terça-feira, 20 de março de 2012

Energia solar começa a sair do papel no Brasil

As empresas do setor elétrico começam a tirar do papel os projetos de pesquisa e desenvolvimento que têm o objetivo de tornar a energia solar economicamente viável no País. No ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou 18 propostas, que totalizam cerca de R$ 400 milhões e buscam encontrar as tecnologias capazes de derrubar o preço da energia fotovoltaica um terço do cobrado atualmente.

As empresas têm prazo de três anos para apresentar resultados. Entre os projetos apresentados, os maiores investimentos individuais são os da Tractebel, avaliado em R$ 60 milhões, e o da Companhia Paranaense de Energia (Copel), de R$ 50 milhões. Para testar a viabilidade da energia solar, empresas deverão instalar painéis fotovoltaicos em locais conhecidos de São Paulo, como o Parque Villa-Lobos (projeto de R$ 13 milhões da Companhia Energética de São Paulo - Cesp) e o futuro estádio Itaquerão (investimento de R$ 24 milhões da AES Eletropaulo).

Na corrida para ganhar conhecimento e competitividade no setor, a Cesp e a Companhia Paulista Força e Luz (CPFL) estão trabalhando rapidamente para instalar seus painéis já nos próximos meses. A Cesp informa que a assinatura do contrato para o "plantel" de energia solar no Parque Villa-Lobos será assinado no mês que vem. A expectativa é que os testes comecem até o fim de 2012. Já a CPFL já iniciou o trabalho de seu projeto - que também consumirá R$ 13 milhões - e prevê a conclusão para o início do ano que vem.

Para economizar investimentos com linhas de transmissão, a CPFL decidiu construir seu projeto na Subestação Tanquinho, em Campinas (SP). Segundo o diretor de estratégia e inovação da CPFL Energia, Fernando Mano, a capacidade instalada é pequena, suficiente para abastecer 650 clientes com consumo de 200 KWh por mês. "Estamos buscando uma forma de aproveitar melhor a insolação do Brasil. E queremos ser pioneiros nesse segmento", afirma Mano.

Como a ideia é testar tecnologias, a capacidade instalada dos 18 projetos apresentados à Aneel não será suficiente para dar qualquer relevância comercial à energia solar no País. Hoje, são oito projetos em operação no País, que tem relevância zero no total da eletricidade consumida no Brasil. Os oito projetos já em operação não envolvem as companhias elétricas, mas sim institutos de pesquisa, grandes grupos nacionais (caso da MPX, de Eike Batista) e multinacionais como a Dupont.

Preços. Hoje, o megawatt/hora de origem fotovoltaica custa pelo menos R$ 300, bem mais do que a mesma quantidade de energia proveniente de parques eólicos, vendida por cerca de R$ 100, e de usinas hidrelétricas, que fica um pouco abaixo deste patamar. Como ocorreu com a energia eólica nos últimos oito anos, a ideia é que o preço da energia de fonte solar seja reduzido a um terço do valor atual em poucos anos (leia quadro).

Um dos motivos para o atraso na energia solar é a relativa segurança energética do Brasil - um dos poucos testes a essa tranquilidade foi o apagão de 2001. Segundo Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pressão por fontes alternativas é maior na Europa, por exemplo. "Lá, eles dependem de petróleo e gás importados, que têm um impacto econômico grande, ou então do carvão, que é muito poluente", explica. [Acho que isso explica, mas não justifica que não investamos em P&D nessa área, dado o índice de radiação solar no país (www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/03-Energia_Solar(3).pdf.]

No entanto, há empresas que já fazem investimentos apostando no crescimento do setor. A Tecnometal, metalúrgica que fatura R$ 350 milhões por ano, já iniciou a produção de placas fotovoltaicas - mercado que terá de disputar com pesos-pesados internacionais, como a alemã Siemens. Segundo Bruno Topel, responsável por projetos especiais na empresa, a Tecnometal será fornecedora em pelo menos cinco dos projetos de pesquisa aprovados pela Aneel.

O executivo admite que os gastos se baseiam apenas na "fé no futuro" do setor. "Ainda estamos no dia um do ano zero da energia solar no Brasil", afirma Topel. Ele ressalta que a empresa está preparada para fornecer um sistema de placas totalmente produzido no Brasil. E diz que a aposta da Aneel na energia solar vem para validar sua crença pessoal no setor. "Venho trabalhando nisso há 30 anos. Pelo menos agora sei que não sou louco".

[Para maiores informações sobre o uso da energia solar acessem o link
www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/03-Energia_Solar(3).pdf  -- Na lista a seguir encontram-se os 10 maiores parques geradores de energia solar no mundo:
  1. Sistemas Geradores de Energia Solar (SEGS, em inglês), Califórnia, EUA - 354 MW (a maior instalação do gênero no mundo)
  2. Martin Next Generation Solar Energy Center, Flórida, EUA - 75 MW
  3. Nevada Solar Energy One, EUA - 64 MW
  4. Parque Voltaico de Olmedilla, La Mancha, Espanha - 60 MW
  5. Parque Solar de Srasskirchen, Alemanha - 54 MW
  6. Parque Voltaico de Liberose, Brandenburgo, Alemanha - 53 MW
  7. Andasol, Andaluzia, Espanha - 50 MW
  8. Alvarado I, Extremadura, Espanha - 50 MW
  9. Parque Voltaico Puertollano, Castilla, Espanha - 48 MW
  10. Central Solar Voltaica de Moura, Amareleja, Portugal - 46 M
 A lista dos 10 maiores fabricantes mundiais de células fotovoltaicas pode ser encontrada aqui. Em 2009, a capacidade mundial instalada de energia solar era de 2,6 GW. Os principais produtores eram Japão (1,13 GW instalados), Alemanha (794 MW), e EUA (365 MW), sendo interessante observar que tais países estão situados em latitudes médias e altas. Com dados atualizados até 8/12/2010, o site Whole Solar fornece um painel comparativo mundial da eficiência e da densidade de energia de paineis fotovoltaicos.

Um detalhe que pesa contra a energia solar é a área significativa de terreno exigida por uma estação de porte desse tipo de energia, como mostra a figura abaixo.

3 comentários:

  1. Este é um estudo bastante interessante.
    No Brasil, pela grande possibilidade de geração hidroelétrica, postergou-se por longo tempo estudos mais profundos na busca de outras fontes energéticas.
    Energia Solar e eólica devem ser incentivadas, pois temos grandes áreas ensolaradas e ventos constantes, principalmente na região do Nordeste.
    O que não consigo entender é a insistência nossa em desenvolver Angra III, mesmo após o ocorrido no Japão que está amedrontando governos dependentes de energia alternativa até na Europa.
    Cupolillo

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  2. Amigo VASCO:
    Quando trabalhei na EMBRATEL, uma das formas de garantir a energia necessária ao tronco Manaus-PORTO VELHO em microondas, foi ter estações abastecidas com energia solar. E deu certo.
    Acho que um dos grandes problemas das energias alternativas é não ter UM MEDIDOR sobre o qual se cobre algum tipo de imposto em sua utilização. Pode pareder jocoso, e certamente é,
    mas é uma realidade. Se não for possível "cobrar" algo por essas benesses da Natureza, vamos pagá-los na forma de impostos absurdos, além dos já pagos.
    O comentário aposto pelo ANONIMO não faz juz à segurança das usinas nucleares. Pouquissimos acidentes foram verificados até agora, mas isso cria um temor muito grande nas populações.
    Estamos protegidos de terremotos e tsunamis, embora a região onde se situam as nossas usinas - ITAORNA - signifique TERRA PODRE na lingua indigena.
    Acresça-se que o BRASIL ainda não tem um plano de contingência para qualquer evento mais sério que possa ocorrer em ANGRA. Nenhum treino da população, nenhuma simulação, estradas que vivem interrompidas por qualquer chuva, etc.
    Aí é que mora o PERIGO!!!

    Abraços - LEVY

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  3. Recebido via email:

    Vasco

    Contra fatos, não há argumentos.
    Se até na Europa, e principalmente na Alemanha, que detem a tecnologia desenvolvida para as Usinas brasileiras, vem sendo estudada a redução ou paralização de novas Usinas, porque o Brasil insiste em continuar ou extender a construção para novas Usinas baseado no argumento simplista de que são seguras?
    Não existe sistema sistema de segurança infinita, infalível.
    Não faz o menor sentido considerar que o Brasil será dependente deste tipo de energia, face ao já exaustivamente discutido e publicado em vários artigos, debates e foruns, sobre fontes alternativas à hidráulica, tais como a fóssil, eólica solar, nuclear etc.
    Tudo sempre acaba numa equação financeira onde o custo da melhor solução, direciona o que é mais econômico naquele momento e os argumentos para implementá-las são colocados, por seus defensores, de forma a torná-las inquestionáveis pelo grande público.
    Não é só através de terremotos que aparecem as falhas em Usinas Nucleares e os exemplos de erros ou imperícias em projetos, em materiais, em fissuras de componentes, em instalações, em controles e até em operações humanas podem ser conhecidos a qualquer hora.
    O fato é que quando os desastres nucleares ocorrem, trazem consequências extremamente danosas ao meio ambiente e a quem vive próximo às suas inatalações, deixando profundas sequelas por dezenas ou centenas de anos.
    Precisamos disto?

    Cupolillo

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