quinta-feira, 29 de março de 2012

Isso não se faz: perder o Millôr logo depois do Chico Anysio?!

É muito duro para um país perder, em menos de uma semana, dois gênios como Millôr Fernandes e Chico Anysio! Faço minhas as palavras de Arnaldo Jabor hoje, no Globo: "Morrem dois grandes humoristas e ficam muitos palhaços vivos. Isso é triste".

Não creio existir melhor homenagem a quem quer que seja, do que reproduzir pedaços escritos de sua genialidade. Além de jornalista, escritor, ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo, tradutor de Shakespeare, Molière e Brecht, inventor do frescobol e vice-campeão mundial de pesca ao atum na Nova Escócia em 1953, Millôr era um frasista simplesmente inigualável. Entre frases e desenhos dele, junto a uma caricatura que dele fez o também genial Loredano, presto abaixo minha humilde homenagem a um brasileiro como pouquíssimos.
  • Definindo-se: "medalha de ouro no concurso para ele mesmo".
  • De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
  • Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.
  • Todo homem nasce original e morre plágio.
  • Quando o homem sabe que certa mulher já cedeu a alguém, ele não resiste em verificar se a história se repete. 
  • Goze. Quem sabe essa é a última dose? 
  • O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.

     
  • Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto. 
  • O Brasil está dividido entre os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter.
  • Toda lei é boa desde que seja usada legalmente.
  • Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira para matar.
  • A verdade é que, nesse mundo cheio de feministas agressivas e gays reivindicantes, eu sou um mero homem.
  • Trabalho não mata. Mas vagabundagem nem cansa. 
  • O desespero eu aguento. O que me apavora é essa esperança.
  • Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.  
  • O aumento da canalhice é o resultado da má distribuição de renda. 
  • Nunca tantos deveram tanto a tão porcos.
  • A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo.

     
  • Mordomia é ter tudo que o dinheiro -- do contribuinte -- pode comprar. 
  • Você pode desconfiar de uma admiração, mas não de um ódio. O ódio é sempre sincero. 
  • Chama-se de herói o cara que não teve tempo de fugir.  
  • O preço da fidelidade é a eterna vigilância. 
  • As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.
     
  • A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
  • Beber é mal. Mas é muito bom. 
  • Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem.
  • O capitalismo não perde por esperar. Em geral ganha 6% ao mês. 
  • Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar. 
  • Metade da vida é estragada pelos pais. A outra metade, pelos filhos. 
  • Quem confunde liberdade de pensamento com liberdade é porque nunca pensou em nada.
  • Infelicidade: Nascer com talento melódico numa época em que o pessoal só se interessa por percussão. 
  • A gente tem que experimentar de tudo. Desde que seja de graça e não doa muito.  
  • Repito, mais uma vez: supremo eu só conheço o de frango.
  • Sobre projeto do deputado Aldo Rebelo de restringir termos estrangeiros na língua portuguesa: "uma idioletice" -- o que lhe valeu um processo do deputado.
  • Em agosto, nas noites de frio, a pobreza entra pelos buracos da roupa.
  • Sobre o Pasquim: Se esta revista for mesmo independente, não dura três meses. Se durar três meses não é independente. Longa vida a esta revista.
  • Idade da razão é quando a gente faz as maiores besteiras sem ficar preocupado.
     
  • [Monogamia:] A capacidade de ser infiel à mesma pessoa durante a vida inteira.
  • O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é.

    Millôr Fernandes, falecido aos 88 anos em sua casa no Rio - (Foto: Ricardo Moraes/Folhapress).

Caricatura de Millôr, feita por Cassio Loredano.

Desenho de Millôr Fernandes.

Desenho de Millôr Fernandes.

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