Com o 30° aniversário da guerra ocorrendo em abril vindouro, a tradição foi mantida por Cristina Fernández, viúva e sucessora de Kirchner, que deverá afastar-se por 20 dias em 04/01/12 para tratamento de câncer na tireoide. No dia 20 de dezembro passado ela obteve dos parceiros da Argentina no Mercosul -- Brasil, Paraguai e Uruguai -- a declaração de que proibiriam a entrada em seus portos de navios não militares com a bandeira das ilhas Malvinas/Falklands.
Embora até US$ 300 milhões de comércio marítimo para as ilhas, e delas proveniente, passem pelo Uruguai cada ano, essa decisão pode ter pouco efeito prático. A maioria dos cerca de 30 navios que carregam a bandeira daquelas ilhas -- uma bandeira inglesa [a Union Flag] em fundo azul marinho, com um escudo mostrando um carneiro sobre um tufo de relva (ver figura) -- pertence a companhias pesqueiras espanholas. Navios mercantes ingleses continuarão sendo permitidos a utilizar portos sul-americanos.
Entretanto, essa nova decisão do Mercosul é a mais recente da série de pequenas vitórias diplomáticas para a Argentina, que é avida e zelosa em regionalizar algo que sempre foi uma disputa bilateral. O Mercosul já não acolhe navios de guerra britânicos envolvidos com as Falklands. No início de dezembro, uma reunião da recém-formada Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) apoiou por unanimidade os "direitos legítimos da Argentina na disputa de soberania" sobre as Falklands e a Geórgia do Sul [ver mapa]. A UNASUR, a denominada União Sul-Americana, agiu da mesma maneira.
Em 2010 Hillary Clinton, a Secretária de Estado americana, defendeu a realização de conversações sobre o litígio, um contraste em relação a 1982 quando os EUA deram apoio ao Reino Unido. O governo britânico insiste em que seu controle sobre as ilhas, que remonta a 1833, é líquido e claro à luz da legislação internacional, e que o direito dos habitantes das Falklands à autodeterminação é inegociável.
Cristina Kirchner ficou particularmente atormentada com a recente exploração de petróleo nas águas das Faklands. As jazidas encontradas até agora podem não ser comercialmente exploráveis, embora uma sonda vá em breve começar a perfurar em blocos ainda inexplorados ao sul das ilhas. Mas, a Argentina respondeu à retomada das perfurações em 2010 exigindo que fosse dada permissão a navios viajando entre as ilhas e o continente. Em um discurso na ONU em setembro, Cristina Kirchner ameaçou interromper o voo semanal entre o Chile e as Falklands, operado pela empresa aérea chilena LAN. Ela acusou o primeiro-ministro britânico David Cameron de "mediocridade e quase-estupidez" por negar-se a negociar a soberania.
A Argentina prometeu não fazer outra tentativa de tomar as ilhas pela força. De qualquer modo, ela não tem meios militares para tanto. Apesar dos cortes nos gastos públicos, o Reino Unido ainda gasta pesadamente na defesa das ilhas.
Mas, se o petróleo começar a jorrar a Argentina pode buscar apoio regional para um bloqueio econômico. Ela o conseguiria? A maioria dos governos latino-americanos é de centro-esquerda, fortemente nacionalistas e cada vez mais confiantes em seu poder de influência no mundo. A Argentina os persuadiu de que as Falklands são um anacronismo colonial.
David Cameron disse numa mensagem de Natal que "nunca" negociará a soberania "a menos que vocês, habitantes das Falklands, assim desejem". Esses habitantes não querem isso: como povo, têm estado nas Américas por tanto tempo quanto muitos argentinos, e se ressentem de serem amedrontados. Mas eles -- e os britânicos -- têm falhado em explicar sua causa para o resto da América do Sul. Os diplomatas britânicos duvidam de que a região ofereça mais do que apoio retórico às reivindicações argentinas. Isso soa como uma atitude complacente.
Localização geográfica das ilhas Falklands/Malvinas e da Geórgia do Sul - (Mapa: The Economist).
Bandeira (britânica) das ilhas Falklands - (Foto: Wikipedia).
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