[A verdade finalmente veio à tona: o jeito de nós homens vermos as mulheres não é culpa nossa, é do nosso cérebro ... É o que nos diz o artigo de 25 de julho da Scientific American, de autoria de Stephanie Pappas e da Live Science.]
Uma olhadela no mostruário de revistas ao lado de qualquer caixa de supermercado [ou alhures] lhe dirá que as mulheres são frequentemente o foco da objetificação sexual. Agora, pesquisa recente descobre que o cérebro realmente processa imagens de mulheres diferentemente das dos homens, contribuindo para essa tendência.
Há maior probabilidade de que as mulheres sejam vistas "desmontadas" e olhadas pelo cérebro como partes em vez de um todo, de acordo com uma pesquisa publicada na versão online de 29 de junho do Jornal Europeu de Psicologia Social (European Journal of Social Psychology). Os homens, por outro lado, são processados como um todo em vez da soma de suas partes.
"Diariamente, mulheres comuns [no sentido de quaisquer delas] são reduzidas às partes sexuais de seus corpos", disse uma co-autora e líder do estudo, Sarah Gervais, uma psicóloga da Universidade de Nebraska, em Lincoln (EUA). "Isso não é algo com que apenas supermodelos ou estrelas pornôs têm de lidar".
Objetificação magoa
Numerosos estudos concluiram que sentir-se um objeto é ruim para as mulheres. Sentir-se olhada cobiçosamente pode fazer com que certas mulheres se saiam mal em exames de matemática, e autossexualização, ou exame completo e detalhado das próprias formas, está ligada a vergonha do corpo, desordem ou transtorno do apetite e humor ou estado de espírito deprimido [o texto deste link diz que provar um maiô (ou biquine) numa cabine superiluminada de uma loja é considerado por um grande número de mulheres como uma das piores experiências, contribuindo para deixá-las "p'ra baixo"].
Mas, todas essas conclusões focalizavam a percepção de ser sexualizada ou objetificada, disse Gervais à Live Science. Ela e suas colegas conjecturaram sobre o olhar do observador: as pessoas estão realmente objetificando as mulheres mais do que os homens?
Para descobrir isso, os pesquisadores se concentraram em dois tipos de processamento mental, o global e o local. Processamento global é aquele pelo qual o cérebro identifica objetos como um todo. Ele tende a ser usado no reconhecimento de pessoas, quando é importante não apenas saber o formato do nariz mas também como o nariz se posiciona em relação aos olhos e à boca. O processamento local focaliza mais as partes individuais de um objeto. Você, por exemplo, pode identificar uma casa apenas por sua porta, mas tem menos probabilidade de reconhecer o braço de uma pessoa se não puder ver o resto de seu corpo.
Se as mulheres são sexualmente objetificadas, as pessoas devem processar os corpos delas de uma maneira mais local, concentrando-se em partes mais individuais de seus corpos como os seios, por exemplo. Para testar a ideia, Gervais e suas colegas realizaram duas experiências quase idênticas com um total de 227 alunos da graduação. A cada pessoa foram mostradas fotos não sexualizadas, ou de um homem jovem ou de uma mulher jovem, num total de 48. Após ver cada imagem original de corpo inteiro, os participantes viram duas fotos lado a lado. Uma era a imagem original, enquanto a outra era a original com uma ligeira alteração no peito ou na cintura (que foram escolhidos por serem partes sexualizadas do corpo). Os participantes tinham que escolher qual a imagem que haviam visto antes. Em alguns casos, no segundo conjunto de fotos havia um "close" só no peito ou só na cintura.
Objetificando mulheres
Os resultados mostraram um claro cisma ou separação entre as imagens de homens e mulheres. Quando olhavam imagens femininas, os participantes se saíam melhor reconhecendo partes individuais [delas] do que quando comparavam fotos de corpo inteiro com as originais. O oposto ocorria no caso de imagens masculinas: as pessoas acertavam mais reconhecendo um homem de corpo inteiro, do que quando olhavam suas partes individuais.
As pessoas também acertavam mais em discernir ou reconhecer partes individuais dos corpos das mulheres do que as partes individuais dos corpos dos homens, confirmando ainda mais o processamento local, ou objetificação, que estava ocorrendo. "Isso ocorria tanto com os homens quanto com as mulheres em relação às [fotos das] mulheres", disse Sarah Gervais. "Portanto, não culpem [apenas] os homens nesse caso".
Na segunda experiência, os pesquisadores, antes da tarefa de identificar partes do corpo, mostraram imagens de letras formadas por um mosaico de letras bem miúdas -- um "H" feito por centenas de pequenos "Ts", por exemplo. Eles disseram a alguns participantes que identificassem as letras miúdas, condicionando seus cérebros a se engajar em processamento local. Outros participantes foram solicitados a identificar as letras grandes, deflagrando assim o processamento global. Os pesquisadores concluíram que este último grupo tornou-se menos passível de objetificar mulheres -- seus participantes deixaram de reconhecer melhor as partes de uma mulher do que seu corpo inteiro.
"Poderia haver razões evolutivas para que homens e mulheres processassem corpos femininos de maneira diferente", disse Gervais, mas como ambos os gêneros fazem o mesmo processamento, "a mídia é, provavelmente, o principal suspeito".
"Corpos de mulheres e partes deles são utilizados para vender todos os tipos de produtos, mas estamos agora processando do mesmo modo as mulheres comuns, do dia a dia", disse ela. "Felizmente, o fato de que a simples tarefa do mosaico de letras eliminou o efeito indica que se trata de um hábito fácil [?...] de superar", acrescentou Gervais. ""Alto astral", um estado de espírito feliz, está relacionado com processamento global", diz ela, "portanto, evitar ficar em estado de medo ou ansiedade (blue funk) pode ajudá-lo a ver as pessoas de uma maneira holística [integral], como seria simplesmente lembrar-se de dar um passo atrás e olhar para figura maior".
Nenhum comentário:
Postar um comentário