Campeonatos milionários, jogadores idem. A Europa é reconhecidamente um campo em que a bola rola redonda para os negócios do futebol - e as somas movimentadas no velho continente são uma prova disso. Mas o Brasil está perto de chegar lá.
Segundo o consultor em marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, os 20 maiores clubes daqui ocupam o sexto lugar do ranking mundial de receitas, com 1,89 bilhão de reais embolsados na temporada 2010-11. A expectativa é que o grupo suba para o quinto lugar em dois anos, desbancando a liga premium da França, que faturou 2,39 bilhões no mesmo período.
Dados da Delloite colocam os principais clubes da Inglaterra no primeiro lugar do pódio entre o que mais ganham com futebol, com receitas de 5,87 bilhões de reais em 2011. Em seguida, aparecem os times de elite da Alemanha (4,02 bilhões), Espanha (3,95 bilhões) e Itália (3,57 bilhões).
Como o Brasil não conta com uma liga formal, como na Europa, Somoggi consolidou os números dos 20 maiores times brasileiros, somando os ganhos com direitos de TV, marketing, clube social e estádio. Como resultado, apareceram no grupo clubes como Flamengo, Internacional e Santos. Nas últimas posições da lista, estão Avaí, Vitória e Portuguesa. Embora a força das equipes seja grande, já que os 20 nomes representam a maior força financeira do futebol global fora da Europa, as receitas individuais dos clubes nacionais ainda estão muito distantes das apresentadas pelos maiores times do mundo.
Líder entre brasileiros, o Corinthians faturou 231 milhões de reais em 2011. A cifra é inferior a de clubes médios da Europa, como o Atlético de Madrid, Stuttgart, Aston Villa e Benfica. O São Paulo, segundo do Brasil, ficou atrás de clubes como Everton, West Hum e Sunderland.
Na visão de Somoggi, há espaço para os times engordarem o caixa, de olho em negócios que já são explorados maciçamente no futebol europeu. Na área de mídia, em que são incorporados os ganhos com direitos de TV, além de ações promocionais nos sites oficiais, no Facebook e Twitter, Somoggi acredita na expansão de iniciativas de e-commerce, ainda incipientes no Brasil.
Por aqui, os ganhos com a transmissão na televisão ainda respondem pela maior parte do bolo embolsado pelos clubes – embora em volume muito inferior ao movimentado na Europa.
Maiores receitas de mídia em 2011 (R$)
Europa | Brasil (apenas com direitos de TV) | |||
---|---|---|---|---|
1 | Barcelona - 423 milhões | Corinthians - 112 milhões | ||
2 | Real Madrid - 422 milhões | Flamengo - 94 milhões | ||
3 | Manchester United - 304 milhões | São Paulo - 67 milhões | ||
4 | Inter de Milão - 286 milhões | Vasco da Gama - 66 milhões | ||
5 | Chelsea - 258 milhões | Santos - 59 milhões |
Maiores receitas com marketing em 2011 (R$)
Europa | Brasil | |||||
---|---|---|---|---|---|---|
1 | Bayern de Munique - 409 milhões | Corinthians - 58 milhões | ||||
2 | Real Madrid - 397 milhões | Palmeiras - 49 milhões | ||||
3 | Barcelona - 359 milhões | Flamengo - 44 milhões | ||||
4 | Manchester United - 263 milhões | Santos - 42 milhões | ||||
5 | AC Milan - 211 milhões | São Paulo - 41 milhões |
Finalmente, o ganho com o desembolso dos torcedores em dia de jogos
ainda engatinha. Somoggi defende que o conceito de "matchday revenue",
em que a receita é incrementada em "uma atmosfera de consumo e
entretenimento", vá crescer com a construção de novos estádios para a
Copa de 2014. "O segredo é conseguir mapear todas as receitas da arena
multiuso e explorá-las corretamente, adequando-as à demanda local", diz o
consultor. Considerado exemplo de sucesso por aqui, o São Paulo ganha
com o Morumbi quase cinco vezes menos que o Real Madrid, na Espanha.
Maiores receitas com estádio em 2011 (R$)
Europa | Brasil | |
---|---|---|
1 | Real Madrid - 284 milhões | São Paulo - 60 milhões |
2 | Manchester United - 277 milhões | Santos - 38 milhões |
3 | Barcelona - 255 milhões | Corinthians - 27 milhões |
4 | Arsenal - 237 milhões | Flamengo - 14 milhões |
5 | Chelsea - 172 milhões | Vasco da Gama - 13 milhões |
Fontes: Delloite (Europa) e Amir Somoggi (Brasil)
[O problema do artigo acima é que ele aborda apenas o lado da receita dos clubes brasileiros, e esse dado isolado não retrata a situação econômico-financeira de organização alguma. Todos sabemos da quase absoluta predominância da péssima gestão administrativo-financeira de nossos times de futebol, praticamente todos eles com receitas seriamente comprometidas e penhoradas por conta de dívidas trabalhistas, com o INSS, etc. Vejamos as tabelas abaixo, retiradas do artigo "A Gestão de Clubes de Futebol –Regulação, Modernização e Desafios para o Esporte no Brasil", por , publicado em 16 de julho de 2012 e que reproduzo parcialmente a seguir:
Indicadores Financeiros dos Clubes Brasileiros - clique na imagem para ampliá-la.
Para comparação, o autor apresenta na Tabela 2 as métricas financeiras,
evidenciadas em dólar americano para Barcelona, Real Madrid, Arsenal e
Bayern de Munique. A escolha desses clubes foi feita em função de todos
estarem entre os cinco primeiros no ranking de receitas na temporada
2010/2011, conforme a publicação da Football Money League.
Indicadores Financeiros de Clubes Europeus - clique na imagem para ampliá-la.
Na Tabela 3, é apresentada a razão da receita anual para cada um dos
clubes pesquisados sobre as respectivas médias de público nos
campeonatos nacionais. Os valores apresentados são indicativos da
efetividade de exploração das marcas dos clubes e capturam a receita
além da bilheteria, em especial as receitas com transferência de
atletas. Nota-se que os clubes de São Paulo, além do Internacional, são
aqueles que mais se aproximam da realidade dos times europeus.
Receita Anual Média de Público, considerando apenas o Campeonato Nacional - clique na imagem para ampliá-la.
A despeito de ser o “país do futebol” e do advento de um mercado
consumidor doméstico que emergiu nos últimos anos, observa-se que o
público nos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro está muito aquém
da fama do futebol nacional. A Tabela 4 mostra que a média de público da
primeira divisão do campeonato, em 2010, foi menor do que aquela
observada no campeonato argentino do mesmo ano, tendo sido também
superada pelo campeonato holandês de 2009/2010, pela Série B do
campeonato inglês de 2010/2011 e pela liga norte americana em 2010.
Nota-se, ainda, que a média de público da Série A do Campeonato
Brasileiro supera somente a segunda divisão do campeonato alemão e as
médias de público dos campeonatos escocês e português.
Total e Média de Público nos Principais Campeonatos Nacionais de Futebol - clique na imagem para ampliá-la.
Outra análise interessante feita pelos estudiosos é que há uma forte correlação entre o crescimento das receitas e o crescimento com os custos salariais. Resumidamente, percebe-se que a geração de riqueza no
futebol em grande parte termina por se concentrar nas mãos de alguns, em
especial dos atletas mais habilidosos, e provavelmente de seus
empresários e agentes.
A permanência dos clubes como entidades de prática esportiva sem fins
lucrativos não é impeditiva para que haja excelência na gestão dos
negócios no futebol. Todavia, para que os clubes possam se fortalecer
institucionalmente e proporcionem retornos efetivos à sociedade, tendo
em vista os recursos púbicos e privados de que fazem uso, é
indispensável que os mecanismos de responsabilização e de cobranças
sejam devidamente constituídos.]
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