste cargo ficou cinco anos). Com tanta intimidade com o poder, e não tendo -- que se saiba --  histórico de problemas de visão e audição, e nem remotamente sofrendo de obtusão intelectual, é simplesmente impossível que ignorasse a bandalha que rolava em vários ministérios do NPA, praticamente todos envolvidos direta e relevantemente com o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento (que, dizem as más línguas, o NPA na realidade chamava de "Para 'Aonde' Caminhamos?", com seu português magistral), da qual virou mãe, gestora e capataz.

Sua integridade moral individual permanece inatacável, em todos os cargos que ocupou, apesar desse estranho convívio com a bandalha e de sua demora em atacar na raiz os problemas depois que ficou dona da caneta. Vários poderiam ser os motivos, dizem. Um deles poderia ser o de evitar o constrangimento de figurar como a autora da iniciativa de escancarar o sempre vislumbrado, mas nunca escancarado lado corrupto do NPA, seu padrinho, mentor e tutor. Isso pode "explicar" sua atitude, mas justificar é que são elas.

O PAC, a menina dos olhos do segundo mandato do governo do NPA, foi instituído pelo Decreto n° 6.025, de 22 de janeiro de 2007. Em 2 de junho de 2010 o governo fez o 10° balanço desse programa, que mostrou que foram concluídas apenas 46,1% das ações do programas previstas para o período de 2007 a 2010, com um orçamento de R$ 302,5 bilhões de um total de R$ 656,5 bilhões previstos para aquele período.  Nesse balanço, a imagem de Dilma como gestora do PAC já fica mal na fotografia.

No dia 23 de março de 2010, há praticamente dois anos atrás, o NPA lançou o PAC2, com investimento previsto de R$ 1, 5 trilhão entre 2011 e 2014 em áreas de alta sensibilidade social, como moradia e saúde. Na realidade, o PAC2 tinha uma previsão de investimento de R$ 958,9 bilhões entre 2011 e 2014, com previsão de injeção de mais R$ 631,6 bilhões em obras no pós-2014, perfazendo assim os R$ 1,5 trilhão. O PAC2 tinha nitidamente uma forte componente eleitoral, pois foi lançado apenas uma semana antes de Dilma se desincompatibilizar do cargo para concorrer às eleições presidenciais.

Passado o primeiro ano do governo Dilma, no início de 2012 os dados mostravam que os investimentos do PAC(2) continuavam inferiores a 4,1% da despesa primária do governo federal, e equivaliam a apenas 1% do PIB, sem tendência de alta.  Novamente, a figura de Dilma, agora ainda mais "mãe" desse programa e dona da caneta, é extremamente frustrante e negativa. Começaram a aparecer os inúmeros furos do queijo suiço do PAC(2) -- a transposição do rio São Francisco por exemplo, uma obra desse programa, teve seu custo aumentado em 71% e pulou de 4,8 bilhões para R4 8,2 bilhões desde o início do governo Dilma. Outro ponto contra a presidente.

Há outras cifras que desmentem a aura de executiva e executora de obras que cerca a presidente. Em 2011 (primeiro ano de seu governo), a arrecadação federal foi de R$ 969,907 milhões contra R$ 826,519 milhões em 2010, um crescimento de 10,1% -- no entanto, no mesmo período, o investimento público federal praticamente estagnou (R$ 47,5 bilhões em 2011 contra R$ 47,1 bilhões em 2010, uma variação de apenas 0,8%), segundo dados do Tesouro Nacional. Para onde foi a enorme diferença entre o arrecadado e o investido?! Perguntem à presidente.

Em sua entrevista à revista Veja que está nas bancas, Dilma afirma categoricamente que: - i) é contra o protecionismo puro e simples (apesar do IPI dos carros importados, da sobretaxa que se pensa impor aos vinhos importados, etc); - ii) será intransigente contra a corrupção, e "não gosta desse negócio de toma lá dá cá"-- está difícil acreditar nisso, com a demora que levou p'ra defenestrar os ministros corruptos e a proteção exacerbada, ostensiva e acintosa que dá ao ministro Fernando Pimentel, titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), contra quem pairam acusações graves que Dilma não deixa apurar; - iii) a carga de impostos é alta  e vai baixá-la.

As intenções são ótimas, de bem intencionados o inferno está cheio, e 2011 mostrou que a presidente é excelente nas promessas (desde os palanques) e bastante ruim -- tendendo para péssima --  no cumprimento delas. Com relação, por exemplo, ao item iii) acima, no programa Globo News Painel de ontem o conceituado economista e consultor Alexandre Schvartsman  destoou fortemente dos outros dois debatedores (o economista Roberto Gianetti da Fonseca, ex-secretário executivo da Camex presidente da ABIEC - Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, e Ingo Plöger, engenheiro e economista, com inúmeros cargos de destaque no Brasil e no exterior) e  afirmou que a recente reunião de Dilma com 28 empresários e suas promessas de redução da carga tributária não vão dar em nada, que há décadas se fala de reforma tributária no Brasil e não se avançou um centímetro. Desafiou o moderador do programa, o jornalista William Waack, a marcar novo programa sobre esse assunto a daqui seis meses para comprovar que sua previsão foi correta. Acho, infelizmente, que Alexandre está coberto de razão.

Nesse meio termo, vamos ver até onde irá e no que vai dar a queda de braço de Dilma com o Congresso. Há quem diga que ela vai vencer, porque tem a caneta -- o problema é acabar a tinta e/ou a pena pifar.