sexta-feira, 30 de março de 2012

Comprovado o efeito nocivo de inseticidas no declínio do número de abelhas

Em janeiro e em setembro do ano passado fiz duas postagens sobre o alarmante índice de mortalidade de abelhas em diferentes partes do mundo, e as pesquisas que se vêm fazendo para descobrir a razão disso. O jornal francês Le Monde publicou ontem  um artigo (que traduzo abaixo) sobre pesquisas internacionais recentíssimas, que identificam na nocividade de pesticidas uma das causas desse fenômeno.

Quanto mais se avança em pesquisas, mais difícil se torna contestar o efeito nocivo dos inseticidas sobre o meio ambiente. Por seu papel explorador em território cada vez mais minado, as abelhas já foram objeto de numerosos trabalhos a esse respeito.  Desta vez, foram analisadas em dois estudos publicados ontem (dia 29) na revista Science, ambos inéditos pela tecnologia envolvida e por terem ambos optado por condições realistas, verificadas na prática, em vez de experiências de laboratório. 

Ambos os estudos ressaltam o impacto da família de inseticidas mais disseminada no mundo: os neonicotinoides, que agem sobre o sistema nervoso central dos insetos.

A equipe francesa, coordenada por Mickaël Henry, do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA, em francês) e Axel Decourtye, ecologista da rede dos institutos de atividades agrícolas e vegetais (ACTA, em francês), colocou com cola dental uma minúscula plaqueta de radioidentificação sobre o tórax de 653 abelhas melíferas. Os pesquisadores queriam verificar se, de acordo com hipótese levantada por alguns apicultores, os produtos contendo tiametoxano podem fazê-las perder o senso de orientação. O Cruiser, fabricado pelo grupo suiço Syngenta e destinado ao milho e à colza, as tornaria incapazes de voltar à sua colmeia?

Um zangão selvagem que perde o apetite

Depois de haver observado individualmente as saídas e retornos de suas "protegidas", graças a um leitor eletrônico, os pesquisadores constataram que 10% a 31% das abelhas intoxicadas, mesmo em dose fraca, não encontravam seu caminho. Isso explica, em parte, a síndrome de desmoronamento das colônias -- isso porque, longe de sua colmeia, elas morrem três vezes mais que a taxa normal. 

Esses resultados são contestados pela Syngenta. Mas, o ministério da Agricultura anunciou, ontem à tarde, que considerava a hipótese, até o final de maio, de proibir o Cruiser, em atendimento a um aviso da Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anses, em francês) relativo ao estudo publicado na Science, "antes do início da nova campanha de semeadura em julho".

A segunda pesquisa, realizada na Escócia, se interessou pelo zangão selvagem Bumbus terrestris, cuja espécie passa também por declínio. Apesar de desempenhar um papel fundamental na polinização de morangos, framboesas, mirtilos (ou uvas-do-monte) e tomates, entre outras frutas, ele até o presente foi alvo de pouco interesse pelos pesquisadores. Penelope Whitehorn e David Goulson, biólogos da universidade de Stirling, submeteram colônias de zangões em desenvolvimento à ação do inseticida imidacloprid, um outro neonicotinoide presente, entre outros, no inseticida Gaucho.

As doses [de inseticida] utilizadas eram comparáveis às que respingam nos zangões. Ao cabo de seis semanas, os pesquisadores observaram que os ninhos contaminados pelo pesticida tinham de 8% a 12% menos peso que as colônias de referência, o que os levou à conclusão que os insetos estavam menos nutridos. Sobretudo, os ninhos tinham produzido 85% menos rainhas. O que pode significar 85% de ninhos a menos no ano seguinte, lembram os autores do estudo.

Abelha equipada com uma "pulga" de radioidentificação - (Foto: Science/AAAS).

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