O buraquinho na carcaça da calculadora que aparece na foto acima mexeu
com as emoções de Daniel Pinho, brasileiro de 39 anos que trabalha em um
banco de Pittsburgh, nos Estados Unidos. “A minha calculadorinha já tem
mais de 15 anos”, recordou ele, em um extenso e saudoso e-mail ao Radar Tecnológico. “Eis que justo nesta semana (penúltima do mês passado) ela caiu da minha maleta, e quebrou um pedaço. Fiquei arrasado".
O drama de Daniel, que praticamente equipara o objeto a um filho, faz
sentido — não só para ele como para a história das calculadoras. A Casio
FC 1000 não é qualquer uma entre as do tipo financeiro. Ela é
programável, permite a construção de gráficos e tem a capacidade de
exibir 8 linhas de texto com 16 caracteres cada. A HP12C, a mais usada
hoje no segmento financeiro, exibe uma linha de caracteres e não gera
gráficos.
Para aumentar a dor: a Casio FC 1000 é um modelo de 1988 que já foi para
o baú da fabricante, como revelou a própria Casio em conversa com este
blog. No site de comércio eletrônico americano eBay, um usuário vende
uma Casio “Vintage” FC-1000 por US$ 69,98.
Vou ficar com ela até o dia que a tela quebrar”, diz Daniel. O
relacionamento do bancário com a calculadora começou em 1996. Quando
pensava em se desfazer de sua “gigantesca” e antiga Casio, um modelo
anterior que ele não considerava prático, ele se deparou com a FC1000
numa prateleira do free shop da Argentina. Não comprou de imediato. Como naquela época ele tinha de ir a trabalho ao país frequentemente,
ficava só no namoro, como ele mesmo define. O impeditivo era o manual,
que vinha apenas em espanhol. “Eu não me conformava. Procurei pela mesma
calculadora em outros lugares, mas ninguém conhecia ou tinha ouvido
falar".
A calculadora tem sido companheira inseparável do bancário durante todo esse tempo. No MBA em finanças e gestão, ela provocou a inveja dos outros alunos, segundo Daniel. Ele conseguiu programar recursos para calcular opções e projetar fluxo de caixa, por exemplo. “Fiz o diabo”, brinca ele, em referência à programação. Até o professor ficou desconfiado. Certificou-se de que se tratava apenas de uma calculadora financeira e que o aluno não estaria trapaceando. (Vale notar que Daniel sempre teve facilidade para programar).
O bancário diz nunca ter visto ninguém com uma calculadora igual a sua. No banco em que trabalha nos Estados Unidos, todos usam a HP12C. Quem repara na relíquia dele se espanta. O objeto pesa 140 gramas, tem display LCD de 96×64 pixels e função de calcular até 2470 passos de programação. Pode armazenar até 10 programas. A desvantagem, na avaliação de Daniel, está na bateria, que dura cerca de quatro meses, dependendo do uso. Nada que impeça a continuidade do relacionamento. A calculadora já tinha quebrado uma vez (nessa ocasião uma cola resolveu).
O pedacinho que quebrou agora voou longe. O objeto caiu do bolso da maleta do trabalho, que ele segurava apenas por uma alça, ao chegar a sua casa. Ele não conseguiu localizar. A FC 1000 foi “arremessada”, conta Daniel. “Está com as entranhas expostas agora". Todas as funções foram preservadas, por sorte. A calculadora funciona perfeitamente. A dobradiça, no entanto, está um pouco frouxa. E se ficar frouxa de vez? “Aí eu ponho um elástico".
Brasil
A Casio, fabricante da calculadora de Daniel, é uma companhia japonesa que produz eletrônicos como relógios de pulso, calculadoras e câmeras digitais. A FC 1000 já saiu da praça, mas hoje a empresa comercializa os modelos FC100V e FC200V e outras científicas gráficas. Há cerca de quatro meses, a Casio começou a atuar diretamente no mercado brasileiro — depois de romper o vínculo com a Eletrônicos Prince, distribuidora que representou a marca no País por 30 anos. O escritório brasileiro tem 60 funcionários, por enquanto. A expansão em mercado emergente é parte da estratégia da companhia.
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