Ainda que o ministro dos Transportes francês, Thierry Mariani, tivesse considerado hoje, 3 de agosto, que a investigação do BEA (sigla em francês para Birô de Investigações e Análises) sobre a catástrofe do voo Rio-Paris que matou 228 pessoas em junho de 2009 era "exemplar" e "transparente", as famílias das vítimas e os pilotos manifestam sua revolta e sua cólera em relação a ela.
O relatório do BEA, publicado no dia 29 de julho, não menciona um possível mau funcionamento de um alarme que deveria alertar os pilotos para perda de funcionamento da aeronave, embora isso constasse do relatório quase definitivo dois dias antes de sua publicação segundo o jornal La Tribune. O relatório, no entanto, aponta uma série de falhas dos pilotos do Airbus A330. O sindicato dos pilotos exige que o BEA explique porque "ignorou" esse fato e pergunta: "Houve outras alterações significativas no relatório?". O sindicato francês dos pilotos de linha (SNPL, em francês) afirmou que sua confiança no Birô estava de fato "seriamente afetada" e, nesse meio, tempo determinou que "seu representante nas investigações deixasse de participar dos trabalhos" do BEA.
Para a associação de Ajuda Mútua e Solidariedade AF447, que representa as famílias das 228 vítimas da tragédia, a investigação sobre as causas da tragédia está "definitivamente desacreditada". "Esse triste episódio lança definitivamente o descrédito sobre a investigação técnica, e gera uma crise de confiança sem precedentes em relação aos responsáveis por ela", declarou Robert Soulas, presidente da associação. "A precipitação com que esses investigadores e os responsáveis por eles acusaram os pilotos, sem qualquer reflexão prévia, levantou nossas suspeitas", acrescentou ele. "Temos agora a confirmação de que as afirmativas emitidas sob a responsabilidade do BEA não são apenas prematuras, elas são desprovidas de objetividade, são parciais, e muito orientadas para a defesa da Airbus".
Segundo os jornais Les Echos e La Tribune, o relatório foi expurgado de parágrafos inteiros que apontavam para o funcionamento paradoxal do alarme de perda de funcionamento dos Airbus A330, e foi retirada uma recomendação para consertá-lo. Essa perda de funcionamento significa perda de sustentação do avião. O A330 da Air France mergulhou no oceano Atlântico depois de uma queda vertiginosa de 11.500 m em menos de três minutos. "O chefe das investigações do BEA decidiu retirar essa recomendação do relatório dessa fase porque ela deveria ser complementada pelos trabalhos realizados pelo grupo de trabalho 'fatores humanos e aviônica'", justificou uma porta-voz do BEA.
O BEA reconheceu em seu relatório o papel provável do alarme de perda de sustentação na confusão que tomou conta da tripulação, porque ele não parou de atuar inclusive quando o piloto fazia a manobra correta, nem parou quando da queda da aeronave. O birô explicou que esse alarme é programado para se desligar quando a incidência (ângulo ou inclinação do avião) é muito relevante, mesmo que a aeronave esteja em situação de perda de sustentação. Entretanto, embora contenha dez recomendações, o relatório do BEA não apresenta nenhuma relativa a esse alarme.
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