quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Em confronto com a Igreja, freiras americanas buscam "diálogo aberto" com o Vaticano

[As freiras americanas e a Igreja Católica andam meio às turras no tocante a conceitos fundamentais relativos à mulher no seio da religião. Situa-se nesse contexto a reação violenta do Vaticano a um livro sobre sexualidade feminina, escrito por uma freira respeitada na comunidade acadêmica americana. O texto traduzido a seguir é da autoria de Michelle Boorstein, e foi publicado no The Washington Post do dia 10 deste mês de agosto. O comportamento do Vaticano continua surreal: cai de pau em freiras "rebeldes" e passa a mão na cabeça de padres pedófilos!...]

Na sexta-feira, as freiras americanas recuaram de uma posição de confronto direto com o Vaticano, dizendo que querem um "diálogo aberto" respeitoso com Roma sobre disputas relativas a gênero, sexualidade humana e autoridade.

A decisão, tomada pela Conferência de Liderança de Mulheres Religiosas [tradução livre para "Leadership Conference of Women Religious" - LCWR], sediada em Silver Spring e que representa 80% das freiras americanas, surgiu no final de uma conferência anual tensa realizada na semana passada em St. Louis, em que cerca de 900 mulheres se reuniram para decidir como responder a um relatório do Vaticano de abril passado que diz que o grupo se afastou perigosamente para longe da ortodoxia e do Papa, e precisa ser "reformado".  [O citado relatório do Vaticano está disponível em formato 'pdf' para quem acessar o original do artigo em inglês pelo link dado acima.]

As mulheres presentes consideraram várias hipóteses: aceitar o relatório, rejeitá-lo,  transformar-se em uma organização católica independente (em vez de um "escritório" ou "birô" de Roma como hoje), ou encontrar uma posição intermediária. Em um comunicado na sexta-feira, elas disseram que querem prosseguir no diálogo com a equipe de três bispos nomeada pelo Vaticano para aprovar seus [delas] oradores de conferências, sua literatura e seus programas de treinamento.

A expectativa delas é que "um diálogo aberto e honesto possa levar não apenas a um entendimento maior entre a liderança da Igreja e as mulheres religiosas, mas também criar mais possibilidades para a laicidade e, particularmente para as mulheres, ter mais voz na Igreja". Líderes da Conferência "continuarão com essas discussões por tanto tempo quanto possível, mas reconsiderarão [essa posição] se a LCWR for forçada a comprometer a integridade de sua missão", diz o comunicado.  

As diferentes reações à decisão das freiras evidenciaram a situação frágil e dividida em que se encontram os católicos americanos, sobre praticamente tudo, desde os papéis ou funções do gênero feminino e o objetivo do sexo à conceituação do que seja submeter-se a uma autoridade. Alguns especialistas disseram que a manifestação das mulheres no sentido de que, simplesmente, não acatarão ou obedecerão o que for decido [pela Igreja] pode ser vista como um desafio ou um desacato. Outros, disseram que a decisão delas de não desligar seu grupo de Roma espelhava as frustrações de católicos liberais que se mantêm próximos à Igreja, porque eles acham que podem influenciar um Vaticano fortemente focado em impor ortodoxia. 

"Ambos os lados do impasse falam em 'diálogo', mas parecem referir-se a coisas distintas", disse Scott R. Appleby, um historiador da Universidade de Notre Dame. Bispos de destaque "entendem diálogo como sendo uma conversa sobre como implementar melhor a visão do Papa sobre a vida e o testemunho religiosos. As irmãs o vêem como um dar-e-receber em aberto, que é mais um discernimento mútuo sobre onde e para onde o Espírito está conduzindo a Igreja em um determinado momento na História".

Ainda que as mulheres nunca estivessem discutindo a hipótese de deixar a Igreja, o simples conceito de que freiras -- os verdadeiros ícones da obediência aos deveres do catolicismo -- possam admitir dar um passo oficial para afastar-se de Roma foi completamente inusitado e extraordinário.

Historiadores disseram que esse impasse foi o de maior alcance no catolicismo americano. Tem havido conflitos entre Roma e algumas ordens religiosas isoladas ou teólogos, mas a Leadership Conference representa a vasta maioria das 56.000 freiras do país.  "Eles estão dizendo que se trata apenas de doutrina. Mas, para nós o diálogo diz respeito a refletir sobre nossas vidas fora do Evangelho. Para nós, teologia refere-se a pesquisar e descobrir. Eles acham que isso está errado. É como remover o coração daquilo que somos", disse a Irmã Simone Campbell, uma advogada e lobista em Washington [que freira no Brasil teria este perfil?!] que nesse verão liderou freiras numa turnê bem divulgada chamada "Freiras no Ônibus" (Nuns on the Bus), idealizada para responder ao Vaticano com maior visibilidade.

Perguntada se as diferenças se referiam mais à questão do debate livre, ou se temas mais polêmicos como contracepção estavam sobre a mesa, Campbell disse: "Sem dúvida. As teologias evoluíram nesses dois milênios. Quando Jesus morreu e ascendeu [ao céu], nem tudo estava resolvido". [Em termos de catolicismo continua assim ou pior -- essa celeuma Vaticano x freiras é uma das pontas do iceberg.]

Mas, bispos de destaque disseram que freiras não têm o direito de questionar ensinamentos oficiais do Papa. "Como, neste mundo, podem essas religiosas que foram consagradas e juraram seguir Cristo mais fielmente ... podem se opor ao que o Vigário de Cristo está pedindo? Isso é uma contradição", disse o Cardeal Raymond Burke, presidente da Suprema Corte do Vaticano, à TV católica EWTN. "Se isso não puder ser reformado, então não tem o direito de continuar".

Alguns estavam comemorando ter-se evitado um impasse -- por ora. "LCWR concorda em dialogar com representantes [da Congregação para a Doutrina da Fé]. Passo um realizado. Quando ambos os lados ouvem há progresso", tuitou a Irmã Mary Ann Walsh, porta-voz da Conferência Americana de Bispos. 

O número de freiras -- e padres -- está encolhendo nos EUA [parece que por toda a parte], mas eles mantêm uma influência enorme no mundo em desenvolvimento, onde vive agora a maioria dos católicos.

Os interesses se refletiram nas emoções demonstradas na conferência. Perguntada por que ela e outras estavam chorando durante uma oração de abertura na quinta-feira, a Irmã Mary Waskowiak disse numa roda de imprensa que estava comovida com as questões da semana: "O que significa renunciar? O que está sendo verdadeiramente pedido de mim, o que está sendo verdadeiramente pedido de nós? "

Irmã Anne Nasimiyu, do Quênia, à direita, e Irmã Lucy Marindani, de Wilwaukee (Wisconsin, EUA) se juntaram a outros membros na Leadership Conference of Women Religious. O maior grupo americano de freiras da Igreja Católica Apostólica Romana se reuniu para decidir sobre como responder à censura severa e à ordem de reforma emitidas pelo Vaticano - (Foto: The Washington Post).






Um comentário:

  1. Gostaria até de ser corrigido por algum seguidor do BLOG que pense diferentemente, mas parece-me que esse conglomerado de pedófilos-misóginos (todas as exceções bem à parte) não têm nada a ver com os ensinamentos de Jesus Cristo e nem com a simplifidade de vida por ele difundida e vivida.

    Enquanto o Vaticano desdenha o papel da mulher na sociedade de hoje e de sempre (misóginos recidivos que são), os falsos profetas vão ganhando terreno. Aliás, quem são os falsos profetas,... caras-pálidas vaticanistas?

    "Deus está dentro de você e nos seus arredores. e não está nos templos de pau e pedra. Quem aceitar essa palavras de Jesus vivo, não conhecerá a morte."

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