Após eleições que há dois anos o levaram rapidamente a um poder avassalador -- dois terços de maioria parlamentar oferecidos por uma população entediada e desgostosa com o caos e o desgoverno de socialistas e liberais -- Orbán se engajou em uma reforma constitucional e do Estado muito questionada em Bruxelas (Banco Central, juízes, privacidade, imprensa), que o obrigou a corrigí-la parcialmente. Mas, não o suficiente: pesa ainda sobre a Hungria a ameaça de ser colocada perante o Tribunal da UE por violar o acervo comunitário.
Orbán aparenta calma e mantém a compostura em suas relações oficiais com Bruxelas e o Parlamento Europeu, que o vigia bem de perto. Mas, a decisão de terça-feira dos ministros de Finanças europeus de não transferir para a Hungria 495 milhões de euros em 1 de janeiro de 2013, como punição por seus desvios orçamentários, a menos que seu governo se corrija e faça antes de 22 de junho esforços confiáveis para conter seu exagerado deficit, soou para Orbán como um golpe de castigo.
Em Budapest, diante de 250 mil húngaros (segundo estimativas de seu governo) em comemoração ao dia nacional, aniversário do levantamento de 1848 contra o império dos Habsburgos, Orbán decidiu na quinta-feira partir para a guerra verbal contra Bruxelas, como quando seus ancestrais se levantaram contra Viena. "O programa político e cultural de 1848 era este: não seremos uma colônia! O programa e o desejo dos húngaros em 2012 são este: não seremos uma colônia!", gritou diante da multidão entusiasmada. "Os húngaros não permitirão que os estrangeiros lhes digam como têm de viver, não renunciarão à sua independência e à sua liberdade e, consequentemente, não renunciarão à sua Constituição".
"Os burocratas europeus nos olham hoje com desconfiança porque lhes dissemos: necessitamos de outra maneira de fazer as coisas", prosseguiu. "Em 48 dizíamos que tínhamos que derrubar os muros do feudalismo, e tínhamos razão. Em 56 [1956, o levantamento contra a URSS] dizíamos que tínhamos que romper com o círculo do comunismo, e tínhamos razão. Também hoje nos olham com desconfiança".
É preciso ver até onde vai a fúria retórica de Orbán, e como reagirá o Parlamento Europeu. A Comissão Europeia chegou ontem [quinta-feira] o mais longe que pôde, com uma resposta inusitadamente dura da porta-voz do presidente José Manuel Durão Barroso: "Quem compara a UE com a URSS não é capaz de entender a contribuição de quem lutou pela liberdade e pela democracia". [Sem, no momento, tomar partido nessa disputa, acho indispensável ter em conta a expressiva história de lutas do povo húngaro pela sua liberdade.]
O primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán durante seu discurso - (Foto: Reuters).
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