Desde 2008, pode-se dizer que todos os povos das nações ocidentais sonham em dizer "não" aos bancos, mas ninguém, exceto os islandeses, se atreveu a fazê-lo. Os islandeses (cujo país tem apenas 320 mil habitantes) fizeram uma revolução pacífica que conseguiu não só derrubar um governo e redigir uma nova constituição, como também encarcerar os responsáveis pelo desastre econômico do país.
Em meados de março foram presas 9 pessoas em Londres e em Reikiavik (capital da Islândia) por sua responsabilidade no colapso financeiro da Islândia em 2008, uma crise que originou uma reação cidadã sem precedentes, que mudou os rumos do país. Foi uma revolução sem armas, à base de manifestações e caçaroladas, num país que abriga a mais antiga democracia do mundo (desde 930). O processo revolucionário islandês começou em 2008, quando o governo do país nacionalizou os três principais da Islândia: o Landsbanki, o Kaupthing e o Glitnir, cujos clientes eram principalmente ingleses e americanos. Em seguida a isso, a moeda nacional (krona) despencou, e a Bolsa suspendeu as operações depois de um afundamento de 76%. A Islândia entrou em bancarrota, e o FMI injetou 2,1 bilhões de dólares na economia do país e os países nórdicos outros 2,5 bilhões de dólares.
Enquanto as negociações se desenrolavam entre bancos e autoridades nacionais e estrangeiras, o povo foi às ruas e conseguiu a demissão do Primeiro-Ministro e de todo o seu gabinete. Em 2009 o parlamento islandês propôs a remição da dívida nacional junto à Grã-Bretanha e à Holanda mediante o pagamento de 3,5 bilhões de euros, uma soma que todas as famílias islandesas deveriam pagar todos os meses, durante 15 anos, a um juro de 5,5%. Isto enfureceu os islandeses, que retornaram às ruas, desta vez para que essa decisão fosse submetida a um referendo, que resultou em nova vitória popular: em março de 2010 se fez a votação, e acachapantes 93% rejeitaram pagar a dívida, pelo menos naquelas condições. Leia mais.
Em artigo publicado na Gazeta do Povo de 17 do corrente, o embaixador Rubens Ricupero, ex-Ministro da Fazenda de FHC que teve que renunciar por uma indiscrição sua captada por um microfone aberto, faz, com o brilhantismo de sempre, a apologia da incrível atuação do povo islandês e um libelo contra a covardia do mundo ocidental em não fazer algo semelhante contra os culpados pela crise de 2008.
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