[Hoje,no Brasil, quando o assunto é aviação civil "lato sensu", a discussão se restringe a tentar saber a extensão do caos em que nos encontramos, e até onde nossa segurança física está comprometida. A reportagem abaixo, publicada no jornal O Estado de S. Paulo de hoje, preocupantemente nos deixa perceber claramente o nível de irresponsabilidade a que chegamos, com a conivência e a omissão do governo federal. Também nesse setor, nada que é estatal presta, nem a Anac nem a Infraero -- e o assustador é que a Infraero terá 49% de participação em cada consórcio vencedor da privatização de aeroportos bolada pelo PT.]
A falta de regulação no transporte aéreo de cargas no Brasil impede a fiscalização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e põe em risco a vida de passageiros e funcionários das empresas de aviação. Estudo
interno da agência reguladora alerta há cerca de um ano para a falta de
um regulamento claro, mas até agora nada foi feito e o estudo continua
na gaveta.
O documento, obtido com exclusividade pelo Estado, conclui que a
fiscalização de cargas pela Anac está restrita ao peso dos objetos
transportados e seu balanceamento na aeronave. O regulador também
consegue ter controle sobre as cargas de valor e outros artigos
perigosos no interior das companhias aéreas, mas boa parte dos volumes
transportados não passa atualmente pelo crivo da agência. "Dessa forma,
na atual estrutura da Anac, não há superintendência responsável por
regular e fiscalizar o transporte aéreo de carga", relata a nota
técnica.
Por isso, parcela significativa dos viajantes de avião no País está
exposta a riscos oriundos de cargas ditas "especiais", como animais
vivos, restos mortais, produtos perecíveis e artigos controlados - como
armas, munições, explosivos e materiais radioativos - que não
necessariamente foram fiscalizadas pelo órgão responsável pela segurança
de voos no Brasil.
O problema é maior nos voos domésticos, já que no transporte de cargas
ao exterior os regulamentos internacionais tendem a ser obedecidos. Além
disso, ainda que a agência não possa fiscalizar de maneira eficaz o
transporte internacional de cargas, outros órgãos do governo atuam nessa
área, como Receita, Anvisa e Polícia Federal. Mesmo assim, o documento aponta falhas identificadas por autoridades
estrangeiras em contêineres embarcados no Brasil. "A Anac recebeu
reportes da autoridade americana, com fotos das irregularidades
encontradas no acondicionamento da carga", diz o relatório.
Para os voos domésticos, porém, não há regulamentação ou as normas
existentes estão defasadas e não podem ser aplicadas. As companhias
associadas à Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na
sigla em inglês) precisam obedecer a normas para transportar animais
vivos, mas no País nem sempre essas regras são cumpridas, já que não há
quem as fiscalize.
Cão. O relatório cita o caso de um cachorro da raça pinscher que invadiu
a pista do Aeroporto de Congonhas em dezembro de 2010 e atrasou seis
voos. Para ilustrar os riscos potenciais da falta de regras, o documento
cita um incidente no Congo em outubro do mesmo ano, quando um crocodilo
escapou do compartimento de carga, causando pânico na tripulação,
culminando com a queda da aeronave e a morte dos 20 passageiros.
E apesar de a Anvisa ter normas explícitas para o transporte de
cadáveres em aeronaves civis, a Anac não possui regulamentação similar.
"Atualmente existe grande demanda no transporte como bagagem de mão das
cinzas de um corpo cremado. Os passageiros insistem em transportar junto
a si os restos mortais do ente querido. Por outro lado, os outros
passageiros se sentem desconfortáveis com essa ação", detalha o
documento.
O relatório foi concluído no começo de maio do ano passado, mas foi
arquivado pela diretoria da Anac, segundo informações obtidas pelo
Estado [que bela agência essa Anac, hem?!]. Procurados pela reportagem, nenhum membro da agência comentou a
falta de regulação. Em nota, o órgão afirmou que se trata apenas de um
estudo preliminar, "sem conteúdo decisório", mas poderá subsidiar a
edição de futuros atos regulatórios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário