A basílica de São Pedro, em Roma, é também um cemitério: 148 papas decidiram passar sua eternidade nas cavernas ou catacumbas vaticanas sob a basílica ou, depois de sua beatificação, em uma capela na própria basílica. É nesta última que chegará, no domingo 1° de maio, João Paulo II, que será beatificado nesse dia e cujos restos mortais serão por assim dizer "remontados" para serem expostos na capela de São Sebastião, vizinha à Pietà de Michelangelo.
Foi com a transferência dos restos de João Paulo II que surgiu uma situação um tanto inusitada: para criar espaço, foi necessário deslocar para outro lugar no dia 7 de abril os restos mortais de outro papa que ali já estavam -- trata-se de Inocêncio XI (1611-1689), beatificado em 1956 por Pio XII, que acabou sofrendo as consequências dessa desarrumação. "Algo jamais visto", reagiram Francesco Sorti e Rita Monaldi, que em 2002 fizeram um filme histórico sobre Inocêncio XI. Apesar de que os restos mortais de alguns papas (Eugênio IV, Calixto III, Alexandre VI e Pio II) já foram transferidos para outras igrejas romanas, jamais um soberano pontífice havia "expulsado" outro, como agora.
Esse caso é simplesmente um problema de espaço, ou foi um ato político? Para os ultracatólicos, essa troca de restos mortais não tem nada a ver com a necessidade de melhor expor a tumba de João Paulo II à curiosidade dos visitantes, como alega o Vaticano. Trata-se de uma decisão política. Controvertido ou não, Inocêncio XI, de quem se deveria comemorar o 400° centenário de nascimento, teria sido vítima de uma "cabala progressista", de uma "conspiração do silêncio" e "atingido em seu exílio interior". Depois de um longo tempo, decidiu-se entre o papa que barrou os turcos em Viena e João Paulo II que, na Síria, beijou o Corão em 14 de maio de 1999.
Nascido Bruno Odescalchi, Inocêncio XI chegou à honra dos altares por sua atuação quando da batalha de Viena que, em 1683, permitiu barrar a entrada dos turcos na Europa. Foi conhecido também por ser pródigo com os humildes, e por se opor a Luiz XIV. Seu acesso à santidade foi sempre dificultado -- a França, por exemplo, por longo tempo se opôs à sua canonização. Leia mais. Ver também postagem anterior sobre a beatificação de João Paulo II.
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