O controle discreto de Dirce Navarro Camargo sobre um dos mais antigos
impérios industriais do Brasil faz dela a mulher mais rica do país.
Uma avó cuja data de nascimento nunca pôde ser confirmada, Dirce Camargo
controla o grupo Camargo Correa, com base em São Paulo, que possui
interesses nas áreas de cimento, eletricidade e nas sandálias Havaianas.
Seu patrimônio é avaliado em US$ 13,1 bilhões, segundo o Índice de
Bilionários da "Bloomberg". Ela é a 59ª pessoa mais rica do mundo e não
aparece em nenhuma lista dos mais ricos.
Fundada por seu falecido marido Sebastião Camargo em 1939, a Camargo
Correa é controlada pela holding Participações Morro Vermelho. As ações
da Morro Vermelho são mantidas em proporções iguais sob os nomes das
três filhas de Camargo, Regina, Renata e Rosana. Segundo documentos de
incorporação publicados em 2002, algumas das ações foram emitidas para
usufruto de Dirce Camargo enquanto ela estiver viva, o que significa que
ela é a beneficiária efetiva até a sua morte. O resto não pode ser
vendido, transferido ou emprestado por suas filhas. “Elas nunca aparecem nas páginas sociais”, comenta David Fleischer,
analista político da Universidade de Brasília, sobre a família Camargo.
“Elas encarregam profissionais de cuidar de toda a administração".
Quando Sebastião Camargo morreu, em 1994, ele era um dos poucos
bilionários brasileiros, conhecido por seu papel na construção de
represas e rodovias pelo país, depois da Segunda Guerra Mundial. A
fortuna de sua viúva só cresceu de lá para cá, com o Brasil investindo
muito em infraestrutura, em preparação para a Copa do Mundo de Futebol
de 2014 e a Olimpíada do Rio em 2016. Este ano, o grupo pagou 3 bilhões
de euros (US$ 3,7 bilhões) por uma participação de 95% na Cimpor
Cimentos de Portugal, uma fabricante de cimento de capital aberto com
sede em Lisboa.
Um porta-voz da companhia confirmou que Dirce Camargo controla a fortuna
da família e não quis falar sobre seu patrimônio pessoal. Ela é hoje a
terceira pessoa mais rica do Brasil, desbancando o banqueiro Joseph
Safra que, segundo classificação feita diariamente pela "Bloomberg", tem
uma fortuna de US$ 10,4 bilhões. O magnata das commodities Eike Batista
continua sendo o mais rico, com US$ 21,1 bilhões, seguido do investidor
na Anheuser-Busch InBev Jorge Paulo Lemann, com US$ 17,4 bilhões.
Outras participações públicas da família Camargo incluem 26% da
companhia de eletricidade CPFL Energia, uma fatia avaliada em US$ 2,8
bilhões; uma participação de 17% na operadora de rodovias CCR de São
Paulo, avaliada em US$ 2,6 bilhões; e uma participação de controle na
fabricante de calçados Alpargatas avaliada em US$ 1,1 bilhão. O
carro-chefe do grupo, o braço do setor de construção, que está ajudando a
construir as usinas hidrelétricas de Belo Monte e Jirau na região do
rio Amazonas, gerou cerca de 30% da receita total de R$ 17,3 bilhões
(US$ 8,6 bilhões) do grupo no ano passado.
Nascido em 1909, Sebastião Camargo começou transportando areia em
carroça de burro quando adolescente. Ele abriu uma empresa de construção
em 1939 com dois sócios, cujas participações a família Camargo
posteriormente comprou. Eles conseguiram contratos do governo para a
construção de rodovias e ferrovias ao longo da década que se seguiu. Nos
anos de 1950, a companhia participou da construção da nova capital
brasileira, Brasília.
[...] Após os US$ 9,5 bilhões que o grupo tem em participações públicas, a
divisão de construção é seu maior ativo. A unidade teve no ano passado
uma receita de R$ 5,2 bilhões e um lucro antes dos juros, impostos,
depreciações e amortizações (Lajida) de R$ 166 milhões, segundo o
relatório anual da companhia. A divisão está avaliada em US$ 2,2 bilhões
com base no valor médio do empreendimento sobre as vendas e no valor do
empreendimento sobre o Lajida de quatro companhias abertas do setor: a
Grana & Montero do Peru, a Besalco do Chile, a China State
Construction International Holdings e a Arabtec Holding de Dubai.
Excluindo-se a Cimpor (uma companhia aberta), a Camargo Correa obteve no
ano passado vendas de R$ 1,1 bilhão com cimento. Com base no valor
médio do empreendimento sobre as vendas da Cimpor e de quatro
concorrentes – a Cementos Argos da Colômbia, a Cemex do México, a Holcim
Indonesia e a Ultratech Cement de Mumbai – a parte da divisão de
cimento que tem o capital fechado está avaliada em US$ 1,3 bilhão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário