quinta-feira, 28 de abril de 2011

Edu Lobo, um fantástico privilégio brasileiro

Lendo hoje sobre o show de ontem de Edu Lobo no Instituto Moreira Salles, no Rio, cuja lotação se esgotou com 20 minutos de bilheteria, fiquei imaginando a felicidade de quem lá este e lamentei amargamente não ter podido me incluir entre esses felizardos. Entre músicos e compositores brasileiros vivos, tenho especial carinho e admiração por três deles: Edu Lobo, Chico Buarque e Paulinho da Viola (sem desdenhar, absolutamente, Caetano e Gil, mas em outro patamar) -- é extremamente difícil dar-lhes uma hierarquia, é coisa de cabeça com cabeça, mas reconheço ter milimétrica preferência por Edu. Nos três, além da genialidade, há o traço comum da extrema discrição. 

Edu tem uma carreira particularmente diferenciada dos outros dois: no auge da fama pós-festivais de música, com músicas como Ponteio estourando nas paradas, ele resolve desisistir de ser cantor (embora continue a sê-lo, e de mão cheia!) e decide ir para os Estados Unidos estudar música e, em particular, composição. De lá retorna ainda mais rico musicalmente, e ainda mais reconhecido e reverenciado por quem entende do riscado e compõe e/ou executa o melhor da nossa música.

Quem aprecia o que temos de melhor musicalmente falando e, em particular, também Edu Lobo (a corda e a caçamba), não pode deixar de ter o DVD Vento Bravo, da Biscoito Fino, um documentário que é uma janela (melhor seria se fosse uma ampla varanda) sobre a obra e as raízes de Edu Lobo. Seu gênio como compositor sensível e sofisticado serviu de abrigo, envoltório e cúmplice para letristas também geniais como Chico, Vinicius, Jobim, Paulo César Pinheiro, Capinam e Torquato Neto, entre outros. -- Na resenha que li sobre o show de ontem está dito que, sob lágrimas de Edu e dos espectadores, a apresentação se encerrou com "Canto Triste" (Edu & Vinicius) e "P'ra dizer adeus" (Edu & Torquato Neto) -- se lá estivesse, seria mais um chorão. Lamentando que este blogue não tenha som, reproduzo abaixo essas duas letras de uma carga emotiva e poética incomparável:

Canto Triste (Edu Lobo & Vinicius de Moraes)


Porque sempre foste a primavera em minha vida
Volta pra mim,
Desponta novamente no meu canto,
Eu te amo tanto mais, 

Te quero tanto mais
Ah! quanto tempo faz, partiste.

Como a primavera que também te viu partir
Sem um adeus sequer

E nada existe mais em minha vida
Como um carinho teu

Como um silêncio teu
Lembro um sorriso teu

Tão triste
Ah! lua sem compaixão
Sempre a vagar no céu
Onde se esconde a minha bem-amada

Onde a minha namorada
Vai e diz a ela as minhas penas
E que eu peço, peço apenas
Que ela lembre as nossas horas de poesia,
As noites de paixão,
E diz-lhe da saudade em que me viste
Que estou sozinho

Que só existe
Meu canto triste
Na solidão
                ****

P'ra dizer adeus (Edu Lobo & Torquato Neto)

Adeus,
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá 
Sei que vou sozinho
Tão sozinho, amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah!, pena eu não saber 
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem, eu só sei dizer
Vem, nem que seja só
Pra dizer adeus.                 ****

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