A propósito da postagem "Tsunami amarelo? Crise abre caminho para investimento chinês recorde na Europa", um diletíssimo amigo enviou-me o artigo abaixo, publicado no dia 29 deste mês no site Portos e Navios, que mostra que esse tsunami já está chegando às nossas paragens. Mais um exemplo da exímia técnica chinesa no uso do "soft power" para expandir-se pelo planeta.
O fechamento ontem da aquisição de 30% dos ativos da portuguesa Galp
Energia no Brasil pela China Petroleum & Chemical Corporation
(Sinopec), eleva para US$ 15,37 bilhões os investimentos de estatais
chinesas na exploração e produção de petróleo e gás no Brasil. Também
consolida a entrada da China no pré-sal da bacia de Santos, sem que
nenhuma das estatais desse país tenha participado diretamente de
licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A Sinopec pagou US$ 4,8 bilhões por todos os blocos em fase de
exploração e produção da Galp reunidos na Petrogal Brasil, incluindo a
fatia de 10% que a portuguesa detinha em Lula (antigo Tupi) e Cernambi
(antigo Iracema), algumas das descobertas mais emblemáticas do pré-sal
da bacia de Santos. A controlada da Galp tem participação acionária em
20 blocos no Brasil, a maioria em sociedade com a Petrobras. No pré-sal a
agora luso-chinesa também tem 14% de Bem-Te-Vi (no bloco BM-S-8), 20%
de Caramba (BM-S-21) e 20% de Júpiter (BM-S-24), todos no pré-sal de
Santos. Na operação, a Sinopec também emprestou US$ 360 milhões para pagamento de dívidas da Petrogal Brasil com a Galp.
Essa foi a segunda maior aquisição da Sinopec no país. Em 2010, a
companhia comprou, por US$ 7,1 bilhões, uma fatia de 40% em uma empresa
que também reunia os ativos de exploração e produção da espanhola Repsol
no país. Criaram assim a RepsolSinopec Brasil, empresa de US$ 18
bilhões. Ao adquirir a fatia dos espanhóis, os chineses tiveram acesso a
Carioca e Guará, outros gigantes do pré-sal.
No mesmo ano, outra chinesa com apetite pelo país, a Sinochem, se tornou
sócia da norueguesa Statoil no campo de Peregrino, na bacia de Campos,
pagando US$ 3,07 bilhões.
No comunicado divulgado ontem [28 de março], a Galp Energia informou que o conselho de
administração da nova empresa terá sete membros, sendo cinco deles
indicados pelos portugueses, refletindo sua posição de controle. "Este
aumento de capital dota a empresa do fôlego financeiro necessário para
suportar as atividades de exploração e desenvolvimento no Brasil
dando-lhe, em simultâneo, flexibilidade adicional para desenvolver
outros projetos de upstream [exploração e produção], tanto dentro do seu
atual portfólio como em oportunidades futuras que venham a surgir, no
Brasil ou noutras geografias", informou a nota da Galp.
A investida da China no Brasil tem características diferenciadas dos
investimentos comuns no setor. As petroleiras tradicionais entram com
tecnologia, investimentos e, quando possível, querem se tornar
operadoras das áreas, o que permite decidir sobre projetos de
engenharia, por exemplo, e administrar as compras de equipamentos. Já as chinesas, tradicionalmente, colocam recursos em dinheiro para
garantir investimentos. No caso do Brasil, já tinha ficado claro que os
aportes bilionários programados pela Petrobras no pré-sal tinham se
tornado um desafio, para dizer o mínimo, para suas sócias. Mas no caso chinês, o mais importante para as estatais é garantir o
suprimento de energia para seu país, um consumidor voraz de recursos
energéticos.
Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner | Do Rio
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