sábado, 4 de agosto de 2012

Cada vez mais, mulheres são atacadas com ácido na Colômbia

[Uma barbárie inominável praticada contra mulheres em um país aqui ao lado, a Colômbia.]

Cada vez que se olha no espelho, Consuelo Córdoba é transportada ao momento em que seu namorado lhe jogou um ácido extremamente cáustico que destruiu seu rosto, deixando-a com ferimentos horríveis que jamais cicatrizarão. O ácido lhe destruiu uma orelha por queimadura, desintegrou-lhe um olho, corroeu a parte inferior de seu rosto e arruinou seus dentes. Consuelo usa agora uma máscara elástica apertada no rosto, respira através de um tubo de plástico que sai de seu nariz, e anda pelas ruas "parecendo um monstro", como ela mesma diz. "Gostaria de dormir hoje e não acordar amanhã. A verdade é que a vida é muito dura e estou sozinha", disse ela.

A colombiana Consuelo Córdoba, atacada com ácido pelo namorado - (Foto: The Washington Post).

Um modo barato e rápido de destruir a vida de uma mulher, os ataques com ácido na Índia, Afeganistão e Bangladesh receberam muita atenção nos últimos anos, com um documentário sobre vítimas no Paquistão tendo sido premiado com um Oscar este ano. Embora esse horrível tipo de agressão seja raro no mundo ocidental, um número crescente desse tipo de ataque na Colômbia tem deixado alarmados procuradores e autoridades da saúde, e aterrorizado as mulheres. Acredita-se que, por ano, ocorram no país dezenas dessas agressões, em que os agressores encharcam suas vítimas com ácido sulfúrico ou nítrico [uma pesquisa que fiz no site do jornal El Espectador, de Bogotá, deixou-me impressionado com o número de casos de agressão com ácido no país!].

Desconhece-se a razão exata porque esse surto desse tipo de violência acontece aqui e não se dá o mesmo no vizinho Peru, por exemplo. Mas, defensores dos direitos das mulheres na Colômbia falam de uma epidemia de violência contra elas, desde espancamentos de esposas tão violentos que ocupam os noticiários noturnos a informes sobre grupos armados clandestinos que usam o estupro como uma arma na zona rural.

"Algumas vezes, no Ocidente, fazemos julgamentos precipitados e dizemos 'Vejam como eles tratam mal as mulheres no Leste', e não olhamos primeiro para nós mesmos", disse Mónica Roa, diretora de programas internacionais baseada em Bogotá do grupo defensor de direitos humanos "Women's Link Worlwide". - "A violência aqui pode ser diferente, mas a origem é a mesma. Esta é uma cultura onde o machismo reina, onde os homens fazem o que bem querem".

Se, na Índia uma mulher é atacada por questões de dote e no Paquistão porque saiu sem um turbante ou burka, na Colômbia ela pode ser atacada simplesmente por fúria em reação à sua independência ou mesmo por um perturbado mental que ela nem conhece. Foi isto o que aconteceu com María Cuervo em 2004, quando um homem completamente desconhecido para ela gritou-lhe "Isto é para que você não pense que é tão bonita", e ensopou seu rosto com ácido.

Entretanto, na maioria dos casos há um namorado abandonado ou um marido intoxicado de ciúmes por trás desses ataques.

[A reportagem do The Washington Post que traduzi parcialmente acima descreve outros casos de agressão contra mulheres na Colômbia, e autoridades legais dizem que as estatísticas reais a respeito devem ser maiores, porque vários deles não são relatados e denunciados, principalmente quando há o envolvimento de familiares.]


A colombiana María Cuervo (41), posa em sua casa em Bogotá em 5 de março deste ano, mostrando uma foto sua antes de ser atacada com ácido por um desconhecido - (Foto: Luis Acosta/AFP/Getty Images).



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