sábado, 25 de junho de 2011

A história secreta da homossexualidade nos EUA

A direita americana apresenta a homossexualidade como algo estranho à experiência americana, um intruso que inexplicavelmente deu uma de penetra na América em 1969 sob a forma de um travesti amotinado empunhando um salto alto como arma. Os pronunciamentos de Michele Bachmann, Rick Santorum ou Mit Romney (todos postulantes a candidato à presidência dos EUA) insistentemente sugerem que o veado não é coberto pela bandeira americana (em inglês esta afirmativa é feita com um trocadilho: the fag does not belong under the flag). Mas, há algo estranho aqui. Pois as pessoas que falam insistentemente em honrar a história americana construiram uma imagem histórica de seu país que só pode ser sustentada eliminando-se dela uma parte significativa da população, e tudo que essas pessoas trouxeram de contribuição para essa história.


Em seu novo livro, A Queer History of the United States (Uma História Homossexual dos Estados Unidos, em tradução livre), o crítico cultural Michael Bronski filma o passado através de 500 anos da vida americana, mostrando que havia gays e bissexuais em cada cena, construindo e reconstruindo a América. Eles figuravam entre alguns dos grandes ícones do país, de Emily Dickinson a Calamity Jane e, talvez, até Abraham Lincoln e Eleanor Roosevelt.

Os travestis amotinados da Pousada Stonewall (Stonewall Inn) só aparecem na página 210 de um livro de 250 páginas, que argumenta que as pessoas gays não estavam simplesmente presentes em cada estágio da história mas tinham uma missão histórica na América. [Stonewall Inn, ou simplesmente Stonewall, é um bar de Nova Iorque onde ocorreram os distúrbios ou motins de 1969, que são amplamente considerados os eventos isolados mais importantes que levaram ao movimento de liberação gay e à luta moderna pelos direitos de gays e lésbicas nos EUA]. Destinava-se a expor o puritanismo, a repreensão e a intolerância sexual.

As  limitadas mas robustas evidências produzidas por historiadores e apresentadas por Bronski insinuam que a homossexualidade era tratada como fato consumado pela maioria das tribos nativas americanas.  Nos registros das expedições de Lewis e Clark é observado por Nicholas Biddle que "entre os Mamitarees, se um jovem mostra qualquer sinal de feminilidade ou índole feminina ele é colocado entre as garotas ou mulheres jovens, é vestido como elas, cresce junto com elas e algumas vezes casa-se com um homem". -- Os europeus observavam isso com repugnância, como no caso de Jerry Fallwell com uma peruca empoada. No diário de 1775 de Pedro Font, um franciscano em uma viagem ao que é hoje a Califórnia, ele alerta que "o pecado da sodomia prevalece entre os Miamis mais do que em qualquer outra nação".

Houve repressão com extrema violência. Bronski observa que isso "fornece um padrão de como a corrente principal da cultura europeia trataria os GLBT através de boa parte da história dos EUA".

Desde o princípio, houve americanos que divergiam do puritanismo -- frequentemente da maneira a mais espalhafatosa. Em 1624, um grande grupo de pessoas liderado por um homem chamado Thomas Morton decidiu fundar uma cidade baseada em princípios muito diferentes, em uma área que hoje é Quincy, próxima de Boston. Deram à cidade o nome de Merrymount -- uma gíria popular na época para formas ilícitas de sexo -- e construiram um símbolo fálico de 80 pés (cerca de 24 m) no centro da cidade. Libertaram todos os escravos sob contrato que se juntaram a eles, fizeram amizade com as tribos nativas locais e começaram a casar-se com seus membros, alegando que muitos de seu grupo  eram heterossexuais cansados das restrições dos puritanos e abertos a outras maneiras de prazer.

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