segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Receita de times brasileiros pode alcançar europeus em breve

[O texto abaixo é da autoria de Marcela Ayres e foi publicado hoje no site Exame.com]

Campeonatos milionários, jogadores idem. A Europa é reconhecidamente um campo em que a bola rola redonda para os negócios do futebol - e as somas movimentadas no velho continente são uma prova disso. Mas o Brasil está perto de chegar lá. 

Segundo o consultor em marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, os 20 maiores clubes daqui ocupam o sexto lugar do ranking mundial de receitas, com 1,89 bilhão de reais embolsados na temporada 2010-11. A expectativa é que o grupo suba para o quinto lugar em dois anos, desbancando a liga premium da França, que faturou 2,39 bilhões no mesmo período.

Dados da Delloite colocam os principais clubes da Inglaterra no primeiro lugar do pódio entre o que mais ganham com futebol, com receitas de 5,87 bilhões de reais em 2011. Em seguida, aparecem os times de elite da Alemanha (4,02 bilhões), Espanha (3,95 bilhões) e Itália (3,57 bilhões).

Como o Brasil não conta com uma liga formal, como na Europa, Somoggi consolidou os números dos 20 maiores times brasileiros, somando os ganhos com direitos de TV, marketing, clube social e estádio. Como resultado, apareceram no grupo clubes como Flamengo, Internacional e Santos. Nas últimas posições da lista, estão Avaí, Vitória e Portuguesa.  Embora a força das equipes seja grande, já que os 20 nomes representam a maior força financeira do futebol global fora da Europa, as receitas individuais dos clubes nacionais ainda estão muito distantes das apresentadas pelos maiores times do mundo.

Líder entre brasileiros, o Corinthians faturou 231 milhões de reais em 2011. A cifra é inferior a de clubes médios da Europa, como o Atlético de Madrid, Stuttgart, Aston Villa e Benfica. O São Paulo, segundo do Brasil, ficou atrás de clubes como Everton, West Hum e Sunderland.

Na visão de Somoggi, há espaço para os times engordarem o caixa, de olho em negócios que já são explorados maciçamente no futebol europeu.  Na área de mídia, em que são incorporados os ganhos com direitos de TV, além de ações promocionais nos sites oficiais, no Facebook e Twitter, Somoggi acredita na expansão de iniciativas de e-commerce, ainda incipientes no Brasil.

Por aqui, os ganhos com a transmissão na televisão ainda respondem pela maior parte do bolo embolsado pelos clubes – embora em volume muito inferior ao movimentado na Europa.


Maiores receitas de mídia em 2011 (R$)

  Europa Brasil (apenas com direitos de TV)
1 Barcelona - 423 milhões Corinthians - 112 milhões
2 Real Madrid - 422 milhões Flamengo - 94 milhões
3 Manchester United - 304 milhões São Paulo - 67 milhões
4 Inter de Milão - 286 milhões Vasco da Gama - 66 milhões
5 Chelsea - 258 milhões Santos - 59 milhões  

Para o consultor, o marketing dos times europeus se alimenta da escala global de negócios. Não por menos, propagandas com astros do futebol que jogam na Europa têm apelo no mundo inteiro. Para os clubes, o volume gerado se equipara ao recebido com contratos de mídia. No Brasil, por outro lado, os times ganham muito mais com acordos de TV. Mas como o momento é de crise financeira na Europa, o país pode se beneficiar de um ambiente econômico mais fraco no exterior, atraindo patrocinadores globais e novos investidores.

Maiores receitas com marketing em 2011 (R$) 

  Europa Brasil
1 Bayern de Munique - 409 milhões Corinthians - 58 milhões
2 Real Madrid - 397 milhões Palmeiras - 49 milhões
3 Barcelona - 359 milhões Flamengo - 44 milhões
4 Manchester United - 263 milhões Santos - 42 milhões
5 AC Milan - 211 milhões São Paulo - 41 milhões    

Finalmente, o ganho com o desembolso dos torcedores em dia de jogos ainda engatinha. Somoggi defende que o conceito de "matchday revenue", em que a receita é incrementada em "uma atmosfera de consumo e entretenimento", vá crescer com a construção de novos estádios para a Copa de 2014. "O segredo é conseguir mapear todas as receitas da arena multiuso e explorá-las corretamente, adequando-as à demanda local", diz o consultor. Considerado exemplo de sucesso por aqui, o São Paulo ganha com o Morumbi quase cinco vezes menos que o Real Madrid, na Espanha. 

Maiores receitas com estádio em 2011 (R$)

  Europa Brasil
1 Real Madrid - 284 milhões São Paulo - 60 milhões
2 Manchester United - 277 milhões Santos - 38 milhões
3 Barcelona - 255 milhões Corinthians - 27 milhões
4 Arsenal - 237 milhões Flamengo - 14 milhões
5 Chelsea - 172 milhões Vasco da Gama - 13 milhões

Fontes: Delloite (Europa) e Amir Somoggi (Brasil) 

[O problema do artigo acima é que ele aborda apenas o lado da receita dos clubes brasileiros, e esse dado isolado não retrata a situação econômico-financeira de organização alguma. Todos sabemos da quase absoluta predominância da péssima gestão administrativo-financeira de nossos times de futebol, praticamente todos eles com receitas seriamente comprometidas e penhoradas por conta de dívidas trabalhistas, com o INSS, etc. Vejamos as tabelas abaixo, retiradas do artigo "A Gestão de Clubes de Futebol –Regulação, Modernização e Desafios para o Esporte no Brasil", por Manoel Henrique de Amorim Filho, publicado em 16 de julho de 2012 e que reproduzo parcialmente a seguir:

Indicadores Financeiros dos Clubes Brasileiros - clique na imagem para ampliá-la. 

Para comparação, o autor apresenta na Tabela 2 as métricas financeiras, evidenciadas em dólar americano para Barcelona, Real Madrid, Arsenal e Bayern de Munique. A escolha desses clubes foi feita em função de todos estarem entre os cinco primeiros no ranking de receitas na temporada 2010/2011, conforme a publicação da Football Money League.

Indicadores Financeiros de Clubes Europeus - clique na imagem para ampliá-la.

Na Tabela 3, é apresentada a razão da receita anual para cada um dos clubes pesquisados sobre as respectivas médias de público nos campeonatos nacionais. Os valores apresentados são indicativos da efetividade de exploração das marcas dos clubes e capturam a receita além da bilheteria, em especial as receitas com transferência de atletas. Nota-se que os clubes de São Paulo, além do Internacional, são aqueles que mais se aproximam da realidade dos times europeus.


A despeito de ser o “país do futebol” e do advento de um mercado consumidor doméstico que emergiu nos últimos anos, observa-se que o público nos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro está muito aquém da fama do futebol nacional. A Tabela 4 mostra que a média de público da primeira divisão do campeonato, em 2010, foi menor do que aquela observada no campeonato argentino do mesmo ano, tendo sido também superada pelo campeonato holandês de 2009/2010, pela Série B do campeonato inglês de 2010/2011 e pela liga norte americana em 2010. Nota-se, ainda, que a média de público da Série A do Campeonato Brasileiro supera somente a segunda divisão do campeonato alemão e as médias de público dos campeonatos escocês e português.

Outra análise interessante feita pelos estudiosos é que há uma forte correlação entre o crescimento das receitas e o crescimento com os custos salariais. Resumidamente, percebe-se que a geração de riqueza no futebol em grande parte termina por se concentrar nas mãos de alguns, em especial dos atletas mais habilidosos, e provavelmente de seus empresários e agentes.

A permanência dos clubes como entidades de prática esportiva sem fins lucrativos não é impeditiva para que haja excelência na gestão dos negócios no futebol. Todavia, para que os clubes possam se fortalecer institucionalmente e proporcionem retornos efetivos à sociedade, tendo em vista os recursos púbicos e privados de que fazem uso, é indispensável que os mecanismos de responsabilização e de cobranças sejam devidamente constituídos.]

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