segunda-feira, 27 de junho de 2011

Franceses abrem processo contra parque eólico por razões de saúde

Uma queixa apresentada no dia 17 de junho ao procurador da República de Cusset, uma cidade do departamento de Allier, no centro da França, por "colocar em perigo a vida de outrem" levantou pela primeira vez (no país, pelo menos) a questão do perigo que os geradores eólicos representam para a saúde humana. Baseando-se em um relatório de Nicole Lachat, uma bióloga suiça, a associação "O vento que atravessa a montanha" decidiu apontar os riscos das perturbações sonoras dos geradores eólicos, destacando sobretudo a questão dos infrassons por ele emitidos -- ruídos muito graves (baixos) para serem percebidos pelo ouvido humano, mas que teriam um impacto sobre a saúde humana.

De acordo com o relatório da cientista suiça, que analisou e sintetizou pela primeira vez várias pesquisas internacionais, quando entra em movimento um gerador eólico produz vários tipos de ruídos. Os primeiros são ligados à mecânica do sistema (roldanas, etc), especialmente da nacela; os outros estão ligados à aerodinâmica do processo e às irregularidades dos fluxos de ar em volta das hélices (ou pás) quando das mudanças de velocidade. Assim, quando o gerador eólico gira a uma velocidade elevada ele provoca turbulências em volta das pás, que geram zumbidos; enfim, a simples rotação das pás e suas passagens diante do poste ou mastro que as sustenta provocam a emissão de infrassons. Segundo a bióloga, além do aborrecimento e da irritabilidade de quem vive nas proximidades desses geradores, esses incômodos sonoros teriam influência sobre a qualidade do sono, a pressão arterial e a vigilância ou atenção -- sem esquecer, também, os zumbidos nos ouvidos e outras ofensas auditivas. Em suma, existiria uma "síndrome eólica".

Em uma pesquisa relativa ao impacto do tráfego terrestre e aéreo sobre o sono, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já havia admitido que a exposição prolongada a essas fontes de ruídos se revelava nefasta para a saúde.

Implantados a partir de 2010, após uma licença de construção de 2007, em três comunas ou cidades do departamento de Allier, os oito geradores eólicos envolvidos na queixa penal têm 150 m de altura (incluindo as pás) e estão sempre em condições operativas. "Há uma segunda parte do projeto em estudo, mas decidimos bloqueá-la a partir desses novos elementos científicos", diz o presidente daassociação que apresentou a queixa. Ele denuncia mais precisamente a proximidade das habitações: "contrariamente ao que havia sido anunciado, algumas casas se situam a menos de 500 m dos geradores eólicos".

Para o advogado da associação, não se trata simplesmente de uma atitude militante de uma associação que, em princípio, seria contrária à geração eólica, mas de um dossiê relevante sobre saúde pública. "É hora de se abrir o debate. Fizemos a demanda orientados por um especialista que se apoiou no estudo recente da Dra. Lachat. Os poderes públicos devem abordar as instalações eólicas como um empreendimento industrial de risco. Isto é fundamental para os ribeirinhos dessas instalações. Não queremos lançar um debate estético sobre a influência dos geradores eólicos na paisagem. Desejamos dispor de informações sobre um risco sanitário ainda desconhecido".

Os reclamantes esperam que o procurador da República dê seguimento favorável à sua queixa, porque estudos suplementares trazem novos esclarecimentos sobre os riscos dos geradores eólicos para a saúde.

Dados da geração eólica na França: 5,5 GW instalados, cerca de 3.550 geradores eólicos, suprindo 1,9% do consumo da França em 2010.
Um parque eólico francês (Foto: Eolienne Enercon E70).
Um parque eólico residencial alemão em Dardesheim (Foto: Barbara Sax/AFP).
Um parque eólico no mar, ao largo da ilha de Borkum (Alemanha), abril de 2010 (Foto: David Hecker/AFP).

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