sexta-feira, 16 de março de 2012

Mais um retrato escabroso da saúde pública no Brasil

Ontem ou anteontem, um noticiário da Globo News mostrava ao vivo um atendimento de emergência a um motociclista acidentado na cidade de São Paulo. Depois de mais de meia hora, finalmente chegou a ambulância pública, foram prestados os primeiros socorros e o ferido foi colocado no veículo. No exato momento em que a ambulância ia sair, ocorreu no mesmo local outro acidente envolvendo outro motociclista. Verificando que o estado do segundo acidentado era mais grave que o do primeiro, a equipe paramédica retirou este último da ambulância para que o outro fosse embarcado. O primeiro ficou na calçada aguardando outra ambulância.

Até aí, tudo parecia algo que infelizmente virou rotina neste país, que é o péssimo atendimento do sistema de saúde pública. Mas, o que me deixou estarrecido foram as estatísticas mencionadas no noticiário: a cidade de São Paulo dispõe de apenas 160 ambulâncias públicas, que no país inteiro somam 2.000!! Pasmem: a cidade mais rica do país, com mais de 11 milhões de habitantes, não tem nem 200 ambulâncias públicas, e o país todo tem aquelas ridículas 2.000!!

Procurei onde pude e sei a confirmação desses números, mas consegui apenas o número de ambulâncias do SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência na cidade de S. Paulo, e encontrei um número ainda pior: 140 ambulâncias e 36 motos. Quando se começa a escarafunchar esse tipo de informação, os podres começam a aparecer -- um exemplo: Salvador tem 103 ambulâncias do SAMU, das quais apenas 36 estão circulando. Pergunta óbvia: que critério maluco é esse, que faz com que uma cidade (Salvador) que tem 33% da população de outra (São Paulo) tenha 74% do número de ambulâncias que a maior tem?! E por que ambas têm tão poucas ambulâncias?

Outro aspecto chocante é o número de ambulâncias novas do SAMU paradas. Em meados de dezembro de 2011 havia nada menos que 648 ambulâncias novas desse serviço paradas em todo o país. E a gestão da saúde pública no Brasil é tão bizarra, que há inúmeras prefeituras que têm uma ambulância novinha à sua disposição, desistiram de participar do SAMU porque não conseguem operar as ambulâncias devido ao seu alto custo de manutenção (quase R$ 50 mil por mês no interior de S. Paulo), querem devolvê-las e não conseguem!  E há ainda casos estranhos como o do Estado do Rio, que em julho do ano passado foi chamado a se explicar por que estava descartando 40 de 50 ambulâncias compradas em data recente do quartel de bombeiros de Guadalupe. Detalhe: todas as demais ambulâncias estavam paradas e, além delas, havia ainda outras 29 do Corpo de Bombeiros quebradas no resto do Estado.

Essa questão das ambulâncias é apenas uma das inúmeras facetas da esculhambação generalizada da saúde pública no país -- e, nesse saco de gatos, estão metidos principalmente os governos federal e estaduais. Assim que assumiu o governo, em janeiro de 2011, Dª Dilma fez um enorme corte no orçamento da União, e o Ministério da Saúde (junto com o da Educação) foi um dos que sofreu maior corte.  Mesmo com esse descalabro, nossa ilustre presidente persiste na teimosia de implantar um trem-bala entre Rio e S. Paulo, cujo custo foi inicialmente estimado em R$ 33 bilhões mas tem crescido a uma velocidade maior que a do próprio trem. Isso sem falar em vários outros bilhões jogados no ralo pela corrupção em seis ministérios. Dá p'ra confiar num governo desse?

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