terça-feira, 20 de março de 2012

A lamentável e ainda inexplicada morte do jovem brasileiro na Austrália

Primeiro foi Jean Charles de Menezes, 27 anos, morto em Londres em 22 de julho de 2005; agora, foi Roberto Laudisio Curti, de 21 anos, morto em Sydney, Austrália, em 18 de março de 2012. Pontos em comum nas duas mortes: ambos foram mortos pela polícia, e as duas polícias são de países da Comunidade Britânica ou Comunidade das Nações (Commonwealth). O primeiro assassinato, perpetrado pela Scotland Yard, foi varrido para debaixo do tapete, ninguém foi punido -- e o segundo, cometido pela polícia australiana, parece caminhar para o mesmo desfecho.

As alegações policiais, nos dois casos, são escapistas e revoltantes. Jean Charles teria sido confundido com um suspeito de terrorismo, e Roberto teria roubado um pacote de biscoitos e/ou estaria drogado. Jean Charles foi morto a tiros, e Roberto com disparos de tasers. O que é um taser? É uma arma de eletrochoque, que usa corrente elétrica para impossibilitar o controle voluntário dos músculos e provoca fortes contrações musculares involuntárias. Embora introduzido e considerado como uma arma não letal, o taser tem tido seu uso sujeito a controvérsia, com a incidência de vários incidentes com sua utilização, envolvendo ferimentos sérios ou mesmo morte. Em 2009, a Taser (que emprestou seu nome à arma que fabrica) lançou o modelo X3, capaz de atirar três vezes sem recarga -- este pode ter sido o modelo usado contra Roberto.

Roberto estava em Sydney (capital do estado de New South Wales - NSW) estudando inglês há menos de seis meses, e morava na cidade com sua irmã casada e ali radicada. O jornal australiano Brimbank Weekly faz seu relato sobre a morte de Roberto. Fala do sentimento de perda e de perplexidade da família do rapaz, que era querido por todos, parentes e amigos. Relata que o ministro das Relações Exteriores brasileiro ordenou ao consulado do país na cidade que prestasse auxílio à família de Roberto e "obtivesse os necessários esclarecimentos das autoridades australianas", segundo a Agência France-Presse (AFP).

O diretor da agência internacional estudantil Information Planet, que traz cerca de 1.500 brasileiros a Sydney a cada ano, disse que "o incidente comprometeu a imagem internacional da Austrália".

A polícia australiana disse acreditar que Roberto estava numa loja de conveniências na King Street cerca de meia hora antes de morrer, onde testemunhas disseram que ele estava "espumando pela boca" e dizendo coisas sem nexo. Ainda não está claro quantos tasers foram disparados quando a polícia perseguia Roberto. O escritório do ouvidor de NSW confirmou que, de maneira independente, supervisionaria as investigação sobre a morte de Roberto. Inexplicavelmente, não foram ainda divulgadas as imagens da câmara de segurança da loja de conveniências durante a permanência de Roberto ali.

Se examinarmos as fotos abaixo, que mostram o corpo estendido e coberto de Roberto com um policial ao lado, podemos ver pela diferença de iluminação que o corpo do brasileiro teria ficado algumas horas na calçada.

Fico imaginando a reação da mídia e da opinião pública inglesa e australiana, se Jean Charles e Roberto fossem, respectivamente, um inglês e um australiano, morto o primeiro pela polícia carioca no Rio e o segundo pela polícia paulista, em São Paulo ...

Roberto Laudisio Curti, 21 anos, morto pela polícia de Sydney (Austrália) em 18/3/2012 - (Foto: Facebook.com).

Policial delimita a área à volta do corpo de Roberto - (Foto: Damian Shaw).

 Policial fotografa o local onde está o corpo coberto de Roberto - (Foto: Damian Shaw).

Policial monta guarda ao lado do corpo de Roberto (observem a iluminação ambiente e comparem-na com a das fotos anteriores) - (Foto: Steve Harris).

Nenhum comentário:

Postar um comentário