domingo, 10 de abril de 2011

A magia de Fernando Pessoa

No meio do trauma e da dor da tragédia de Realengo, nada melhor para sossegar o espírito e renovar a crença na vida do que percorrer a exposição Fernando Pessoa, Plural Como o Universo no Centro Cultural dos Correios no Rio. Revisitar, ou travar conhecimento com esse fantástico poeta português é dessas experiências inesquecíveis, que marcam para sempre o mais empedernido dos mortais. Algumas amostras da genialidade de Fernando Pessoa:

AUTOPSICOGRAFIA 

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente. 


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm. 


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. 


****

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar. 


*******

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.



Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúdica e rica,
E eu sou um mar de sargaço ---



Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.


Nenhum comentário:

Postar um comentário