segunda-feira, 12 de março de 2012

Catadora de material reciclável passa em prova e entra na USP

É sempre bom ver uma notícia como essa abaixo, da Folha de S. Paulo de ontem -- principalmente quando a mídia só noticia invenções ridículas da Dª Dilma (como nomear para ministro da Pesca um "pastor" que confunde caniço com varal) ou mutretas várias (como o empreguismo safado dos senadores).
A informação é da reportagem de Luisa Alcantara e Silva publicada na edição deste domingo da Folha. A reportagem completa está disponível a assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.


Laíssa Sobral, 19, trabalhava como catadora de material reciclável na cooperativa Granja Julieta (zona sul de São Paulo) e nunca gostou muito de estudar, mas percebeu que, com um diploma, teria mais chance de lutar pela cooperativa. Hoje, cursa gestão ambiental na USP. A vontade de fazer faculdade começou a cutucá-la no 2° ano do ensino médio, em 2009.

Ela trabalhava como catadora de material reciclável na Granja Julieta (zona sul de São Pulo), da qual sua mãe já era presidente, e, após um incêndio que destruiu o local, se engajou para conseguir um novo espaço. Em meio à luta, conheceu ONGs e fez amigos universitários. E percebeu que, com um diploma, teria mais chance de lutar pela cooperativa.

Um dia sua mãe, Maria Lúcia Sobral, 46, foi a uma palestra sobre gestão ambiental e comentou com Laíssa, que se interessou e falou sobre o tema com uma professora de geografia, que lhe passou informações sobre cursos.

Apoio

Foram poucos os incentivos que teve na vida escolar. Ela conta que apenas quatro docentes a estimularam a se interessar pelos estudos. Mas, se tinha pouco incentivo no colégio, na cooperativa tinha dona Josefa, uma das cooperadas. "Ela corria com um pau atrás de mim, para me fazer ir para a aula", lembra Laíssa.

Com 9 irmãos sob o mesmo teto -- hoje são 12 --, Laíssa ia estudar numa praça. Sua mãe não terminou o ensino fundamental, mas sempre obrigou os filhos a ler, e a fazer alguma atividade cultural. Sua escolha foi pelo teatro, e assim conheceu um grupo que fazia saraus "na quebrada mesmo", e viu crescer seu interesse de virar universitária.

Estudou e entrou no curso de gestão ambiental da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) em 2011. Mas a vida era difícil. Faculdade particular: R$ 515,00 por mês. Transporte: R$ 250,00. Renda na cooperativa: R$ 800,00.

"Via Sedex"

Laíssa resolveu, em junho, transferir a faculdade para a USP. Sem dinheiro para comprar os livros indicados pelo edital, recebeu ajuda de uma amiga, que fez campanha num blog. Livros, então, começaram a chegar. "Veio até via Sedex", lembra. Resultado: ela foi aprovada no curso de gestão ambiental da USP Leste. Questionada se pensa na trajetória de Graça Foster, presidente da Petrobras que foi catadora quando criança, diz: "Claro. É um exemplo a ser seguido. Mas a minha busca é para que toda a classe oprimida se torne importante".


Material Reciclável - A rotina de um catador em números (os valores podem variar, de acordo com o tipo de material e a quantidade)


Quanto vale 1 kg de cada material?

Alumínio:  R$ 3,00    Papel: de R$ 0,08 a R$ 0,42  

Plástico: de R$ 0,60 a R$ 1,50   Vidro: de R$ 0,09 a R$ 0, 14


Dados da Cooperativa Granja Julieta
  • R$ 800,00 é a renda média mensal de cada colaborador da Granja
  • 66 funcionários trabalham no local atualmente
  • 130 toneladas de material reciclável são processadas mensalmente -- a cooperativa recolhe esse material em algumas regiões da cidade; pelo telefone, um morador pode saber se é feita coleta no seu bairro.
 Laíssa Sobral, 19, em cooperativa na Granja Julieta -- ela está cursando gestão ambiental na USP - (Foto: Isadora Brant/Folhapress).

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