Os EUA podem mergulhar em séria recessão no primeiro semestre de 2013, se o Congresso americano não evitar cerca de US$ 500 bilhões em aumentos de impostos e cortes de despesas programados para ocorrer em janeiro, segundo disseram ontem analistas orçamentários do Congresso.
A rodada maciça de aperto de cinto de Ano Novo -- conhecida como despenhadeiro fiscal ou "Taxmageddon" em inglês ("Armagedom fiscal", em tradução livre) -- interromperia o recente progresso econômico, levaria o índice de desemprego de volta para os 9,1% no final de 2013 e produziria condições econômicas "que provavelmente serão consideradas uma recessão", disse o Birô de Orçamento do Congresso (CBO, em inglês), uma instituição apartidária.
A perspectiva é consideravelmente mais sombria do que a previsão feita pelo Birô em janeiro deste ano, quando o CBO previu que o despenhadeiro fiscal deflagraria uma recessão leve no primeiro semestre de 2013, com um crescimento econômico negativo de 1,3%. Agora, o Birô prevê uma contração mais forte de 2,9% do PIB, "semelhante em magnitude à recessão do início dos anos 1990".
A previsão mais desalentadora deve-se em parte à decisão do Congresso de aprofundar o despenhadeiro fiscal pela prorrogação de uma interrupção temporária de tributação de folha de pagamento e de benefícios emergenciais por desemprego, hoje previstos para expirar em janeiro. Além disso, analistas do CBO concluíram que, na realidade, a economia está mais frágil do que o previsto anteriormente.
O Birô ainda espera que a economia se recupere rapidamente, mas diz agora que o crescimento será inferior ao antes previsto, com a economia se expandindo com um índice anualizado de apenas 1,9% no segundo semestre de 2013. "É significativa a redução de crescimento que estamos discutindo para o próximo ano", disse Douglas Elmendorf, diretor do CBO. Ele disse ainda que cair no despenhadeiro fiscal custaria 2 milhões de empregos ao país.
Elmendorf disse ainda que o choque do despenhadeiro se faria sentir durante anos no futuro, com a taxa de desemprego estacionada acima de 8% ao longo de 2014. E esses efeitos são passíveis de serem sentidos bem antes que o despenhadeiro fiscal seja atingido, de acordo com a previsão orçamentária liberada ontem [quarta-feira, 22/8], já que "a preocupação dos negócios e dos consumidores com o aperto fical programado os levará a consumir de maneira mais cautelosa do que fariam na ausência desse risco", durante o restante de 2012.
A última previsão fiscal do CBO poderá alimentar o violento debate sobre política orçamentária, à medida que o país se aproxima rapidamente das eleições de 6 de novembro. Os republicanos, incluindo o candidato presidencial Mitt Romney, querem adiar a fatia maior do despenhadeiro -- US$ 331 bilhões em aumentos de impostos -- para dar tempo ao Congresso de superar as questões tributárias. Os democratas, incluindo o presidente Obama, dizem que não adiarão os aumentos de impostos programados para atingir os americanos mais ricos, aqueles que ganham acima de US$ 250.000 por ano. Os republicanos prontamente acusaram os democratas de provocar um desastre econômico.
"Esse relatório do CBO ressalta porque, em 1 de agosto, eu e outros líderes republicanos instamos o Senado a acompanhar a Câmara de Deputados na aprovação de uma legislação que conduziria o país para longe do despenhadeiro fiscal", disse em um comunicado escrito o presidente da Câmara, o republicano John A. Boehner (de Ohio). "Em vez de nos ameaçar de cair no despenhadeiro fiscal e prejudicar nossa economia em sua busca por impostos mais altos, eu instaria o presidente Obama e os congressistas democratas a trabalhar conosco para interromper o aumento de impostos que se aproxima e ameaça nossa economia, e substituir os iminentes cortes nos gastos com defesa por reformas de senso comum".
A Casa Branca retrucou em um comunicado que o relatório do CBO "simplesmente reforça a premente necessidade de que a Câmara dos Deputados siga a liderança do Senado e aprove uma lei que dê às famílias de classe média a confiança de que não verão seus impostos aumentarem no começo do próximo ano". O comunicado acrescenta que os legisladores republicanos "optaram por insistir no elevado risco de repetir as mesmas políticas falhas que foram as principais responsáveis pela crise econômica. Querem manter a classe média como refém, a menos que propiciemos também novos cortes maciços de impostos para milionários e bilionários -- cortes de impostos que não podemos suportar e que não fariam nada para fortalecer a economia".
A menos que a eleição ajude a resolver o impasse, teremos o mesmo bloqueio político que impediu um acordo de redução de deficit por boa parte dos últimos dois anos, desta vez acarretando uma das maiores disputas de redução de deficit da história moderna americana. Em vez de um superavit de US$ 1 trilhão por um quinto ano seguido, o deficit de 2013 mergulharia para US$ 641 bilhões, segundo a previsão do CBO.
Para o presente ano fiscal, que termina em 30 de setembro, o CBO estima que o deficit estará justo sobre US$1,1 trilhão, ligeiramente abaixo de previsões anteriores, graças a uma arrecadação de impostos melhor do que a esperada, gastos mais baixos à medida que a guerra do Iraque se aproxima do fim e aos efeitos do declínio do estímulo econômico de 2009.
A dívida do país está, não obstante, crescendo aceleradamente, com débitos devidos a investidores externos previstos para atingir 73% da economia total do país no final de setembro. Esse é o nível mais elevado já alcançado em mais de 60 anos, e quase duplica o valor o valor de 2007, registrado antes do começo da Grande Recessão.
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