Acho que vale a pena dar uma olhada no texto a seguir, que reproduz a maior parte do artigo de Joel Achenbach, publicado no The Washington Post de hoje.
A espaçonave Terra entra 2012 expelindo fumaça, superaquecendo-se e queimando-se com combustível a uma taxa assustadora. Está se sentindo bastante congestionada, e a tripulação está amotinada. Não há ninguém no leme.
Seguramente, essa é uma metáfora antiquada. É também uma maneira cada vez mais apropriada de discutir um planeta com 7 bilhões de pessoas, uma economia global, uma web de amplitude mundial, com mudança climática, organismos exóticos se deslocando sem controle, e com todos os tipos de escassez de recursos e de desafios ecológicos.
Mais e mais, ambientalistas e cientistas falam do planeta como um sistema complexo, que seres humanos têm que, agressivamente, monitorar, gerir e algumas vezes fazer passar por uma reengenharia. Algo como uma espaçonave. Esse é um forte desvio da filosofia "verde" tradicional. O modo mais ortodoxo de ver a natureza é vê-la como algo que tem que ser protegido dos seres humanos -- não gerido por eles. E muitos ambientalistas têm reservas sobre possíveis consequências não desejadas de esforços bem intencionados. Ninguém quer um mundo que demande intervenção permanente para corrigir intervenções anteriores.
Ao mesmo tempo, "estamos em uma posição em que temos que adotar um papel mais intervencionista e mais gerencial", diz Emma Marris, autora de "Rambunctious Garden: Saving Nature in a Post-Wild World" [algo como "Jardim Turbulento: Salvando a Natureza em um Mundo Pós-Selvagem", em tradução livre]. "A resposta fácil costumava ser voltar no tempo e fazê-lo parecer como costumava ser. O "antes" era sempre melhor. "Antes" não é mais uma opção".
Embora Marris esteja falando de ecologia restauradora -- como gerir florestas e outros sistemas naturais -- essa abordagem intervencionista pode ser aplicada ao planeta de maneira mais ampla. Em seu livro "The God Species: Saving the Planet in the Age of Humans" [algo como "A Espécie Divina: Salvando o Planeta na Era dos Humanos", em tradução livre], o ativista ambiental Mark Lynas escreve "A Natureza não mais governa o mundo. Nós o fazemos. É de nossa escolha o que acontece aqui e a partir daqui [do planeta]".
Este é um planeta diferente daquele sobre o qual escreveu Rachel Carson há 50 anos atrás, quando detalhou o dano ecológico do pesticida DDT. As impressões digitais da humanidade são encontradas hoje em cada continente, em cada mar. Radiação decorrente de testes atômicos pode ser encontrada pelo mundo afora, e a assinatura química da Revolução Industrial, quando o carvão começou a alimentar a atividade humana, pode ser vista em núcleos de gelo perfurados na Groenlândia. A Terra está se aquecendo ao mesmo tempo em que uma população humana crescente está demandando mais energia, usando mais recursos, queimando mais combustíveis fósseis, e emitindo mais gases de efeito estufa. Os desafios sofreram uma escalada.
Como consequência, alguns pensadores influentes defendem uma abordagem gerencial para o planeta que tem menos sentimento e mais ciência e tecnologia.
Ecologistas, por exemplo, têm reclamado há muito tempo de espécies invasivas que, se escondendo clandestinamente no seio da carga humana da economia global, estão retrabalhando paisagens inteiras e subjugando muitas espécies nativas. A abordagem antiga seria tentar erradicar os invasores. A abordagem nova argumenta que essas "paisagens novas" vieram para ficar e os seres humanos podem ter que adotar medidas diretas para relocar espécies nativas para antecipar-se às mudanças climáticas.
Vários eventos recentes mostraram que sistemas tecnológicos complexos são vulneráveis a falhas raras, mas importantes. O vazamento de óleo da [plataforma da] BP, por exemplo, ocorreu apesar da existência de técnicas e de sistemas de monitoramento elaborados, projetados para evitar uma explosão do poço ou, pelo menos, fechar um poço de fuga se a primeira linha de defesa falhasse. Investigadores da falha disseram que decisões de engenharia comprometeram a margem de segurança, numa tentativa de cortar custos. Mas a tecnologia não era tão robusta como os engenheiros pensaram que fosse.
Ainda mais humilhante foi o terremoto de 11 de março [do ano passado] no Japão. Não se julgava que o terremoto fosse possível. Os mapas de riscos sísmicos mostravam que o terremoto máximo possível ao longo ao longo da Trincheira do Japão (Japan Trench) -- a enorme faixa de falha [geológica] onde uma placa tectônica mergulha sob outra -- poderia atingir no máximo 8,4 [na escala Richter]. Mas, na tarde do dia 11 de março a falha se rompeu e gerou um terremoto de magnitude 9,0 -- seis vezes mais forte que o máximo teórico.
A falha de interpretação do risco de terremoto levou a um erro fundamental no projeto da usina nuclear de Fukushima, construída no litoral. A usina estava protegida por uma barreira contra tsunamis que podia resistir a ondas de até 18,7 pés [cerca de 5,70 m] de altura. A primeira onda após o terremoto tinha 13 pés [cerca de 3,97 m] de altura, e a segunda onda foi tão maior que destruiu o medidor de maré usado para medir a altura de ondas. A maior das ondas pode ter chegado a 49 pés [cerca de 15 m] de altura, de acordo com uma análise do Instituto de Operações de Usinas Nucleares [japonês].
O gerenciamento bem sucedido de questões ambientais globais exige liderança política que não se materializou. Lidar com a mudança climática, por exemplo, "envolve um nível de cooperação global que nunca ocorreu, e os mecanismos para isso não estão visíveis", diz Stewart Brand, um dos decanos do ambientalismo tecnológico. Apesar disso, ele é um otimista em relação aos seres humanos em geral.
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