quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Missão dos EUA investiga terrorismo na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai)

Um grupo de cinco parlamentares americanos está em "missão" na Tríplice Fronteira para investigar a presença de supostas ameaças terroristas na região. O grupo, formado por cinco deputados federais republicanos e democratas, esteve ontem em Ciudad del Este, no Paraguai, e em Foz do Iguaçu (PR), do lado brasileiro da fronteira.  [Há anos os EUA insistem sobre a presença de terroristas na Tríplice Fronteira, e já reclamaram (em novembro de 2011) de que o Brasil oculta a prisão desses agentes no país, porque altos escalões do nosso governo, em especial no Itamaraty, são extremamente sensíveis a qualquer notícia pública sobre a presença de terroristas em nosso território. Em sua edição de 6 de abril de 2011 a revista Veja, em reportagem de capa de Leonardo Coutinho, com fotografias de Manoel Marques, denunciou que a Polícia Federal tem provas de que a Al Qaeda e outras quatro organizações terroristas usam o Brasil para divulgar propaganda, planejar atentados, financiar operações e aliciar militantes. O governo se fechou em copas, e nada disse ou desdisse.]

A capa da edição de 6 de abril da revista Veja, com denúncias documentadas da presença de terroristas no Brasil - (Foto: Veja).

Segundo o republicano Michael McCaul, deputado pelo Texas e presidente do Subcomitê de Supervisão e Investigações do Comitê de Segurança Doméstica da Câmara, a intenção do grupo é "entender melhor a ameaça de grupos terroristas" na região e trabalhar junto com os governos sul-americanos no combate a eles. Os parlamentares estariam "preocupados" com os possíveis laços do Irã e do grupo libanês Hizbollah na fronteira entre os três países. "O crime transnacional é uma ameaça crescente aos EUA. Isso é evidente desde a emergência das operações dos cartéis mexicanos dentro dos EUA, e hoje, com a presença crescente de grupos terroristas radicais no continente", disse McCaul à Folha, por email. 

O grupo, que passou no domingo pela Colômbia, ainda seguirá para a Argentina.

De acordo com a equipe do deputado democrata pelo Texas Henry Cuellar, a intenção da visita é "entender melhor os desafios de crimes transnacionais" na região. Os outros deputados são os republicanos Jeff Duncan, da Carolina do Sul, Tom Graves, da Georgia, e Robert Turner, de Nova York.  

A viagem vem na semana seguinte à divulgação, pelo Departamento de Estado, do "Relatório sobre Terrorismo nos Países em 2011", que aponta que os serviços de segurança brasileiros estiveram "preocupados" com a possibilidade de terroristas usarem o território do país para "apoiar ou facilitar atentados terroristas, domésticos ou no exterior". O Itamaraty não comenta o relatório americano. 

O governo brasileiro disse que não recebeu qualquer pedido de encontro com autoridades do país, nem tem mais informações sobre a atividade dos parlamentares aqui. 

Ontem, os americanos percorreram o centro de Ciudad del Este, onde conversaram com comerciantes, e cruzaram a Ponte da Amizade.  [É muito difícil -- p'ra não dizer impossível -- acreditar que esse grupo de congressistas americanos circule por nossas fronteiras e em nosso território para tratar de assunto de tanta relevância para os EUA, como o terrorismo, e que não se encontre com nenhuma autoridade de nosso governo. No capítulo "Brasil" do seu relatório citado acima, o Departamento de Estado americano comenta que "O Brasil não criminalizou o financiamento ao terrorismo de maneira consistente com a Recomendação Especial II da Força Tarefa de Ação Financeira (FATF, em inglês). Em 26 de outubro a Câmara dos Deputados aprovou uma lei atualizada estabelecendo penas mais severas para lavagem de dinheiro, mas nela não foi incluída uma disposição específica sobre financiamento terrorista". 

O relatório do Departamento de Estado cita ainda que, em função do Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, um ponto focal do seu programa de Assistência ao Antiterrorismo para o Brasil em 2012 será o gerenciamento da segurança de grandes eventos. Diante disso, ignorar oficialmente o objetivo desses parlamentares americanos revela que, mais uma vez, ou estamos querendo guardar um segredo de polichinelo ou dar uma de avestruz, enfiando a cabeça num buraco para evitar saber o que se passa à volta. Nenhuma dessa duas hipóteses deixa bem o governo e nossa diplomacia.]




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