Como se divide o preço de um veículo - (Ilustração: O Globo -- obs.: o "uma" veículo é erro de revisão do jornal).
Na garagem de casa, o carro da família pode ser o mesmo de americanos,
europeus, argentinos ou japoneses. Mas o preço certamente é muito
diferente. Margem de lucro maior, impostos elevados, altos custos de mão
de obra, de logística, de infraestrutura e de matérias-primas, falta de
competitividade, forte demanda e um consumidor disposto a pagar um
preço alto ajudam a explicar o porquê de o veículo aqui no Brasil chegar
a ser vendido por mais do que o dobro que lá fora. [Essa história de que um carro feito no Brasil é "idêntico" ao de mesmo nome e tipo feito lá fora é uma mentira deslavada -- no quesito "segurança", por exemplo, é sabido que inúmeros carros "made in Brazil" que aqui transitam são inferiores aos similares lá fora, e têm que ser modificados (= melhorados) para serem exportados. Carros populares vendidos no Brasil e na América Latina estão 20 anos atrasados, em termos de segurança, em relação aos comercializados na
Europa e nos Estados Unidos, segundo testes feitos pelo Latin NCAP. A notícia repercutiu em diversos sites noticiosos estrangeiros, como “The Washington Post” e “Financial Times“.]
Levantamento em cinco países — Brasil, EUA, Argentina, França e Japão —
mostrou que o carro brasileiro é sempre o mais caro. A diferença chega a
106,03% no Honda Fit vendido na França (onde se chama Honda Jazz).
Aqui, sai por R$ 57.480, enquanto lá, pelo equivalente a R$ 27.898,99. A
distância também é expressiva no caso do Nissan Frontier vendido nos
EUA. Aqui, custa R$ 121.390 — 91,31% a mais que os R$ 63.450,06 dos
americanos. Há cerca de duas semanas, a “Forbes” ridicularizou os preços
no Brasil, mostrando que um Jeep Grand Cherokee básico custa US$ 89.500
(R$ 179 mil) aqui, enquanto, por esse valor, em Miami, é possível
comprar três unidades do modelo, que custa US$ 28 mil. [O primeiro parágrafo da reportagem da Forbes, ("O ridículo Jeep Grand Cherokee de US$ 80.000 do Brasil") de 11/8/2012, já passa para os americanos e quem mais o ler a imagem do brasileiro com um enorme par de orelhas: "Alguém pode achar que pagar US$ 80.000 por um Jeep Grand Cherokee significa que ele vem equipado com asas e aros banhados em ouro, mas no Brasil ele vem no modelo standard".]
O setor teve o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido. O
incentivo terminaria sexta-feira, mas deve ser prorrogada por dois
meses.
Especialistas estimam que a margem de lucro das montadoras no Brasil
seja pelo menos o dobro que no exterior, por causa de um quadro de pouca
concorrência — ainda que já seja o quarto maior mercado de carros do
mundo, incluindo caminhões e ônibus, atrás de China, Estados Unidos e
Japão. O diretor-gerente da consultoria IHS Automotive no Brasil, Paulo
Cardamone, estima ganho de 10% do preço de um veículo no Brasil,
enquanto no mundo seria de 5%. Nos EUA, esse ganho é de 3%: "Lucro de montadora no Brasil é maior que em qualquer lugar do mundo,
pelo menos o dobro. O mercado automobilístico no Brasil é protegido,
taxam-se os importados e há concentração forte das vendas nas quatro
grandes marcas. Lá fora, as maiores têm cerca de 30% do mercado", afirma
ele.
Volkswagen, General Motors, Fiat e Ford — responderam por 81,8% dos 2,825 bilhões de carros vendidos no país em 2011 [aqui, temos outro erro bravo de revisão do Globo, que nesse item anda péssimo (só nessa reportagem são dois erros grosseiros), é evidente que se trata de 2,8 milhões de veículos]. "Existe uma demanda grande pelos veículos no Brasil, o que mantém os
preços em alta. Se a montadora sabe que há compradores, por que dar
desconto?", diz Milad Kalume Neto, gerente de atendimento da consultoria
Jato Dynamics do Brasil.
De todo modo, há outros vilões para preços tão elevados. O imposto é, de
praxe, apontado como o grande causador. Mas, mesmo descontando as
alíquotas, os consumidores nacionais ainda são os que precisariam pagar
mais para ter o bem. O preço do Nissan Frontier vendido no Brasil
cairia, por exemplo, de R$ 121.390 para R$ 81.209,91, ainda é mais que
França e EUA com impostos. "Não se pode ignorar o custo Brasil, que encarece toda a cadeia produtiva
com os problemas de logística e infraestrutura do país, além do custo
da mão de obra brasileira", diz José Caporal, consultor da Megadealer,
especializada no setor automotivo [essa história do "custo Brasil", que já virou pretexto caixa preta para tudo o que acontece de ruim na nossa indústria, precisa, e pode facilmente, ser esmiuçado no caso da indústria automobilística. Sua cadeia produtiva não é das mais complexas, e os itens que são grandes oneradores de preço podem ser facilmente identificados -- um deles, certamente, é o aço. Mas, há um item sobre o qual pouco se fala e que, certamente, é uma mina para as montadoras: são os royalties pagos às matrizes. Lembro-me sempre da resposta de um amigo, engenheiro mecânico que trabalhou na indústria automobilística, quando há tempos lhe perguntei por que todos os carros de um mesmo fabricante não têm caixas de marchas idênticas -- cada caixa diferente paga também royalties diferentes à matriz, respondeu-me ele.]
Imposto nos EUA é de até 9%
Segundo a Anfavea, a associação das montadoras, os impostos representam
cerca de 30% do preço dos veículos, considerando as alíquotas normais do
IPI. Nos carros 1.0, os impostos representam 27,1% do preço. Na faixa
de veículos entre 1.0 e 2.0, o peso dos impostos é de 30,4% para os que
rodam a gasolina e de 29,2% para motores flex e etanol. Acima de 2.0,
respondem por 36,4% e 33,1% do preço, respectivamente. Nos EUA, os
impostos são de até 9% do preço ao consumidor.
No Brasil, outro fator complicador é o fato de grande parte das compras
ser financiada. O consumidor se preocupa mais com o tamanho da parcela
que com o preço final do veículo. "Nosso carro ainda é muito caro, é um absurdo", afirma Adriana Marotti de
Mello, professora do Departamento de Administração da FEA/USP [este caso da oneração do preço do carro por causa do custo de seu financiamento é outra história, que absolutamente nada tem a ver com o preço de fábrica do veículo -- este é que é o busílis da questão. -- A tabela abaixo foi montada por mim, com base em tabela idêntica apresentada na pág. 23 da versão impressa do Globo].
AS DIFERENÇAS DE PREÇOS (Fonte: O Globo)
Honda Fit
Básico |
Peso do imposto no preço |
Diferença do modelo
brasileiro para os demais |
Preço (em R$) |
Brasil Argentina França EUA Japão |
25,6% 21% 19,6% 6% 5% |
-- 28,65% 106,03% 75,74% 69,65% |
57.480 [14.714,88 são
impostos] 44.678,55 27.898,99 32.706,43 33.880,49 |
Nissan Frontier (*) |
|
|
|
Brasil Argentina França EUA |
33,1% 21% 19,6% 6% |
-- 15,63% 57,60% 91,31% |
121.390 [40.180,09 são
impostos] 104.977,69 77.020,51 63.450,06 |
Chevrolet Cruze (*) |
|
|
|
Brasil Argentina França EUA |
25,6% 21% 19,6% 6% |
-- 13,46% 33,83% 73,28% |
73.957 [18.932,99 são
impostos] 65.185,25 55.262,13 42.679,41 |
Ótimo! Além disso, depois de fazer papel de idiota e comprar um veículo de boa qualidade e com os recursos mais modernos disponíveis, o cidadão vai dirigí-lo prazerosamente... onde, especificamente?
ResponderExcluirEm qual cidade, em qual estrada, de dia ou de noite, com qual segurança? E os IPVAs, DUTs e o escambau, e a maldita e ineficiente inspeção anual, essa aqui do RJ?
Eis um bom momento de reflexão, para que se gaste menos em veículos (o sonho dourado!!!) e mais em outro elemento qualquer de laser, se é que há algum.