Alguns dos hospitais mais conhecidos do Reino Unido estão sendo preparados pelo governo para exportar a "marca NHS" mundo afora e instalar filiais no exterior para incrementar suas receitas [NHS é a sigla em inglês para o Serviço Nacional de Saúde britânico].
No contexto de um plano radical a ser lançado nesse outono, funcionários do Departamento de Saúde e do birô de Investimento em Comércio do Reino Unido se juntarão para atuar como uma "agência de encontros" entre hospitais que querem se expandir no exterior e governos estrangeiros com demanda para serviços de saúde britânicos.
Essa iniciativa pode resultar no surgimento de postos avançados de hospitais britânicos famosos como Great Ormond Street, Royal Marsden e Guy's and St Thomas' ao redor do mundo. Pelos planos do governo, todos os lucros obtidos por essas representações de hospitais britânicos no exterior terão que retornar aos cofres dessas instituições no Reino Unido, e investimentos antecipados [ou de capital inicial -- upfront investments] poderão ser feitos apenas com receitas oriundas de pacientes particulares. Áreas do mundo identificadas como essenciais para o sucesso do projeto incluem o Golfo [Pérsico], onde marcas médicas britânicas já são tidas em alta conta, e China, Brasil, Líbia [aqui deve ser para ajudar a curar feridos pelos quais os britânicos foram corresponsáveis nos bombardeios para depor Kadhafi ...] e Índia.
Pessoas que trabalham no setor de saúde alertam quanto ao fato de que, em um período de importantes e significativas restrições financeiras, fundações ou representações (trusts) de hospitais não deveriam estar tirando seu foco no Reino Unido para explorar investimentos potencialmente complicados e de risco no exterior. "O princípio básico do NHS tem que ser assegurar que resultados e cuidados para os pacientes prevaleçam sobre os lucros", disse Katherine Murphy, diretora executiva da Associação de Pacientes. "Num momento de enormes reviravoltas nos serviços de saúde, quando os tempos de espera estão aumentando e as fundações [de saúde] estão sendo solicitadas a fazer 20 bilhões de libras [cerca de US$ 31,6 bilhões] de economia em eficiência, isso [investir no exterior] é outro desvio de foco preocupante. A prioridade do governo, das fundações de hospitais e dos clínicos devem ser os pacientes do NHS".
Funcionários do governo imaginam que algumas fundações do NHS fariam parcerias com companhias privadas que possam prover o desembolso de capital para projetos no exterior, e assumir o risco financeiro correspondente. O Moorfields Eye Hospital já administra uma filial em Dubai, enquanto o Imperial [College Healthcare NHS] possui dois centros de diabetes bem sucedidos em Abu Dhabi. Um grupo de clínicos gerais, em conjunto com a Virgin Care e Serco, estão apresentando proposta sob a forma de consórcio para a prestação de serviços médicos básicos nos Emirados Árabes Unidos.
[...] A iniciativa do governo britânico foi, em parte, estimulada pelo sucesso de hospitais-escolas americanos em sua expansão no exterior. O Hospital John Hopkins, de Baltimore, abriu no ano passado uma escola privada de medicina e um hospital-escola na Malásia, e está envolvido em parcerias que incluem gestão de hospitais e consultoria clínica na Turquia, no Japão e no México.
O projeto origina-se da crença em que, no futuro, pacientes no Golfo Pérsico assim como pacientes ricos nos países em desenvolvimento vão preferir ser tratados perto de casa do que no estrangeiro. Receosos de perder a valiosa receita que isso gera, os hospitais estão agindo antes que outros grupos privados se apresentem e preencham esse vazio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário