domingo, 17 de abril de 2011

A semântica e a guerra

Parece incrível, mas até na guerra as firulas de linguagem continuam sendo levadas "em conta" quando se quer salvar a face e as aparências. A França e a Inglaterra (e em menor escala militar os EUA), e outros aliados menores, agora sob a bandeira "legalizadora" da OTAN, continuam caindo de pau/bombas sobre a Líbia com a desculpa (que acho esfarrapada) de proteger os rebeldes e os civis contra as tropas de Kadhafi. Franceses e britânicos (principalmente), escondidos sob a bandeira da OTAN, certamente estavam crentes que o ditador líbio não aguentaria a pressão e entregaria os pontos -- nada disso aconteceu, depois de semanas de ataques aéreos os rebeldes estão levando uma surra e Kadhafi não dá o menor sinal de que deixará o poder, muito pelo contrário.

Aí, o que faz a França (que está adorando fazer as vezes do xerife americano na Líbia e alhures)? Através de seu ministro da Defesa, Gerard Longuet, sugeriu em Paris que seria necessária uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU "para que os aliados da OTAN possam alcançar seus objetivos na Líbia" (as aspas são minhas). Quais são então esses objetivos, que só depois de semanas de bombardeio aéreo precisam ser explicitados? Derrubar Kadhafi e lograr uma mudança de regime (como se a intervenção militar em curso nunca tivesse tido isso em mente ...). Com uma argumentação acrobática, Longuet afirma que os apelos ou demandas dos líderes franceses, britânicos e americanos para que Kadhafi abandone o poder ultrapassam os termos da atual resolução da ONU, que não faz qualquer menção a uma mudança de regime. A inesperada e até agora vitoriosa resistência de Kadhafi pegou desprevenida a troika militar da OTAN.

O ministro Longuet reconheceu no entanto ser difícil a aprovação de nova resolução sobre o uso de forças na Líbia, porque certamente a China e a Rússia -- que não têm poupado críticas à intervenção militar em curso -- se oporão a ela e têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. (Fonte: aqui). E agora, José? Como bem diz o título de um artigo do dia 14 do Le Monde sobre a situação na Líbia, a OTAN patina e os aliados buscam uma saída política.
Reunião do "Grupo de Contato" sobre a Líbia,  no dia 13 de abril em Doha, Qatar. (AFP/Karim Jaafar)

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