terça-feira, 27 de março de 2012

Finalmente, senador Demóstenes será investigado

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, confirmou à Folha que vai pedir a abertura de inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) por possíveis ligações criminosas com o empresário do ramo de jogos, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Demóstenes foi citado nas investigações que resultaram na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desmantelou um esquema de exploração de jogos caça-níqueis. [Começa a cair mais uma vestal do Congresso. Demóstenes sempre posou de moralista no Senado e tinha até aspirações de candidatar-se à presidência da República. Agora, o rei está nu. O senador é íntimo de um contraventor e seu informante, passando-lhe informações sigilosas das reuniões que mantinha no Legislativo e no Judiciário. Enfim, mais um marginal travestido de parlamentar.]

Na tarde desta terça-feira, Gurgel recebeu deputados e o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Segundo os parlamentares, o procurador afirmou que pedirá a abertura nas "próximas horas". [Esse Sr. Gurgel reteve, inexplicavelmente, por dois anos e meio (desde 2009) um pedido de processo exatamente contra Demóstenes. Tudo faz crer que se tratou de mais uma demonstração de baixo nível do espírito corporativo entre togados, já que Demóstenes é promotor público em Goiás desde 1983. E nada vai acontecer ao Sr. Gurgel, nem um processozinho por prevaricação?! É surpreendente a facilidade com que juízes togados procrastinam decisões impunemente, por tempos absurdos, e nada lhes acontece. Ainda há pouco, o STF julgou um processo que, por 50 anos (!!), esteve passando de mão em mão entre vários de seus ministros -- só o último relator, Cezar Peluso, atual presidente do Supremo, reteve consigo o processo por quase 9 anos (recebeu-o em 26 de junho de 2003)!

Demóstenes admite que recebeu de Cachoeira um telefone especial para conversas entre os dois. A investigação policial gravou cerca de 300 diálogos entre o senador e o empresário de jogos por pelo menos oito meses.  O democrata também ganhou de Cachoeira um fogão e uma geladeira, presentes que segundo Demóstenes foram oferecidos por um "amigo" quando se casou no ano passado.

Comissão de Ética

Além da investigação do Ministério Público Federal, o PSOL também anunciou hoje que vai pedir a abertura de um processo no Conselho de Ética do Senado contra Demóstenes por quebra de decoro parlamentar. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a decisão do procurador-geral da República de pedir a abertura de inquérito contra o democrata, é "inevitável" a investigação pelo conselho. O processo pode resultar na cassação do senador do DEM.

Afastamento

Demóstenes pediu nesta terça-feira para deixar a liderança do DEM no Senado. Em meio às denúncias de ligação com o empresário, ele enviou carta para o presidente do partido, senador José Agripino (DEM-RN), formalizando o pedido para se afastar da liderança.  "A fim de que eu possa acompanhar a evolução dos fatos noticiados nos últimos dias, comunico a Vossa Excelência o meu afastamento da liderança do Democratas no Senado Federal", afirmou em carta de três linhas endereçada a Agripino.

O presidente do DEM afirmou que a bancada do partido no Senado vai se reunir para escolher o novo líder na Casa. "Quem vai assumir é quem a bancada decidir", disse Agripino. 

Abatido, Demóstenes passou a manhã em seu gabinete no Senado, mas não circulou pelos corredores da Casa. O democrata procurou líderes partidários para pedir apoio político. Disse que espera o julgamento criminal pela Procuradoria Geral da República, mas espera ser poupado de um processo no Conselho de Ética do Senado -- que poderia lhe acarretar a perda de mandato.

Demóstenes está esmolando o apoio de todos os líderes do Senado, e parece ter conseguido o que queria de Renan Calheiros [que dupla, hem?].

Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) em sua fase moralista - (Foto: Wikipedia).

Senador Demóstenes Torres, ao sentir o céu cair-lhe sobre a cabeça - (Foto: Ailton de Freitas/Arquivo O Globo).

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