sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mario Vargas Llosa, um escritor de respeito

Gosto do peruano Vargas Llosa e o admiro, não apenas pelo excelente escritor que é mas também por sua corajosa, coerente e pertinaz posição política -- pelas entrevistas que já li e ouvi dele percebe-se que é também um bom papo. Foi agraciado com o Preêmio Nobel de Literatura em 2010. Andou batendo de frente com a política e o atual presidente de seu país, Alan García, candidatou-se à presidência e perdeu para Alberto Fujimori, de quem é até hoje tenaz opositor -- apoiou inicialmente Fidel Castro e, depois, se desencantou. Vive desde os anos 90 em Madri, mas passa três meses do ano no Peru, com seus familiares. É um ferrenho defensor da liberdade de expressão, o que volta e meia o coloca em oposição direta com governos e políticos de diferentes rincões do planeta.

Por sua posição política de contundente defensor da liberdade de expressão e de intransigente opositor a qualquer restrição ou agressão aos direitos humanos, Vargas Llosa frequentemente se vê vítima de agressões verbais e públicas de regimes e políticos que se irritam com suas atitudes. O mais recente exemplo disso foi a maneira extremamente grosseira com foi e tem sido tratado pelo governo argentino de Cristina Kirchner. Convidado especial para a abertura da 37ª Feira do Livro de Buenos Aires, nesta semana, viu-se impedido de fazê-lo por pressão do governo e só pôde proferir seu discurso formal 24 h depois da abertura oficial do evento, cercado de expectativa e para uma sala abarrotada. Vargas Llosa não se ofendeu com a alteração do programa. "Meu discurso não mudará por causa disso, defender o direito de que os livros sejam livres é defender nosso direito de cidadãos, o fogo precioso que a atiça, mantém e renova", disse ele. Fez uma defesa apaixonada dos livros: "Basta que celebremos com suas páginas essa operação mágica que é a leitura, para que a vida exploda neles", acrescentou. Disse ainda, no discurso, que "é preciso seguir exercendo a liberdade com prudência e sem beligerância", sendo ovacionado pelos presentes.

O escritor peruano teve que suportar um grupo de piqueteiros "ideológicos" que bloqueou o trânsito em frente ao seu hotel, e depois se viu constrangido a andar com proteção pelas ruas da cidade. O ministro da Educação, Alberto Sileone, transformou o ato inaugural da feira em um puro e duro comício político. Conseguiu a inusitada façanha de inaugurar uma Feira do Livro em uma capital latino-americana, sem sequer mencionar que um escritor da região era o mais recente agraciado Prêmio Nobel de Literatura.

Vargas Llosa se reconhece cansado e aborrecido com esse tipo de polêmica, e lamentou que tenham conseguido estragar sua viagem a Buenos Aires, algo que sempre fez antes com enorme prazer. Disse desejar que escolham logo um novo Nobel da Literatura, para que fique livre da enorme pressão que isso tem exercido sobre ele. Mas não está disposto a permitir que ninguém o impeça de falar livremente, e muito menos em uma Feira do Livro. "Isso seria admitir a derrota frente aos energúmenos", protestou ele. Foi contra ele, os censores e os energúmenos, que dirigiu seu discurso semi-inaugural. Leia mais.
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, em um momento de sua fala na Feira do Livro de Buenos Aires.(Juan Mabromata/AFP)

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