O objetivo principal da estatal, cujo nome oficial é Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias [nome pomposo ...], será viabilizar as apólices e as garantias de obras de infraestrutura, mas a empresa poderá competir com as seguradoras privadas em ramos como habitação, crédito estudantil, exportação e até o de veículos, o maior do país. A estatal também poderá comprar participações em seguradoras já existentes, como a SCBE (Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação), voltada a exportações. Em jogo, está um mercado estratégico, que cresce em média 20% ao ano desde 2007. No ano passado, as seguradoras brasileiras faturaram R$ 105 bilhões, volume 16,6% superior ao de 2010.
Gráfico de Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
Só o seguro de risco de engenharia, um dos que mais devem crescer, girou
R$ 912 milhões no ano passado -- 98,4% mais do que no ano anterior. E a
previsão é que cresça nesse ritmo até 2016.
Ressalvas
As seguradoras privadas são contra a criação de uma concorrente estatal
porque consideram que ela teria condições privilegiadas para ganhar
mercados de interesse do governo, como o das obras de infraestrutura.
Também diziam que a participação estatal despertaria dúvidas quanto à
melhor gestão de riscos desses empreendimentos, uma vez que o governo
participa das obras, representa grande parte do risco político e também
seria o vendedor dessas apólices.
O setor já havia reagido no fim do governo Lula, quando a proposta havia
sido apresentada. As críticas fizeram com que ela fosse arquivada.
O governo sinalizou às seguradoras que enviaria uma medida provisória
prevendo a criação de uma agência seguradora para complementar a atuação
privada.
Por essa proposta, a agência ofereceria apólices para segmentos de
mercado mais difícil, como crédito estudantil, imóveis para baixa renda,
aquisição de máquinas, portos e obras de altíssimo risco. [Muita estranha essa barganha, o que só faz aumentar a desconfiança de que essa Segurobras deve ser um prato suculento para o fisiologismo típico dos governos petistas. Quer dizer que, para comprar o silêncio das seguradoras privadas, o governo vai "inovar", criando o capitalismo sem risco -- ou de risco mínimo -- às nossas custas, sem nos consultar?!]
De volta ao Congresso
No fim do mês passado, o texto voltou ao Congresso Nacional, onde dois
artigos foram acrescentados, recriando a empresa nos moldes anteriores,
com atuação plena. No fim do mês passado, o texto voltou ao Congresso Nacional, onde dois
artigos foram acrescentados, recriando a empresa nos moldes anteriores,
com atuação plena.
Gráfico de Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress - clique na imagem para ampliá-la.
Forte nega que tenha colocado os artigos a pedido do governo. "Esse
setor precisa de concorrência para que os preços não inviabilizem os
investimentos. A seguradora vai ser criada, sob risco de desmoralizar o
Legislativo" [muito típico esse conceito parlamentar de "moral"].
A proposta foi aprovada no dia 7, quando as atenções estavam voltadas para o julgamento do mensalão [sem comentários].
Ajuda a empreiteira
Para as seguradoras, o governo quer favorecer as empreiteiras e os concessionários de infraestrutura, que estão com muitas obras em curso e, por isso, têm sua avaliação de risco altamente comprometida, implicando preços maiores nas seguradoras. A estatal seria uma forma de as empresas contratarem novas garantias e apólices para as obras de infraestrutura do governo, com preços mais baixos que os do mercado [em princípio a coisa soa interessante e vantajosa, só que já vimos esse filme antes, exaustivamente: o governo banca riscos às nossas custas, mas não exige, não fiscaliza, nem cobra contrapartidas tais como preços e tarifas (quando é o caso) menores. Depois, cinicamente, se faz de marido enganado.]
A CNSeg (Confederação Nacional das Seguradoras) enviou carta à presidente Dilma pedindo o veto dos dois artigos, lembrando do acordo fechado no governo Lula. "É uma mensagem péssima mudar as regras depois que o mercado se preparou para isso", diz Jorge Hilário Vieira, presidente da CNSeg [essa é uma disputa absolutamente sem anjinhos, de ambos os lados].
Nenhum comentário:
Postar um comentário