sexta-feira, 15 de abril de 2011

A novela do visto americano

Todo e qualquer mortal que deseja ir aos EUA por alguma razão jamais esquece a enorme chatice que é a obtenção do visto de entrada nesse país, um ritual digno de país do quarto mundo. Indubitavelmente, essa paranoia de triagem dos americanos ficou exacerbada depois do 11/9/2001. Reportagem interessante publicada na Newsweek que está nas bancas mostra que essa paranoia está se transformando num tiro no próprio pé dos gringos, barrando imigrantes de interesse para o país.

Com o título "O suicídio nacional" da América (America's "National Suicide") e a sugestiva chamada de capa "Altamente qualificado? Quer um visto americano? Esqueça!", a revista aborda a via crucis que é a obtenção de um visto americano, tomando como referência o exemplo de um indiano (Lakshminarayana Ganti) que recebeu um MBA na Purdue University (EUA), trabalhou em uma empresa americana de tecnologia de ponta e um dia teve a infeliz ideia de visitar a família na terra natal. Quando decidiu voltar aos EUA caiu na malha da burocracia imigratória americana e, desde 2007, tenta sem êxito conseguir seu visto de reentrada naquele país.

O prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, resumiu assim essa paranoia americana: "Educamos os melhores e mais brilhantes vindos de todo o mundo, e depois dizemos às nossas empresas que não podem empregá-los", concluindo "isso é uma forma de suicídio nacional".  Uma das maneiras pelas quais os EUA estão cometendo esse suicídio é através de seu "vasto e opaco sistema de controle de vistos", diz a Newsweek, que afeta centenas de milhares de pessoas a cada ano, embora autoridades do próprio governo reconheçam que menos de 1% dos que passam por essa triagem apresenta legítimos questionamentos de segurança. Como esses controles recebem nomes de animais na burocracia americana -- Condor, Asno e Louva-a-deus --, as próprias autoridades de lá chamam esse sistema de "A Revolução dos Bichos" (Animal Farm), o famoso livro de George Orwell de 1945 (que trata, com grande habilidade, o totalitarismo e o aburguesamento do regime soviético, o que, segundo Orwell, traiu a revolução de 1917). 

Para frisar como essa triagem burra é danosa aos interesses americanos, a revista enfatiza que: - pesquisadores estrangeiros são responsáveis por 25% de todas as patentes obtidas por companhias americanas; - quase metade dos P.H.Ds que são cientistas e engenheiros que trabalham nos EUA são estrangeiros; - entre 1995 e 2005, mais de 25% das empresas de tecnologia criadas no país tinham como peça-chave e fundador um estrangeiro (no Vale do Silício essa porcentagem é superior a 50%); - na GE, 64% dos pesquisadores não nasceram nos EUA, e na Qualcomm (empresa de tecnologia de ponta na área de comunicações, especialmente celulares) esse número chega a 72%. Leia mais.
Lakshminarayana Ganti, 33 anos, que desde 2007 tenta retornar aos EUA, checa diariamente online a situação do seu pedido de visto para voltar àquele país. (Thomas Haugersveen/Agência VU para Newsweek)

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