De 2007 a 2012, o governo baixou medidas que desoneraram as empresas em, no mínimo, R$ 97,8 bilhões, segundo levantamento da Receita Federal
obtido pelo Estado. A cifra é o dobro do que o governo
pretende gastar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) este ano e
corresponde a quatro vezes a verba reservada para o programa Brasil sem
Miséria, prioridade da presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, a alta
carga tributária foi a queixa mais comum entre os 28 pesos pesados da
economia que estiveram com Dilma na quinta-feira.
As desonerações não foram adotadas como uma estratégia ou política de
governo, mas foram reações aos efeitos da crise global que deprime a
economia mundial desde meados de 2008 e afetou gravemente a
competitividade da indústria brasileira [ou seja, o governo vem atuando como bombeiro, apagando incêndios, perdeu a visão de médio e longo prazos]. Porém, o avanço dos importados e
a tendência de desindustrialização parecem imunes à atuação do governo.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, completa seis anos no cargo na
terça-feira. Em suas primeiras entrevistas, ele já falava em desonerar a
folha salarial das empresas, medida que foi novamente prometida esta
semana, durante a reunião com a presidente Dilma. Também apontava o
câmbio como um problema central, mas o dólar barato continua sendo a
maior dor de cabeça do setor produtivo. "O governo pode ter desonerado bastante, mas a carga tributária não
caiu. Ao contrário, aumentou", diz o economista Mansueto Almeida. "O
custo de produção continua alto e maluco".
Hiperatividade. Para Armando Castellar, pesquisador do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, atuações pontuais
como as feitas pelo governo têm efeito localizado e temporário. "O
problema maior é a hiperatividade de medidas do governo", criticou. "O
País precisa de um programa de médio e longo prazos que ataque os
problemas estruturais de competitividade, como infraestrutura e carga
tributária". [Estes são apenas dois dos problemas básicos que o país herdou dos oito anos de governo Lula (o Nosso Pinóquio Acrobata), e que o primeiro ano de Dilma Rousseff sequer arranhou -- a esses problemas se junta indispensavelmente a educação. "Hiperatividade" é uma palavra muito granfina, quase esnobe, para descrever a série de medidas apenas pontuais do governo federal, numa atitude puramente reativa e nada proativa. Não há planejamento de médio e longo prazos -- há quem chame isso de "administração por espasmo", o que acho bem melhor e mais realista do que hiperatividade.]
Em sua defesa, o governo argumenta que a situação estaria muito pior se o
ministro não tivesse agido. É certo também que medidas adotadas pelo
governo quase nada podem fazer para combater os efeitos da desaceleração
da economia global e a avalanche dos industrializados asiáticos.
Porém, a própria Dilma está insatisfeita com o elenco de iniciativas
adotadas até agora. Ela incumbiu Mantega de elaborar um novo pacote para
anunciar na volta de sua viagem à Índia, nos dias 28 a 31 deste mês. A área técnica da Fazenda recebeu a seguinte encomenda da presidente:
medidas mais ousadas. Em vez de pontuais, elas precisarão ser gerais e
mais profundas. A desoneração da folha, por exemplo, poderá ser geral
para a indústria, e não localizada em meia dúzia de setores. [A sinalização é boa e correta, vejamos se isso também não é apenas mais um espasmo.]
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