sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Que lições podem ser tiradas das negociações do teto da dívida americana?

Que lições podem ser tiradas do acordo de última hora sobre o teto da dívida americana? A primeira pode ser que os mercados estavam certos o tempo todo -- os políticos iriam esticar a corda até o limite, mas acabariam chegando a um acordo. "É puro teatro", disse alguém. O problema com essa suposição é que ela apenas encoraja os políticos a bancarem os mais fortes, achando que o outro lado irá medrar -- desta vez, os democratas medraram, mas podem reajustar sua tática para a próxima vez.

De fato, a segunda lição pode ser que a votação do teto da dívida  tornou-se, como a tática de obstrução no Senado, um instrumento de chantagem muito útil para a oposição. Um dia, um presidente republicano pode precisar de um aumento no teto da dívida e perceber que se tornou refém dos democratas.

A terceira lição é que continua muito mais fácil cortar gastos na teoria do que na prática. Muitas das decisões difíceis foram jogadas para diante -- umas para daqui a três ou quatro meses, outras para 2013. A eleição para o legislativo em Nova Iorque, em que um democrata fez, com sucesso, campanha contra o plano de redução de déficit de Paul Ryan, é um lembrete de que cortes específicos de benefícios ainda são impopulares.

Uma quarta lição é a de que vai custar muito destruir o status de porto seguro dos bônus do Tesouro americano. Rendimentos de longa data ainda estavam caindo quando a data limite para o acordo se aproximava. É preciso reconhecer que isso foi devido a dados econômicos ruins, mas os investidores têm poucas alternativas à liquidez do mercado (de bônus) do Tesouro.

Mas, a crise deixa ainda um monte de questões a serem resolvidas. Em parte, isso se deve a que ambos os lados estavam parcialmente corretos; é preciso agir no longo prazo para atacar a carga fiscal dos EUA, mas um excesso de austeridade no curto prazo arrisca causar danos a uma economia já fragilizada. A questão mais ampla é, obviamente, a eficácia do estímulo Keynesiano. Alguns negariam que ele seja sempre eficaz, raciocinando que de duas uma, ou os gastos do governo afastam/deslocam os investimentos do setor privado, ou a perspectiva de impostos mais altos no longo prazo força os consumidores a aumentar sua taxa de poupança.

Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia de 2008) descreve o acordo da dívida como um desastre, porque, para ele, austeridade no estado atual da economia americana é loucura; Edward Glaeser (um renomado economista da Universidade de Harvard), em contraste, apoia o apelo para um orçamento equilibrado, uma abordagem que forçaria o governo a cortar gastos em tempo de recessão.

O Japão é um exemplo de como gastos perdulários (como o de concretar leitos de rios) falharam como estímulo para reativar a economia. Mas, novamente, não temos o benefício de uma análise contraditória; como estaria a economia japonesa, se o governo tivesse equilibrado seu orçamento numa base regular?  O livro The Holy Grail of Macroeconomics (O Santo Graal da Macroeconomia), de Richard Koo, argumenta que o Japão tinha pouca escolha em face da desalavancagem do setor privado.

O problema do compromisso de equilibrar o orçamento ao longo de um ciclo é que ninguém sabe quanto tempo o ciclo irá durar. Na Grã-Bretanha, Gordon Brown tinha uma versão dessa regra  mas ficou redefinindo o ciclo.

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