quarta-feira, 14 de março de 2012

Anvisa endurece o jogo contra a indústria do tabaco

Ontem foi um dia importante para a saúde pública no Brasil: a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibiu uma série de subterfúgios imorais e criminosos com os quais a indústria do tabaco pretendia tornar os cigarros e afins mais "atraentes" aos consumidores, principalmente os jovens, introduzindo por exemplo sabores artificiais nesses produtos. Reproduzo abaixo a notícia de hoje do jornal A Folha de S. Paulo a esse respeito.

A resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que causou estardalhaço entre os produtores de fumo ontem, prevê mais uma mudança para os derivados de tabaco. Além da proibição de aditivos que possam mascarar o aroma ou o sabor original, como a adição das essências artificiais de menta e cravo, por exemplo, também estão proibidas expressões nas embalagens, como 'light', 'baixo teor' e 'suave'.

Vigilância Sanitária proíbe cigarros mentolados e de cravo

A agência defende que assim vai banir todas as expressões que possam "induzir o consumidor a uma interpretação equivocada quanto aos teores contidos nos produtos fumígenos".  A regra já valia para cigarros desde 2001, mas só agora afeta os demais produtos, como charutos e cachimbos.

Aditivos

Para confrontar a versão da indústria de tabaco, que se diz prejudicada pela retirada dos aditivos, a Anvisa salientou que a mudança vale apenas para os produtos comercializados no país e não deve afetar os itens destinados à exportação. O documento da agência prevê tempo de adaptação à norma, no caso dos cigarros, de 12 meses para alteração de rótulos e do processo produtivo e outros seis meses para a retirada dos itens do mercado. Cigarrilhas, narguiles ou qualquer outro tipo de fumo que usem gosto ou sabor artificial terão prazo de ajuste mais longo, de seis a 18 meses. [Gostaria imensamente de conhecer a fórmula mágica sempre adotada pelas agências regulatórias brasileiras para determinar o que elas chamam fantasiosamente de "prazo de adaptação" da indústria afetada por essa ou aquela medida mais forte que introduzam. Em se tratando de saúde pública, acho um absurdo conceder-se seis, doze ou até 18 meses (!) para essa tal "adaptação"!

Tão logo soube da intenção da Anvisa de emitir a resolução acima citada, a indústria do tabaco publicou um anúncio de página inteira na mídia impressa do país com uma argumentação absolutamente hipócrita de um lado, e chantagiosa de outro. Do lado da hipocrisia (recorrente, acintosa e sistemática, por sinal) ela disse que "fabrica produtos para adultos", como se fôssemos todos idiotas -- pesquisa feita no país em agosto de 2011 mostrou que metade dos jovens de 13 a 15 anos já havia comprado cigarro. Do lado da chantagem, a argumentação de que, se implantada, a decisão sacrificaria o emprego de 150 mil pessoas -- números à parte, fáceis de serem confirmados (é só querer), mesmo que isso ocorra é de se lamentar, mas dos males o menor.

O recurso de introduzir sabores em cigarros e afins é parte de uma estratégia mundial da indústria fumageira, voltada específica e diretamente para os jovens. Em dezembro do ano passado publiquei uma postagem que mostrava que os jovens americanos estavam trocando os cigarros por minicharutos com sabores (morango, melancia, baunilha, chocolate, etc), novidade recentemente introduzida nos EUA pela indústria do tabaco.]


Tabaco disfarçado: aditivos que dão sabor ao cigarro (clique na imagem para ampliá-la) - (Gráfico: Editoria de Arte/Folhapress).

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