[Vem aí um tsunami amarelo?... A China está dando um show no uso de "soft power" para lançar seus tentáculos mundo afora. Qual será o resultado disso, em escala mundial, no médio e longo prazos?]
Os investimentos chineses na Europa foram multiplicados por sete desde o início da crise financeira mundial, em 2008, e vêm se acelerando nos
últimos meses, após o agravamento da crise na zona do euro, segundo
dados de organizações internacionais.
Os chineses vêm acelerando seus investimentos no Velho Mundo nos últimos
anos em setores variados. Já adquiriram ou compraram participação, por
exemplo, em vinhedos na França, companhia de energia em Portugal,
fábrica de máquinas na Alemanha e montadoras de veículos na Suécia e
Grã-Bretanha. O perfil variado, incluindo indústrias de alta tecnologia,
contrasta com a forte concentração de investimentos chineses no Brasil,
bem como na América Latina, em setores como mineração, petróleo e gás.
De acordo com a Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento), o volume de recursos chineses investidos na Europa,
em fusões ou aquisições de empresas, além da compra de participações
acionárias, foi de US$ 876 milhões em 2008. Em 2010, últimos dados
disponíveis na Unctad, o montante foi de US$ 6,76 bilhões.
Apesar de expressivos, os números da Unctad são apenas um dos
indicadores da tendência de avanço dos investimentos chineses na Europa. "Esses números estão subestimados, porque se referem somente à China
continental, e não incluem Hong Kong", disse à BBC Brasil Guoyong Liang,
do escritório de assuntos econômicos da Unctad. Hong Kong é uma importante plataforma para investimentos chineses no
exterior, mas o governo chinês não divulga o destino, por país, dos
investimentos provenientes da região administrativa especial da China.
A entidade americana Heritage Foundation tenta superar esse obstáculo na
obtenção dos dados acompanhando os investimentos no momento em que são
anunciados e confirmados. Segundo a entidade, em 2011, os investimentos
em 13 países europeus teriam atingido cerca de US$ 15 bilhões.
Aceleração
Inúmeros anúncios de aquisições de empresas (ou também de participação
no capital de companhias europeias) por investidores chineses têm sido
feitos nos últimos meses. Um dos negócios mais comentados, em razão do montante, ocorreu no final
de dezembro: a China Três Gargantas comprou, por US$ 2,7 bilhões, a
fatia de 21,35% que o governo português detinha na Energia de Portugal
(EDP), afastando da disputa o grupo alemão e.ON e as brasileiras
Eletrobras e Cemig. A recente compra em Portugal é exemplo de uma tendência observada pela
Heritage Foundation de aceleração de investimentos em países fortemente
afetados pela crise na zona do euro.
A China, segundo a Heritage Foundation, não havia investido nada na
Espanha entre 2005 e 2008, por exemplo. De 2009 até 2011, o fluxo de
capitais chineses para o país atingiu US$ 1,5 bilhão. A situação em Portugal é mais emblemática. Ainda de acordo com a
Heritage Foundation, a China não teria investido nada no país entre 2005
e 2010. Apenas em 2011, quando Portugal entrou no olho do furacão da crise das
dívidas soberanas, o fluxo de investimentos chineses para o país atingiu
US$ 3,5 bilhões.
"Após o início da crise, em 2008, houve um grande aumento dos
investimentos chineses na Europa. Mais recentemente, a crise na zona do
euro passou a representar uma oportunidade para comprar ativos mais
baratos", afirma Liang, da Unctad. Ele diz que a maior parte dos negócios na Europa começou a ocorrer desde meados do ano passado.
Na Alemanha, um dos países que mais receberam investimentos chineses em
2009 e 2010, o interesse é pela indústria mecânica, que produz
maquinário de alta tecnologia com reputação mundial, diz o economista da
Unctad. Segundo ele, os investimentos chineses também são significativos na
Grã-Bretanha porque o país reúne sedes de várias empresas importantes do
setor de energia e também bancário.
As empresas chinesas também têm investido em infra-estrutura na Europa,
com concessões para operar nos portos dos Pireus, em Atenas, e de
Nápoles, na Itália.
Montadoras europeias, como a britânica Rover (que estava em concordata
em 2005) ou ainda a sueca Volvo, em 2010, também foram compradas por
grupos chineses, que tentaram ainda adquirir no ano passado a sueca
Saab. Mas a operação foi vetada pela General Motors, proprietária da
marca sueca de automóveis, que acabou pedindo concordata em dezembro.
Na França, além de setores como o da energia, as companhias chinesas têm
investido em segmentos ligados à imagem da França no exterior: marcas
de moda de luxo e vinhos. A grife Cerruti foi adquirida por chineses em 2010 e, em fevereiro
passado, foi a vez do fundo Fung Brands, de Hong Kong, comprar 80% do
capital da marca de prêt-à-porter de luxo Sonia Rykiel. Investidores chineses também estão multiplicando as aquisições de
vinhedos em Bordeaux com o objetivo de exportar para a China, que se
tornou o primeiro importador mundial de vinhos dessa região francesa.
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