O termo "ajuda trapaceira" (rogue aid, em inglês) é hoje claramente inadequado para caracterizar a cooperação dos novos parceiros, especialmente a China, com os países pobres da África. Esse conceito, surgido na prestigiosa revista americana Foreign Policy (Política Externa) no início de 2007, carrega consigo várias ideias relativas a uma nova caraterística dessa ajuda: deterioração das normas de governança na África, reendividamento, desindustrialização, aumento forçado de produtos de base não transformados, etc. Visto assim, o conceito é hoje triplamente inadequado: não apenas o que os novos parceiros oferecem não é na verdade uma "ajuda", mas além dissos esses parceiros não se comportam como "trapaceiros", nem são mais vistos como tais pelos próprios africanos.
Não é mais necessário lembrar a importância dos países emergentes para a África. Baseada em dados mais recentes, a edição de 2011 das Perspectivas Econômicas na África (Perspectives économiques en Afrique), no seu Capítulo 6 - A África e seus parceiros emergentes (L'Afrique et ses partenaires émergents), mostra como no espaço de apenas uma década eles passaram de uma situação de relativa marginalidade para a linha de frente dos parceiros comerciais da África. Aquelas Perspectivas definem esses novos parceiros como os países que não eram membros do clube de doadores ocidentais, isto é, o Comitê de ajuda ao desenvolvimento da OCDE. Na frente desse pelotão estão China, Índia, Brasil, Coréia do Sul e Turquia, não apenas pelo volume de suas relações econômicas com os países africanos mas também pela diversidade de países e setores nos quais intervêem no continente.
Antigamente, falava-se das necessidades da África em dólares. Hoje, os dirigentes africanos vêem afluir em grandes quantidades as divisas de potências econômicas emergentes -- o yuan chinês, a rupia indiana, o real brasileiro, o won coreano e a lira turca -- atraídas por um crescimento sustentado, que permitiu ao continente atravessar a crise mundial de 2008-2009. As trocas entre a África e seus novos parceiros alcançam hoje 673,4 bilhões de dólares americanos por ano. O relatório das Perspectivas citadas traz à luz a expansão das parcerias no continente africano, que depois da crise de 2008-2009 deslocaram de maneira espetacular o centro de gravidade econômico mundial, em detrimento dos países da OCDE e em benefício dos países do Leste e do Sul. A África se beneficia dos investimentos, das mudanças e da ajuda, mas também das vantagens macroeconômicas, políticas e estatégicas da emergência de novas potências.
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