sexta-feira, 23 de março de 2012

Ataques reabrem debate sobre integração de imigrantes na França

O artigo abaixo, da BBC Brasil, é anterior à morte de Mohamed Merah pela polícia francesa, mas não perde atualidade porque permite ao leitor saber mais sobre ele e sobre o clima de frustração e de tensão em que vivem, na França, os imigrantes árabes e muçulmanos e seus descendentes, mesmo os de cidadania francesa. Como dito no artigo, a França abriga a maior comunidade muçulmana da Europa e sua relação com ela é tensa, o que é agravado por recorrentes posições e declarações xenófobas de autoridades do governo, como a do ministro citada no texto abaixo e do próprio Sarkozy. A exploração eleitoreira que Sarkozy vem fazendo desse grave incidente é, no mínimo, imprópria e inoportuna. Em matéria de relacionamento com imigrantes, a França é um barril de pólvora.

Os ataques que teriam sido cometidos pelo francês de origem argelina Mohamed Merah, suspeito de ter matado quatro pessoas em uma escola judaica e três militares no sudoeste da França, podem reacender no país os debates sobre falhas no processo de integração de descendentes de imigrantes, sobretudo árabes.

O perfil de Merah é muito semelhante ao de Khaled Kelkal, um dos principais autores da onda de ataques terroristas islâmicos na França em 1995, entre eles o da bomba na estação de metrô Saint-Michel, que matou oito pessoas e deixou 117 feridas. Kelkal, argelino, mudou-se para Lyon, na França, ainda criança, e após abandonar os estudos começou a efetuar inúmeros roubos antes de se ligar a movimentos islâmicos radicais.

Com apenas 23 anos, Merah já tem uma longa ficha policial com mais de uma dezena de crimes, vários deles com o uso da violência e cometidos quando ele ainda era menor de idade. Segundo seu advogado, Christian Etelin, o suspeito dos ataques já havia sido condenado por roubar, por exemplo, uma bolsa de uma senhora idosa em uma agência bancária.

Sua situação profissional é modesta e precária: ele fez um curso para trabalhar em uma oficina de conserto de carros, mas estaria desempregado há meses. Ele receberia, segundo a imprensa francesa, a chamada "renda de solidariedade ativa", um benefício social que garante uma renda mínima. Merah tentou entrar no Exército em 2008, mas sua candidatura foi recusada em razão de suas condenações na Justiça. Em 2010, ele tentou ingressar na Legião Estrangeira, mas o pedido também foi rejeitado.

Posições radicais

Como Kelkal, que em 1995 também atacou uma escola judaica, deixando 14 pessoas feridas, Merah teria encontrado pessoas ligadas a grupos extremistas islâmicos ao cumprir penas na prisão. Seu irmão mais velho, Abdelkader Merah, 27 anos, que trabalha como pedreiro, também teria posições radicais. Investigadores tentam determinar se ele teria influenciado as ações do suspeito dos ataques.

A mãe de Merah criou sozinha os cinco filhos, que cresceram em uma área popular de Toulouse, em uma zona chamada "sensível", onde o abandono escolar e atos de delinquência ocorrem com mais frequência. 

Nas periferias pobres da França, onde ocorreram as ondas de violência de 2005 e de 2007, o desemprego entre os jovens chega a atingir 40%.  Essas áreas são habitadas principalmente por imigrantes de origem árabe e africana. Muitos jovens se dizem discriminados no mercado de trabalho. Eles também se dizem frustrados com a falta de perspectivas em relação ao futuro e se sentem vítimas de injustiças. Na última onda de violência, em 2007, a forte participação de menores de idade nos violentos protestos surpreendeu autoridades francesas, como também o uso de armas de fogo contra policiais.

Comunidade muçulmana

A França possui a maior comunidade muçulmana da Europa, estimada em 10% da população. O passado colonial nos países do norte da África (Marrocos, Tunísia e Argélia) explica essa forte presença no país. Embora nascidos na França e descendentes de segunda ou terceira geração, muitos desses jovens não se sentem realmente franceses e contestam a autoridade pública, se opondo a um sistema que eles julgam repressivo.  Alguns chegam a querer mudar de nome, trocando o nome francês por um árabe para se sentirem mais integrados entre os colegas do bairro.

Os casos de pessoas que passam da simples delinquência a atentados terroristas com motivações ideológicas, como Merah – que disse querer vingar as crianças palestinas e a presença militar francesa no Afeganistão – são bastante isolados.

Mas especialistas afirmam que os discursos do governo, como as recentes declarações do ministro do Interior, Claude Guéant, de que "há civilizações mais avançadas do que outras", fazendo uma referência direta ao islã, acabam favorecendo o surgimento de comportamentos mais radicais. "Esse tipo de discurso do governo alimenta a raiva e cria um clima de suspeitas, incitando alguns grupos sociais a se isolarem", diz o cientista político Stéphane Montclaire, da Universidade Sorbonne.

 Mohamed Merah, francês de origem argelina e suspeito de ataques, morto pela polícia francesa - (Foto: Reuters).

Merah disse que queria "vingar crianças palestinas e presença francesa no Afeganistão" com ataque - (Foto: AP).



Um comentário:

  1. Vasco

    Eu não acredito em integração de imigrantes mulçumanos, em nenhum país da Europa ou nos EEUU.
    Sem querer entrar no mérito de quem está certo ou errado, o fato é que ISRAEL, EEUU e a EUROPA são altamente belicosos e fazem o que for necessário para abocanharem todas as riquezas dos subsolos de outros países, inclusive mantendo pressões diuturna junto a organismos mundiais como a ONU etc etc.
    Invadem ou forçam invasões a qualquer país que a isto se opuser sem se preocupar com civis, crianças, pobres ou ricos daqueles países que possuem estas riquezas.
    E tudo em nome da Democracia deles, pois o resto é tachado de inimigos, ou terroristas.
    O absurdo é tão grande que para vc sair em viagem para qualquer estado do Brasil tem que ser submetido a uma vexatória vistoria, tudo para "proteger os EEUU" ou coisa parecida.
    Agora mesmo um soldado americano matou 17 pessoas (várias crianças) no Afganistão e não foi nem preso pelas autoridades locais, sendo protegido pelos americanos que prometeram "uma ampla investigação sobre o ocorrido". Está na cara que ficará protegido na América do Norte enquanto os "terroristas que ele matou" - uma dezena de crianças, ficarão esquecidos pela grande mídia que sempre protege os grandes.
    Lembra-se dos 154 brasileiros mortos no voo da GOL que o Leporace matou mantendo o transponder desligado, viajando a uma altitude não compatível com aquele trecho e talvez, naquele momento, bebericando uma dose de champagne a bordo do Legacy que levava para seu país? - o cara está vivendo do bom e do melhor enquanto as famílias brasileiras assistem a tudo sem poder fazer nada. Nossa justiça é subserviente à deles infelizmente.
    Não acredito na justiça americana nem da européia pois só protege a eles.
    Gosto demais da França país que visitei inúmeras vezes inclusive logo após o massacre citado em seu artigo, de 1995.
    Mas acredito que em forma de acolher imigrantes o Brasil é o melhor do mundo. Aqui convivem festivamente árabes, judeus, libaneses, europeus e americanos, e, tudo, numa única rua...o saara carioca. SEM GUERRA SEM MATANÇA!
    O ódio aos americanos e a Israel é crescente mundo afora, provocando guerras que eles apelidam de "religiosas"
    Não sei quando isto vai acabar (se é que acaba), mas hoje prefiro viajar pelo Brasil e pela América Latina, onde me sinto mais a vontade, sem sobressaltos.
    Abraços
    Cupolillo

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