O chinês Paulo Xu veio para o Brasil aos 22 anos, em 1994, sem muitos planos e sem falar português. Queria conhecer o país e tentar a sorte fora da China. Seu primeiro
trabalho foi no restaurante de comida japonesa Nanako, em São Paulo. "No
começo, eu cozinhava mal, mas comecei a trabalhar de 8 horas da manhã
até 1 hora da madrugada, para aprender e ser bom", diz Paulo Xu,
fundador e presidente da Digital Life (DL).
Obstinado, Xu aprendeu o novo ofício e, mais tarde, abriu uma pequena
lanchonete na capital paulista, mais tarde transformada em restaurante.
Ele também teve uma loja de artigos para presentes, até que, em 2004,
investiu na área de eletroeletrônicos, pela qual nutria mais interesse. O
produto escolhido por Xu para entrar no segmento foi uma panela
elétrica, própria para a cocção do arroz japonês. "Não existia
fabricação local e [o produto] fez sucesso. Cheguei a vender 3 mil
panelas por dia", diz. A DL foi instalada em Santa Rita do Sapucaí (MG),
em função dos benefícios fiscais oferecidos pelo governo local e pela
oferta de mão de obra especializada.
Um ano depois, a DL começou a produzir tocadores de música digital e
outros equipamentos, como rádio portátil, som automotivo, babá
eletrônica. "Em 2010, percebi que o tablet teria uma grande explosão de
vendas e uma tendência de consumo, juntamente com o smartphone", afirma
Xu. Após meses de pesquisas de mercado e algumas visitas a fabricantes
chineses, o empresário e sua equipe desenvolveram o primeiro tablet da
companhia, lançado no país em 2010.
Atualmente, a DL fabrica no país oito modelos de tablets, incluindo um
equipamento com tela que projeta imagens em três dimensões (3D). Os
aparelhos, que funcionam com o sistema operacional Android, do Google,
são mais simples que os produtos de grandes fabricantes internacionais,
como Apple e Samsung. Enquanto um aparelho da DL tem memória de 4
gigabytes (GB), o iPad 2, da Apple, possui versões com 16 GB, 32 GB e 64
GB. Os componentes são quase todos importados e a montagem é feita no
país
[ah, essa nossa sina de eternos montadores!].
Os preços dos tablets da DL variam entre R$ 300 e R$ 500. De acordo com o
último levantamento divulgado pela consultoria GfK Retail and
Technology, o varejo brasileiro opera com 16 marcas de tablets e o preço
médio desses equipamentos é de R$ 1.278. Xu pondera que as
multinacionais trazem ao país aparelhos idênticos aos produzidos no
exterior e competem em um mercado de "luxo". "Não é meu interesse
competir com Apple, com Samsung. O foco da DL é atender às classes C e
D, que eram uma faixa de mercado esquecida pelas grandes empresas", diz.
Para Xu, os tablets das multinacionais não são totalmente adaptados às
condições do mercado brasileiro. Esse fator, aliado ao preço, impede um
aumento explosivo das vendas, diz ele. Como exemplo, Xu cita que 38% das
famílias no país têm internet em casa, mas apenas 18% delas possuem
roteadores, os dispositivos que permitem a conexão sem fio. A DL criou
um adaptador para que o usuário possa conectar-se à internet com o
tablet por banda larga ou modem. "Parece estranho conectar com fio um
equipamento que nasceu para ser totalmente móvel, mas o brasileiro gosta
de acessar a internet em casa e o consumidor precisa ser atendido",
diz.
Por enquanto, a estratégia parece estar dando certo. No primeiro
semestre, a DL produziu e vendeu 250 mil tablets, volume 150% superior
ao do mesmo período do ano passado. Para o segundo semestre, a companhia
estima produzir 750 mil aparelhos, chegando a 1 milhão de unidades
fabricadas no ano.
Ricardo Malta, diretor comercial e de marketing da DL, diz que a demanda
do varejo triplica no segundo semestre em função de datas como Dia dos
Pais, Dia das Crianças e Natal, além das liquidações feitas em outubro e
janeiro. Atualmente, a companhia possui 200 clientes, entre redes de
varejo e distribuidores. Entre os grupos de varejo que vendem tablets da
DL estão Máquina de Vendas (Insinuante e Ricardo Eletro), B2W
(Americanas.com e Submarino), Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio),
Walmart, Compra Fácil, Yamada (que atende a região Norte), Eletrosom e
Eletrocema (que atendem a região Centro-Oeste).
Para atingir a produção de 1 milhão de unidades no ano, a DL investiu R$
15 milhões no primeiro semestre para ampliar a capacidade de produção
da fábrica de Santa Rita do Sapucaí. A companhia elevou neste mês a
capacidade de produção de 6 mil para 10 mil unidades por dia. A DL tem
150 funcionários e planeja contratar mais 50 pessoas para ampliar as
linhas de produção.
A consultoria IDC projeta vendas de 2,5 milhões de tablets no Brasil
neste ano, frente aos 800 mil do ano passado, um crescimento de 213%. Xu
diz acreditar que o mercado pode atingir 5 milhões de unidades, se
considerados os produtos de baixo custo.
O chinês Paulo Xu, fundador da DL: empresa deve produzir 1 milhão de tablets por ano no país - (Foto: Valor Econômico).
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